quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Capítulo 2 - O circo

O despertador me arrancou de um sono profundo às
4h30 da manhã. O clima ficaria ameno. Os dias no Oregon
raramente eram quentes demais. Algum governante deve ter
aprovado uma lei muito tempo atrás determinando que o
estado teria sempre temperaturas moderadas.

Estava amanhecendo. O sol ainda não havia vencido as

montanhas, mas o céu já estava clareando, dando às nuvens no
horizonte, a leste, um tom cor-de-rosa de algodão-doce. Devia
ter chuviscado durante a noite, porque eu podia sentir um
cheiro agradável de grama molhada.

Pulei da cama, liguei o chuveiro, esperei até o banheiro

ficar quente e cheio de vapor, e então entrei no boxe e deixei a
água quente bater em minhas costas para acordar os músculos sonolentos.

O que se veste para trabalhar num circo? Sem saber o

que seria adequado, pus uma camiseta de mangas curtas e
calça jeans. Depois calcei meus tênis, sequei os cabelos com a
toalha e fiz rapidamente uma trança que amarrei com uma fita
azul. Em seguida apliquei um pouco de brilho labial e voilà:
meu traje de circo estava completo.

Hora de fazer a mala. Imaginei que não ia precisar

levar muita coisa, somente umas poucas peças que me
deixassem confortável, até porque ficaria lá apenas duas
semanas e sempre poderia dar um pulo em casa. Vasculhei o
armário e escolhi três conjuntos de roupas. Abri as gavetas da
cômoda, peguei algumas meias e enfiei tudo em minha
infalível mochila da escola. Então juntei produtos de higiene,
alguns livros, meu diário, algumas canetas e lápis, minha
carteira e as fotos da minha família. Enrolei a colcha de
retalhos, apertei-a por cima de tudo e forcei o zíper até fechar.

Desci a escada com a mochila no ombro. Sarah e Mike

já estavam acordados, tomando o café da manhã. Eles
acordavam absurdamente cedo todos os dias para correr.

- Oi, bom dia, pessoal - murmurei.

- Oi, bom dia para você também - disse Mike. - Está
pronta para começar no emprego novo?
- Estou. Vou vender ingressos e fazer companhia a
um tigre por duas semanas. Não é ótimo?

Ele deu uma risadinha.


- É, parece bem legal. Mais interessante do que a

administração pública, pelo menos. Quer uma carona? Vou
passar pelo parque de exposições a caminho da cidade.

Eu sorri para ele.


- Claro. Obrigada, Mike - respondi.


Com a promessa de ligar para Sarah regularmente,

peguei uma barrinha de cereais, me forcei a engolir meio copo
de leite de soja e me dirigi para a porta com Mike.

Chegando ao parque de exposições, vi uma grande

placa azul na rua anunciando os próximos eventos. Numa
faixa larga e chamativa, lia-se:

O PARQUE DE EXPOSIÇÕES DO CONDADO DE POLK

DÁ AS BOAS-VINDAS AO CIRCO MAURIZIO APRESENTANDO
OS ACROBATAS MAURIZIO E O FAMOSO DHIREN!

Vamos nessa. Suspirei e comecei a percorrer o caminho

de cascalho na direção da construção principal. O complexo
central parecia um grande avião ou um bunker militar. A
pintura estava rachada e descascando em alguns pontos, e as
janelas precisavam ser lavadas. Uma grande bandeira
americana tremulava ao vento, enquanto a corrente à qual
estava presa tilintava suavemente contra o mastro de metal.

O parque de exposições era formado por um estranho

grupo de edifícios antigos, um pequeno estacionamento e um
caminho de terra que serpenteava entre todos os pontos e
cercava o perímetro. Dois caminhões-plataforma compridos
estavam estacionados ao lado de várias tendas de lona branca.
Cartazes do circo pendiam por toda parte - havia pelo menos
um cartaz grande em cada edifício. Alguns retratavam
acrobatas. Outros tinham fotos de malabaristas.

Não vi nenhum elefante e deixei escapar um suspiro de

alívio. Se houvesse elefantes por aqui, eu provavelmente já
teria sentido o cheiro deles.

Um cartaz rasgado esvoaçava na brisa. Peguei-o pela

borda e o alisei sobre o poste. Era a foto de um tigre branco.
Muito prazer!, pensei. Espero que seja só um... e que não goste
de devorar adolescentes.

Abri a porta do edifício principal e entrei. A área

central havia sido transformada em um circo de um só
picadeiro. Fileiras de cadeiras vermelhas estavam empilhadas
junto às paredes.

Havia algumas pessoas conversando em um dos cantos.

Um homem alto, que parecia o encarregado, estava um pouco
afastado do grupo, escrevendo em uma prancheta e
inspecionando caixas. Segui direto para ele e me apresentei.

- Oi, meu nome é Kelsey. Sua funcionária temporária.


Ele me olhou de cima a baixo enquanto mascava

alguma coisa, que então cuspiu no chão.

- Dê a volta por trás, saindo por aquelas portas ali, e

dobre à esquerda. Você vai ver um trailer preto e prateado estacionado.
- Obrigada!

A cusparada de fumo me enojou, mas consegui sorrir

para ele mesmo assim. Segui para o trailer e bati à porta.

- Só um minuto - gritou uma voz masculina.


A porta se abriu inesperadamente rápido e eu dei um

pulo para trás. Um homem de túnica avultou-se à minha
frente, rindo de minha reação. Ele era muito alto, fazendo meu
1,70 metro parecer a estatura de um anão, e tinha uma barriga
proeminente. Cabelos negros e encaracolados cobriam seu
couro cabeludo, mas a linha do cabelo começava um
pouquinho além de onde deveria estar. Sorrindo para mim, ele
ergueu a mão para pôr a peruca no lugar. Um bigode fino e
preto, com as extremidades enroladas em duas pontas finas,
projetava-se acima dos lábios. Também tinha uma barbicha
quadrada no queixo.

- Não se intimide com a minha aparência - disse ele.


Baixei os olhos e fiquei vermelha.


- Não estou intimidada. E que parece que eu o

peguei de surpresa. Desculpe se o acordei.

Ele riu.


- Eu gosto de surpresas. Elas me mantêm jovem e bonito.


Dei uma risadinha, mas a interrompi rapidamente ao

lembrar que era provável que aquele fosse meu novo chefe. Pés
de galinha cercavam seus olhos azuis cintilantes. A pele era
bronzeada, o que destacava o sorriso de dentes brancos e
grandes. Ele parecia o tipo de homem que estava sempre rindo
de uma piada que só ele sabia qual era.

Com uma ribombante voz teatral, com forte sotaque

italiano, ele perguntou:

- E quem seria você, jovem?


Sorri, nervosa.


- Oi. Meu nome é Kelsey. Fui contratada para

trabalhar aqui por algumas semanas.

Ele se inclinou para me cumprimentar. A mão dele

envolveu completamente a minha e ele a sacudiu para cima e
para baixo, com entusiasmo suficiente para fazer meus dentes chacoalharem.

- Ah, stupendo! Que oportuno! Bem-vinda ao Circo

Maurizio! Estamos um pouco... como se diz, com pouca mão de
obra, e precisamos de alguma assistenza enquanto
permanecermos em sua magnifica città. É esplêndido tê-la
aqui! Vamos começar all’istante.

Ele olhou para uma garota loura bonita, de uns 14

anos, que estava passando.

- Cathleen, leve esta giovane donna para Matt e

diga-lhe que está incaricato de treiná-la hoje. - Voltou-se
novamente para mim. - Prazer em conhecê-la, Kelsey. Espero
que te piacia, ah, que você goste de trabalhar aqui em nossa
piccola tenda di circo!
- Obrigada. Foi um prazer conhecê-lo também - repliquei.

Ele piscou para mim, então deu meia-volta, entrou em

seu trailer e fechou a porta.

Cathleen sorriu e me levou, dando a volta no edifício,

até os alojamentos do circo.

- Bem-vinda ao grande... é, bem, pequeno circo!

Venha comigo. Poderá dormir na minha tenda, se quiser. Tem
algumas camas extras lá. Minha mãe, minha tia e eu dividimos
o espaço. Viajamos com o circo. Minha mãe e minha tia são
acrobatas. Nossa tenda é legal, se puder ignorar todos aqueles
trajes de espetáculo.

Ela me levou até sua tenda. Guardei a mochila debaixo

da cama vaga e olhei à minha volta. Ela tinha razão sobre os
trajes. Rendas, lantejoulas, penas e peças de lycra cobriam
todas as superfícies da tenda espaçosa. Havia também uma
mesa espelhada e iluminada com maquiagem, escovas de
cabelo, grampos e bobes espalhados sobre cada centímetro
quadrado da superfície.

Em seguida, encontramos Matt, que parecia ter 14 ou

15 anos. Tinha cabelos castanhos e curtos, olhos também
castanhos e um sorriso despreocupado. Estava tentando montar
sozinho uma barraca de venda de ingressos - sem sucesso.
- Oi, Matt - disse Cathleen, enquanto segurávamos a
base da barraca para ajudá-lo.

Ela enrubesceu. Que gracinha.


- Esta é a Kelsey - continuou Cathleen. - Vai ficar

aqui duas semanas. É você quem vai explicar tudo a ela.
- Sem problemas - disse ele. - Até já, Cath.
- Até.

Ela sorriu e se foi.


- Então, Kelsey, acho que vai ser minha assistente

hoje. Você vai adorar - disse ele, brincando comigo. - Eu cuido
das barracas de ingressos e de souvenirs, e também sou o
lixeiro e o estoquista. Basicamente, faço tudo que precisa ser
feito por aqui. Meu pai é o domador dos animais.
- Que emprego legal o dele - repliquei. - Bem, pelo
menos parece melhor do que lixeiro.

Matt riu.


- Vamos ao trabalho! - disse ele.


Passamos as horas seguintes arrastando caixas,

reabastecendo as barracas e preparando tudo para o público.

Ai, estou fora deforma, pensei enquanto meus bíceps protestavam.


Papai costumava dizer que o trabalho duro mantém

você centrado sempre que mamãe inventava um projeto novo e
árduo, como plantar um jardim. Ele era infinitamente paciente
e, quando eu me queixava do trabalho extra, ele se limitava a
sorrir e dizer: "Kells, quando você ama alguém, aprende a dar e
receber. Um dia isso vai acontecer com você."

Por algum motivo, eu duvidava de que essa fosse uma

daquelas situações.

Quando estava tudo pronto, Matt me mandou até

Cathleen para que eu me trocasse e vestisse uma roupa do
circo - que vinha a ser dourada e brilhante, algo de que eu
normalmente não teria nem me aproximado.

É melhor que este emprego valha o sacrifício,

murmurei baixinho, enfiando a cabeça pela gola cintilante.

Vestida em meu novo traje, fui até a barraca de

ingressos e vi que Matt havia instalado a tabuleta de preços. Ele
me aguardava com instruções, uma caixa com chave e os
ingressos. Também havia me trazido uma sacola com o almoço.

- É hora do espetáculo. Coma isto depressa. Os

ônibus de um acampamento infantil estão a caminho.

Antes que eu pudesse terminar de comer, as crianças do

acampamento avançaram sobre mim em uma estridente
confusão. Meu sorriso de atendimento ao cliente
provavelmente parecia mais uma careta assustada. Não havia
para onde eu correr. Elas me cercavam por todos os lados, cada
uma gritando por atenção.

Os adultos se aproximaram e eu perguntei, esperançosa:


- Vocês vão pagar por todos os ingressos de uma vez?

- Ah, não - respondeu um dos professores. -
Decidimos deixar cada criança comprar o próprio ingresso.
- Ótimo - murmurei com um sorriso amarelo.

Cathleen logo se juntou a mim e trabalhamos até

ouvirmos a música do início do espetáculo. Fiquei ali sentada
por mais uns 20 minutos, mas ninguém apareceu, então
tranquei a caixa do dinheiro e encontrei Matt dentro da tenda
assistindo ao espetáculo.

O homem que eu conhecera mais cedo naquela manhã

era o apresentador.

- Qual é o nome dele? - perguntei a Matt em um

sussurro.
- Agostino Maurizio - respondeu ele. - É o dono do
circo e os acrobatas são todos da família dele.

O Sr. Maurizio chamou os palhaços, os acrobatas e os

malabaristas, e comecei a me divertir com o espetáculo. Logo
depois, porém, Matt me cutucou e me indicou a barraca de
souvenirs. O intervalo ia começar em breve: hora de vender
balões de gás.

Juntos, enchemos dezenas de balões multicoloridos

usando um tanque de hélio. As crianças estavam frenéticas!
Corriam por todas as barracas e contavam suas moedas,
querendo gastar cada centavo.

Matt recebia o dinheiro enquanto eu enchia os balões.

Eu nunca tinha feito aquilo antes e estourei alguns, o que
assustou as crianças, mas tentei transformar os estouros
ruidosos em uma brincadeira, gritando "Ooopa!" todas as vezes
que isso acontecia. Logo, logo todas elas estavam gritando
"Ooopa!" junto comigo.

A música recomeçou e as crianças correram de volta

aos seus lugares, agarradas a suas diversas aquisições. Vários
meninos haviam comprado espadas que brilhavam no escuro e
agora as agitavam no ar, ameaçando uns aos outros
alegremente.

Quando nos sentamos, o pai de Matt entrou no

picadeiro para fazer seu número com os cães. Então foi
novamente a vez dos palhaços, que fizeram várias brincadeiras
com membros da plateia. Um deles jogou um balde de confete
sobre as crianças.

Maravilha! Provavelmente vou ter que varrer tudo isso.


Em seguida, o Sr. Maurizio reapareceu. Uma dramática

música de safári começou a tocar e as luzes do circo se
apagaram. Apenas um holofote iluminava o apresentador no
centro do picadeiro.

- E agora... o ponto alto do nosso spettacolo! Ele foi

tirado das selvas da índia e trazido aqui para os Estados
Unidos. É um caçador feroz que espreita sua presa na floresta,
atento, esperando o momento certo, e então... salta para o ataque!

Enquanto ele falava, homens trouxeram uma jaula

grande e redonda. Tinha o formato de uma tigela gigante
emborcada, com um túnel de arame acoplado a um dos lados.
Eles a deixaram no centro do picadeiro e prenderam cadeados
em anéis de metal engastados em blocos de cimento.

O Sr. Maurizio prosseguiu. Ele rugia no microfone e as

crianças todas pulavam em suas cadeiras. Dei risada dos
movimentos teatrais do Sr. Maurizio. Ele era um bom contador
de histórias.

- Este tigre é um dos predadores mais perigosos do

mundo inteiro! - afirmou ele. - Observem com atenção nosso
domador arriscar sua vida para lhes trazer... Dhiren!

Ele jogou a cabeça para a direita e então deixou o palco

correndo enquanto o foco do holofote deslizava para as abas
da lona na extremidade da construção. Dois homens haviam
arrastado até ali um antigo vagão de animais.

O vagão tinha um teto branco, curvo e de bordas

douradas, grandes rodas pretas pintadas de branco nas
extremidades e raios ornamentais esculpidos que haviam sido
pintados de dourado. Barras de metal pretas subiam de ambos
os lados do vagão formando um arco no alto.

Uma rampa saindo da porta foi presa ao túnel de arame

no momento em que o pai de Matt entrou na jaula. Ali dentro,
ele arrumou três banquetas. Vestia um traje dourado
impressionante e brandia um chicote curto.

- Soltem o tigre! - ordenou.


As portas do vagão se abriram e um homem cutucou o

animal pelo lado de fora. Prendi a respiração quando um
enorme tigre branco surgiu, desceu a rampa e entrou no túnel.
Um instante depois, ele estava na jaula grande, com o pai de
Matt. O chicote estalou e o tigre saltou para uma banqueta.
Outra chicotada e o tigre se ergueu nas patas traseiras,
arranhando o ar com suas garras. A multidão irrompeu em aplausos.

O tigre saltou de banqueta em banqueta enquanto o pai

de Matt seguia afastando as banquetas cada vez mais. No
último salto, prendi a respiração. Eu não tinha certeza se o
tigre conseguiria alcançar a banqueta seguinte, mas o pai de
Matt o encorajava. Retesando-se, o animal se abaixou, avaliou
cuidadosamente a distância e então saltou, transpondo o espaço.

Seu corpo inteiro se manteve no ar durante vários

segundos, com as pernas estiradas à frente e atrás. Era um
animal magnífico. Alcançou a banqueta com as patas
dianteiras e pousou as patas traseiras graciosamente. Virando-
se no pequeno banco, ele girou o corpo imenso com facilidade
e se sentou de frente para o domador.

Aplaudi por muito tempo, totalmente impressionada

com a grande fera.

O tigre rugiu a um comando, ergueu-se nas patas

traseiras e agitou as patas dianteiras no ar. O pai de Matt
gritou mais um comando. O tigre desceu da banqueta com um
salto e correu em círculo pela jaula. O domador fez o mesmo,
mantendo os olhos fixos no animal. Ele segurava o chicote logo
atrás da cauda do tigre, estimulando-o a continuar correndo.
O pai de Matt fez um sinal e um rapaz passou uma grande
argola pelas grades da jaula. O tigre saltou por ela, então
virou-se rapidamente e repetiu o salto várias vezes.

O último número do domador foi pôr a cabeça dentro

da boca do tigre. Uma onda de silêncio envolveu a multidão e
Matt retesou-se. O tigre abriu a boca enorme. Vi os dentes
afiados e me inclinei para a frente, preocupada. O pai de Matt
aproximou lentamente sua cabeça do tigre. O animal piscou
algumas vezes, mas manteve-se firme, e suas poderosas
mandíbulas escancararam-se ainda mais.

O pai de Matt baixou a cabeça, enfiando-a na boca do

tigre. Após alguns segundos, ele tirou a cabeça devagar.
Quando estava livre e já havia se afastado do tigre, o público
aplaudiu, enquanto ele se curvava várias vezes, agradecendo.
Outros ajudantes apareceram para ajudar a levar a jaula.

Meus olhos foram atraídos para o tigre, que agora

estava sentado em uma das banquetas. Vi que ele movia a
língua, franzindo a cara, como se farejasse algo curioso. Quase
parecia que ele estava engasgado, como um gato que engole
uma bola de pelos. Então ele se sacudiu e ficou ali calmamente
sentado.

O pai de Matt ergueu as mãos e ganhou mais aplausos.

O chicote tornou a estalar e o tigre saltou da banqueta, voltou
correndo pelo túnel, subiu a rampa e entrou em seu vagão. O
pai de Matt saiu correndo do picadeiro e desapareceu atrás da
cortina de lona.

- O Grande Dhiren! - gritou o Sr. Maurizio

dramaticamente. - Mille grazie! Muitíssimo obrigado por
virem ao Circo Maurizio!

Quando a jaula do tigre passou diante de mim, tive

uma vontade súbita de acariciar-lhe a cabeça e confortá-lo. Eu
não sabia se tigres podiam demonstrar emoções, mas por
algum motivo eu tinha a impressão de que podia sentir seu
estado de espírito. Parecia melancólico.

Exatamente nesse momento, uma brisa suave me

envolveu com o perfume de jasmim e de sândalo,
sobrepujando o forte aroma de pipoca com manteiga e
algodão-doce. Meu coração disparou enquanto um arrepio
percorria meus braços. Mas, tão rápido quanto veio, o cheiro
delicioso desapareceu e senti um inexplicável vazio na boca do
estômago.

As luzes se acenderam e as crianças começaram a sair

em debandada da arena. Meu cérebro ainda estava
ligeiramente confuso. Devagar, levantei-me e me virei para
fitar a cortina atrás da qual o tigre havia desaparecido. Um
leve vestígio de sândalo e uma sensação inquietante persistiam.

Ah! Devo ter algum transtorno mental.


O espetáculo havia acabado e eu estava completamente louca.


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