quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 13 - Infeliz reaparecimento


  Em frente à delegacia, a rua estava completamente atravancada pelos
veículos da televisão, das rádios e dos jornais de São Paulo, além da multidão de
curiosos que sempre aparece nessas horas.

— Acharam! Enfim encontraram!

— Quem?

— Um dos meninos desaparecidos. O Ricardinho Medeiros Tremembé!

— Encontraram? Que bom!

— Bom? Bom coisa nenhuma! O menino está morto!

  A sala da delegacia, cercada por sofás de couro já bem gasto, parecia
minúscula para tanta gente. Depois de muita insistência, os jornalistas tinham
conseguido uma entrevista coletiva.
  Envolvido e empurrado pelos repórteres, o detetive Andrade estava meio 
cego pelos refletores da televisão e pelos flashes das máquinas fotográficas. Os
repórteres enfiavam-lhe microfones junto ao rosto, todos esperando alguma
grande revelação:

— O Ricardinho estava com tiros pelo corpo inteiro, não é?

— Ouvimos dizer que os pulsos do menino estavam amarrados com arame, é
verdade?

— Isso não está parecendo uma execução feita pelo Esquadrão da Morte,
detetive Andrade?

— O senhor acha que há gente da própria polícia envolvida nesses crimes?

Andrade suava como nunca e se sentia sufocado por aquele abafamento:

— Não! Acho que isto não tem nenhuma ligação com o Esquadrão da Morte!

— Será que o menino pertencia a alguma quadrilha?

— A polícia acha que os outros desaparecidos vão ser assassinados também?

— Nada disso! Estamos trabalhando dia e noite e logo vamos encontrar todos
eles...

  Do fundo da sala veio a pergunta de um repórter recém-chegado:

— É verdade que desapareceram mais dois garotos do Colégio Elite?

  Aquela era uma novidade, e uma novidade capaz de aumentar ainda mais a
fervura daquela sala:

— Como?!

— Mais dois?

— Quem?

— O Miguel, o presidente do Grêmio do Elite. E mais um, que chamam de
Calú!

— O que a polícia tem a informar sobre isso, detetive Andrade?

— Calma, calma! Estamos investigando. Vai ver os dois garotos só saíram
para uma farrinha e logo...

— Para uma farrinha?! — interrogou alguém. — Mas nós ouvimos dizer que
havia um desconhecido na casa do Calú. Alguém que se fazia passar por um
criado.

— É isso mesmo! — confirmou outro. — Dizem que era um sujeito de óculos,
de bochechas grandes...

Andrade não sabia o que responder. Não sabia mais o que fazer para acalmar
aquele tumulto.

— Estamos investigando, estamos investigando...

* * *

  Quando Andrade finalmente conseguiu livrar-se da imprensa, viu-se
novamente envolvido por outra multidão. Eram os pais e os advogados dos
estudantes desaparecidos. A morte de Ricardinho levara aquelas pessoas ao
desespero. Cada um imaginava que o seu filho seria o próximo a aparecer
baleado no meio de algum monte de lixo. Todos exigiam providências da polícia
e Andrade escapou por pouco de ser agredido por uma das mães mais nervosas.
Quando conseguiu fechar uma porta atrás de si e deixar toda aquela confusão
do outro lado, Andrade estava exausto como um jogador de futebol depois de
uma final de campeonato.
  À sua frente, porém, o detetive Rubens parecia pronto para ir a um
casamento. Seu terno permanecia impecável e seu cabelo não tinha um fio fora
do lugar.

— Como é, Andrade? Tudo bem com a entrevista à imprensa?

  O palavrão que ia começar a ser dito por Andrade foi interrompido pela
entrada do médico legista:

— Já terminei a autópsia, detetive Andrade.

  Os dois detetives voltaram-se ansiosos para o médico:

— Qual a conclusão, doutor?

— A que horas ocorreu a morte?

  O médico começou a falar:

— A vítima morreu ontem, entre 16 e 18 horas, mais ou menos...

— Quer dizer que balearam o garoto ontem à noite?

— Não, eu não disse isso — desmentiu o médico. — Ele morreu ontem à
tarde, mas...

— Caramba! — exclamou Andrade. — Quer dizer que, baleado daquele
jeito, o Ricardinho ainda demorou a morrer?

— Eu também não disse isso.

  A paciência de Andrade já tinha acabado, e ele berrou com o médico do
jeito que gostaria de ter gritado com os repórteres:

— E o que é que o senhor disse, exatamente, doutor? Já estou cansado desse
jogo de adivinhações!

— Eu disse que o menino morreu à tarde, mas não morreu por causa dos
tiros. Ele foi baleado depois de morto!

— Barbaridade! — Andrade deixou-se cair numa cadeira. Aquela era
demais! — Os malditos estão brincando com a gente.Estão fazendo
a gente perder tempo. Quiseram fazer crer que esta era uma execução
do Esquadrão da Morte. E todo mundo sabe que o Esquadrão da Morte
é coisa de policiais corruptos que matam gente por dinheiro. Esses bandidos
querem jogar a opinião pública contra a polícia!

— E parece que já conseguiram, não é, Andrade? 
Andrade não respondeu à provocação do detetive Rubens. A prioridade era outra:

— E qual foi a causa mortis, doutor? O médico parecia confuso:

— O senhor não vai acreditar, Andrade. O garoto morreu em consequência
de um esforço físico exagerado. O coração dele não aguentou!

— Como?!

— O Ricardinho morreu de exaustão, detetive Andrade!

O barulho das chaves sendo manipuladas traduzia o nervosismo de todos eles.

14 comentários:

  1. this book is very good , I liked it thank who wrote this summary

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor

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    2. Obrigada por publicarem , pq daqui a 4 dias terei um teste de livro e sem consulta

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  4. O livro é muito bom!!! Muito obrigada por publicarem, eu tenho uma semana antes da prova e precisava muito ler.

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  5. peguei um livro com paginas rancadas dai eu li aqui

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