quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 6 - Um encontro inesperado


— O que está fazendo por aqui, garoto? — perguntou o detetive Andrade,
saltando do carro e segurando Miguel pelo braço. — O que você quer nesta casa?

— Eu? Nada... — respondeu Miguel, tentando livrar-se do aperto.

— Você não sabe que casa é esta? Vamos, responda!

O detetive Rubens colocou-se entre os dois. Afastou Andrade firmemente
com uma das mãos e passou o outro braço em torno dos ombros de Miguel.

— Calma, Andrade. Deixe o garoto comigo.

— Não se meta, Rubens. Eu quero saber o que esse moleque está fazendo
aqui. Esta é a casa daquele garoto que desapareceu lá do Dante. Eu quero saber...

Miguel tentou manter a cabeça no lugar. Percebeu que o jeito era bancar o
garoto assustado:

— Eu... eu não sabia. O que é que tem essa casa? Eu ia falar com um amigo
que...

— Ah, é? — gozou Andrade. — E você também estava visitando amiguinhos
quando foi fazer perguntas na casa daquela menina que desapareceu do Equipe?
E na casa daquele garoto que sumiu do Vera? Hein? Responda!

  Por um instante Miguel não soube o que responder. Ele estava sendo seguido
o tempo todo! Por quê? Será que Magrí, Calú e Crânio também estavam sendo
seguidos? Era preciso pensar depressa. Se a polícia desconfiava dele, era por
causa de alguma coisa que ele tinha dito ou feito no interrogatório lá na sala do
professor Cardoso, o diretor do Elite. Então não haveria razão para desconfiar dos
outros três, a menos que a polícia soubesse da existência dos Karas. Impossível!
Ou não? Ou... teria o Chumbinho aberto o bico?
  Aos poucos, a voz calma do detetive Rubens trouxe de novo o líder dos Karas
à realidade:

— Desculpe, Miguel, mas é verdade. Você andou visitando as casas de dois
dos garotos desaparecidos. Nós sabemos. Por quê? O que você tem a ver com
isso?

— Nada. É que...

Pela primeira vez Miguel estava atordoado. Sua presença de espírito, tão
brilhante em situações inesperadas, não lhe trazia qualquer inspiração.
Andrade não estava para brincadeiras:

— Você não acha suspeitas essas suas visitinhas, garoto? Logo quando um
colega seu também sumiu?

— O senhor está enganado. Eu vim...

— Garoto, acho melhor me acompanhar até à delegacia. Acho que temos
umas coisinhas a esclarecer.

— Espera aí, Andrade — interrompeu Rubens. — O rapaz é menor. Você
não pode...

— Posso. Eu não estou prendendo o garoto. Estou apenas querendo interrogar
uma possível testemunha.

— Está bem, Andrade — concordou o detetive Rubens com um suspiro
resignado. — Vamos, então.

Andrade abriu a porta da viatura e empurrou Miguel para dentro.

— Você fica, Rubens. A bicicleta do garoto não cabe no carro. Fique aqui
com ela. Eu mando uma viatura maior para buscar você e a bicicleta.
O rosto do detetive Rubens alterou-se:

— Nada disso, Andrade. Eu vou também. Faço questão...

— Quem está comandando este caso sou eu. Você fica, Rubens!

Andrade bateu a porta e arrancou. O guincho dos pneus deixou para trás o
detetive Rubens e a bicicleta de dez marchas de Miguel.

* * *

Andrade dirigia calmamente, sem usar a sirene, e parecia mais controlado.

— Fique tranquilo, Miguel. Não precisa ter medo de nada. Desculpe o mau
jeito, mas às vezes um policial precisa agir depressa. Eu queria falar a sós com
você.

  Sentado ao lado do detetive, Miguel pensou na única saída que lhe restava.
Era arriscado, mas seu instinto o aconselhava a agir depressa.
  Andrade nem pegou o microfone do carro para chamar pelo rádio uma
viatura que viesse buscar o detetive Rubens e a bicicleta de Miguel. Nada disso.
Dirigia devagar e falava com a maior calma do mundo:

— Tenho só uma perguntinha, Miguel. Por que você não deixou aquele
menino falar, lá na sala do diretor?

— O Chumbinho? Eu não disse nada...

— Não, você não falou. Mas, de algum modo, você fez com que o garoto
calasse a boca. Não sei como você fez, mas meus longos anos de polícia permitem 
que eu perceba pequenas coisas que não é todo detetive que percebe.

  Miguel se sentiu cercado. Todos os seus passos e até os seus gestos de
comando como líder dos Karas eram do conhecimento de Andrade!
  O carro da polícia começou a subir uma ladeira e o detetive teve de diminuir
ainda mais a marcha.

— Eu não mandei o Chumbinho calar a boca — afirmou Miguel já com a
mão direita na maçaneta da porta. — Pode perguntar a ele.

— Gostaria muito de falar com o Chumbinho, Miguel. Só que agora não é
mais possível...

— Não é possível? Por quê?

— Porque o Chumbinho também desapareceu!

O impacto daquela notícia terrível apressou a decisão de Miguel. O carro
estava em marcha lenta quando ele abriu a porta e jogou-se no asfalto, rolando
para longe da viatura policial.

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