quinta-feira, 6 de março de 2014

Capítulo 22 - Saída


O vento gritava à nossa volta enquanto mergulhávamos em 
queda livre pelo céu, girando como a casa de Dorothy no centro do 
tornado. Kishan conseguiu nos estabilizar numa posição de bruços. 
Ele segurou meus pulsos e abriu nossos braços em um arco. Menos de 
um segundo após nos estabilizarmos, ouvimos um grito acima de nós. 
Um pássaro de ferro estava em nosso encalço. 

Kishan ergueu meu braço esquerdo no ar e demos uma 
violenta guinada para a direita, ganhando velocidade. O pássaro nos 
seguiu. Kishan ergueu nossos braços direitos e oscilamos para a 
esquerda. O pássaro agora estava em cima de nós. 

- Segure-se, Kells! - gritou Kishan. 


Ele puxou nossos braços de volta e inclinou nossa cabeça para 
baixo. Disparamos adiante como uma bala. O pássaro dobrou as asas 
e mergulhou conosco. 

- Vou nos virar! Tente atingi-lo com um raio! Pronta? 



Assenti e Kishan nos fez girar no ar. Agora estávamos de costas 
para o chão e eu tinha uma excelente visão da barriga do pássaro. 
Rapidamente, disparei uma sucessão de raios e consegui irritá-lo o 
suficiente para nos livrar dele. Errei o olho, mas acertei o bico. O 
pássaro não gostou nada disso, bateu asas e se afastou, gritando, 
furioso. 

- Segure-se! 


Kishan tornou a nos virar e nos estabilizou mais uma vez. Ele 
puxou o cordão de abertura e ouvi o tecido deslizando ao ser liberado 
no vento. Com um estalido, quando ele se abriu o paraquedas do 
Lenço se abriu e se inflou. Kishan apertou os braços em minha cintura 
e desacelerou nossa descida. Então me soltou para agarrar os 
batoques e controlar as linhas direcionais. 

- Tente mirar no estreito entre as duas montanhas! - berrei. 


O grito horrível que ouvimos indicava que os pássaros haviam 
nos encontrado. Três deles começaram a nos rondar, procurando nos 
prender com as garras e os bicos. Tentei usar meu poder do raio, mas 
era muito difícil atingi-los nos olhos dessa distância. Em vez disso, 
abri a mochila e peguei o arco. 

Kishan adernou para a esquerda e eu disparei uma flecha. Ela 
passou zumbindo acima da cabeça de um dos pássaros. A segunda 
flecha acertou-lhe o pescoço e, imbuída com o poder do raio, 
eletrocutou o pássaro, que despencou, ferido. Um outro nos atingiu 
com sua asa afiada, fazendo-nos rodopiar, mas consegui irritá-lo o 
suficiente para que se afastasse, voando em outra direção. 

O terceiro pássaro foi esperto. Ele circundou minha linha de 
visão a fim de permanecer atrás de nós o máximo possível. Quando 
atacou, abriu um grande buraco no tecido com as garras. O 
paraquedas danificado nos lançou em outra queda livre. Kishan 
tentou nos guiar, mas o vento sacudia violentamente o velame 
rasgado. 

De repente o paraquedas começou a se consertar sozinho. Os 
fios se entrelaçavam de um lado a outro no tecido até parecer que o 
Lenço jamais havia sido danificado. Quando ele se inflou novamente, 
Kishan puxou o batoque para nos conduzir na direção correta. 


O pássaro furioso reapareceu e conseguiu se esquivar de 
minhas flechas. Seus gritos estridentes foram respondidos por outros. 

- Temos que pousar! 
- Estamos quase lá, Kells! 


Pelo menos uma dezena de aves vinha a toda velocidade em 
nossa direção. Teríamos sorte se sobrevivêssemos tempo o bastante 
para alcançar o solo. O bando circulava, gritando, batendo as asas e 
estalando os bicos. 

Estávamos quase lá. Se pudéssemos agüentar mais alguns 
segundos... Um pássaro veio direto para cima de nós. Ele era rápido e 
não o vimos até o último momento. A criatura abriu o bico para nos 
partir em dois. Eu podia quase ouvir o ruído dos meus ossos sendo 
triturados, imaginando a ave de metal me cortando ao meio. 

Disparei várias outras flechas, mas errei todas. O vento de 
repente nos virou e eu nada podia fazer na nova posição. Kishan 
manobrou o paraquedas, conduzindo o velame numa perigosa 
descida e numa curva fechada. Fechei os olhos e senti um solavanco 
quando nossos pés tocaram a terra sólida. 

Kishan deu alguns passos, correndo, e então me empurrou de 
cara na grama. Ele se deitou em cima de mim enquanto 
freneticamente nos livrava do cordame. 

- Mantenha a cabeça abaixada, Kells! 


O pássaro estava bem em cima de nós. Ele deu uma bicada no 
paraquedas e puxou, partindo-o ao meio. Encolhi-me ao ouvir o ruído 
medonho do tecido especial sendo rasgado. Frustrado, o pássaro 
largou o para-quedas e nos circundou, preparando-se para outro 
ataque. Kishan se libertou, pegou o chakram na mochila e o lançou, 
enquanto eu me agachava e recolhia as dobras do paraquedas. 

- Por favor, se reconstitua. 


Nada aconteceu. Kishan tornou a atirar o chakram. 

- Uma ajudinha aqui, Kells! 


Lancei algumas flechas e, com o canto do olho, vi o tecido se 
mover. Ele começou a se reconstituir, lentamente a princípio e, em 
seguida, cada vez mais rápido. Então encolheu, voltando ao tamanho 
original. 


- Distraia-os mais um pouco, Kishan. Eu sei o que fazer! 


Peguei o tecido e disse: 

- Recolha os ventos. 


Os desenhos foram substituídos, as cores mudaram e o Lenço 
cresceu. Retorcendo-se sobre si mesmo, ele se inflou e se esticou, 
criando uma grande sacola que se abriu na brisa. Uma forte rajada de 
vento atingiu meu rosto e fluiu para o interior da sacola. Quando ele 
perdeu intensidade, outro vento me fustigou o corpo por trás e 
começou também a encher a sacola. Logo, ventos vindos de todas as 
direções estavam me castigando. Eu me sentia golpeada por todos os 
lados e mal conseguia segurar a sacola cheia de ventos poderosos. 

Por fim, as rajadas cessaram, de modo que eu não sentia nem 
mesmo a mais leve brisa, mas a sacola se agitava com violência. 
Kishan estava cercado por 10 pássaros e mal conseguia mantê-los à 
distância com o chakram. 

- Kishan! Fique atrás de mim! 


Ele levou o braço para trás e, com um poderoso impulso, 
soltou o chakram. Enquanto a arma girava no ar, ele correu para mim, 
agarrou a sacola do outro lado e pegou o chakram segundos antes de 
ele me decapitar. 

Ergui uma sobrancelha enquanto ele sorria. 

- Muito bem. Pronto? - gritei. - Um, dois, três! 


Abrimos a sacola e liberamos todos os ventos de Shangri-lá na 
direção dos pássaros. Três deles foram lançados contra a montanha 
enquanto os outros dispararam na direção da árvore do mundo, 
tentando desesperadamente escapar do tumulto. 

Quando os ventos cessaram, a sacola vazia pendeu flácida 
entre nós. Kishan me olhava, sem acreditar. 

- Kelsey. Como você... - disse ele, antes de sua voz falhar. 
- Lenço, por favor. 


A sacola se moveu e se contorceu, tornou-se azul-clara e 
dourada, e então encolheu, transformando-se novamente em Lenço. 
Eu o enrolei no pescoço e joguei a ponta sobre o ombro. 

- A resposta é: não sei. Quando Hugin e Munin clarearam 
nossa mente, eu me recordei de histórias e mitos que já ouvira antes. 



Lembrei-me de coisas que a Divina Tecelã nos contou e também de 
especulações do Sr. Kadam. Ele tinha me contado a história de um 
deus japonês chamado Fujin, que controlava os ventos e os carregava 
numa sacola. Eu também sabia que esse tecido era especial, como o 
Fruto Proibido. 
- Hum. 
- Talvez tudo estivesse em minha mente todo o tempo ou 
talvez Hugin tenha soprado essas coisas em meus pensamentos. Não 
tenho certeza. Sei que o Lenço pode fazer mais alguma coisa, algo que 
vai nos ajudar a salvar Ren, mas temos que sair daqui antes que os 
pássaros retornem. Aí então eu mostro a você. 
- Tudo bem, mas primeiro tem uma coisa que eu preciso 
fazer. 
- O que é? 
- Isto. 


Ele me puxou de encontro ao seu corpo e me beijou. De 
verdade. Sua boca se movia sobre a minha com paixão. O beijo foi 
rápido, turbulento e voraz. Ele me apertava, uma das mãos apoiando 
minha cabeça enquanto a outra me segurava com firmeza pela 
cintura. Ele me beijou ferozmente, com uma impulsividade a que eu 
não podia pôr fim, do mesmo jeito que não é possível deter uma 
avalanche. 

Se você é apanhado numa avalanche, tem duas escolhas: ficar 
parado e tentar bloqueá-la ou se entregar, rolar com ela e torcer para 
chegar vivo lá embaixo. Assim, rolei com o beijo de Kishan. Por fim, 
ele levantou a cabeça, me rodopiou e deu um jubiloso grito de vitória 
que ecoou nos morros ao redor. 

Quando finalmente me colocou no chão, precisei recuperar o 
fôlego. Ar- quejando, perguntei: 

- Qual foi o motivo disso? 
- Só estou feliz por estar vivo! 
- Certo. Mas da próxima vez guarde seus lábios para si 
mesmo. 


Ele suspirou. 

- Não fique aborrecida, Kells. 



- Eu não estou aborrecida. Eu... eu não sei o que pensar 
sobre isso. Aconteceu tudo rápido demais para que eu sequer 
reagisse. 


Um sorriso maroto iluminou seu rosto. 

- Prometo ir mais devagar da próxima vez. 
- Que próxima vez? 


Ele franziu ligeiramente a testa. 

- Não precisa fazer uma tempestade por causa disso. É só 
uma reação natural ao fato de ter escapado por pouco da morte. E 
como quando os soldados voltam da guerra e agarram uma garota 
para beijar assim que desembarcam. 
- É, talvez, mas a diferença é que esta garota estava no 
barco com você - repliquei, com ironia. - Fique à vontade para agarrar 
qualquer garota que quiser quando voltarmos à terra, marinheiro, 
mas esta aqui não quer saber de agarramento. 


Ele cruzou os braços diante do peito. 

- É mesmo? Suas mãos estavam bem ativas, se quer saber. 
- Se minhas mãos estavam em você - devolvi, indignada -, 
era para empurrá-lo! 
- Se é isso que você precisa dizer a si mesma para ter a 
consciência limpa no fim do dia, tudo bem. Você só não quer admitir 
que gostou. 
- Humm, deixe-me ver. Tem razão, Casanova. Eu gostei, 
sim. Quando acabou? 


Ele sacudiu a cabeça. 

- Você é teimosa. Não é de admirar que Ren tenha tido 
tantos problemas. 
- Como você ainda se atreve a mencionar seu irmão? 
- Quando vai encarar os fatos, Kells? Você gosta de mim. 
- Não estou gostando tanto assim de você agora! Será que 
podemos voltar para o portão do espírito e esquecer essa conversa? 
- Sim. Mas vamos retomar o assunto mais tarde. 
- Quem sabe no dia que Shangri-lá congelar. 


Ele apanhou a mochila e sorriu. 

- Posso esperar até lá. Você primeiro, bilauta. 



- Ladrão de beijos - murmurei. 


Ele sorriu com malícia e ergueu uma sobrancelha. Andamos 
durante várias horas. Kishan tentava conversar comigo, mas eu, 
teimosamente, me recusava a notar sua existência. 

O problema com o que aconteceu entre nós era... que ele não 
estava errado. A essa altura, eu havia passado mais tempo com ele do 
que com Ren e vínhamos vivendo sob o mesmo teto havia meses. 
Tínhamos atravessado Shangri-lá, passando dias e noites juntos nas 
últimas semanas. 

Um contato diário assim cria um nível de proximidade, uma... 
intimidade entre duas pessoas. Kishan estava apenas mais disposto do 
que eu a reconhecer esse fato. Não era de surpreender que ele, que já 
admitira sentir algo por mim, estivesse começando a se sentir 
confortável em expressar esses sentimentos. A questão era que isso 
não me aborrecia tanto quanto deveria. Beijar Kishan não era como 
beijar Artie ou Jason, nem mesmo Li. 

Quando beijei Li, eu me senti no controle. Tampouco era 
como beijar Ren. Ren era como uma incrível cachoeira na selva - 
espumando e reluzindo à luz do sol. Ele era um paraíso exótico à 
espera de ser descoberto. Kishan era diferente. Kishan era um rio 
tempestuoso e turbulento - rápido, imprevisível e não navegável 
mesmo para o mais hábil dos aventureiros. Os irmãos eram ambos 
maravilhosos, fascinantes e poderosos, mas beijar Kishan era 
perigoso. 

Perigoso não como com os homens-sereia; com esses 
simplesmente parecia haver alguma coisa errada. Se eu fosse honesta 
comigo mesma, não acharia ruim beijar Kishan. Na verdade, era bom, 
como uma versão mais selvagem e ardente de Ren. Com Kishan, era 
como se eu houvesse literalmente pegado um tigre pelo rabo e ele 
estivesse pronto a me atacar e me arrastar. Não era uma idéia de todo 
desagradável e essa era a parte que me perturbava. 

É claro, estou separada há muito tempo do meu namorado, eu 
tentava racionalizar meus sentimentos. Kishan é a segunda melhor 
opção e eu só estou com saudade do meu tigre. Tenho certeza de que 


é só isso. Deixei que esses pensamentos me confortassem enquanto 
caminhávamos. 

Como Ren, Kishan tinha um talento para usar seu charme para 
se livrar dos problemas mais difíceis. Em pouco tempo ele me fez 
esquecer completamente que estava chateada com ele. 

Quando o fim da tarde se transformou em crepúsculo, 
decidimos montar acampamento para passar a noite. Eu estava 
exausta. 

- Você fica com o saco de dormir, Kells. 
- Não precisa. Veja isto. 


Tirei o Lenço do pescoço e disse: 

- Uma tenda grande, um saco de dormir, dois travesseiros 
macios e uma muda de roupa para cada um de nós, por favor. 


O Lenço se deslocou e se moveu; os fios começaram a tecer. 
Eles se trançaram, criando cordas grossas, que disparavam em várias 
direções e se enrascavam em galhos fortes de árvores próximas. 
Depois que as cordas estavam amarradas com firmeza, o Lenço criou 
um teto, paredes e um piso para a tenda. Ela era suspensa por duas 
linhas entrelaçadas na árvore acima. Em vez de fechadas por um 
zíper, as abas da abertura eram amarradas com um cordão. 

Enfiei a cabeça lá dentro. 

- Venha, Kishan. 


Ele me seguiu e entrou na espaçosa tenda. Ficamos observando 
enquanto os fios coloridos continuavam a tecer um espesso saco de 
dormir e dois travesseiros macios. Quando terminou, eu tinha um 
saco de dormir verde e dois travesseiros brancos. Uma muda de roupa 
para cada um descansava sobre eles. Kishan estendeu o antigo saco de 
dormir ao meu lado enquanto eu afofava um dos travesseiros. 

- Como ele escolhe a cor? - perguntou. 
- Acho que depende do humor do Lenço ou talvez do que 
você pede. A tenda, o saco de dormir e os travesseiros, todos parecem 
ter o aspecto que deveriam ter. O Lenço muda de cor por conta 
própria. Percebi isso enquanto caminhava. 


Kishan saiu para trocar de roupa na selva enquanto eu vestia 
peças limpas e pendurava minhas roupas de fada num galho do lado 


de fora. Quando ele voltou, eu estava bem aconchegada em meu saco 
de dormir e tinha virado de lado para evitar conversas. 

Ele entrou em seu saco de dormir e pude sentir seus olhos 
dourados fixos em minhas costas por vários e tensos minutos. 

Por fim, ele grunhiu e disse: 

- Bem... boa noite, Kells. 
- Boa noite, Kishan. 


Eu estava exausta e caí no sono imediatamente, deslizando 
direto para um novo sonho. 

Sonhei com Ren e Lokesh, a mesmíssima cena de minha 
última visão. Ren estava sentado no canto ao fundo de uma jaula num 
quarto escuro. Seu cabelo estava imundo e emaranhado e eu quase 
não percebi que era ele até que abrisse os olhos e me fitasse. Eu 
reconheceria aqueles olhos azuis em qualquer lugar. 

Seus olhos tinham um brilho constante no escuro, como 
safiras reluzentes. Aproximei-me dele furtivamente, guiada por eles, 
fitando-os como um marinheiro desesperado olha o farol numa noite 
escura de tempestade. 

Quando alcancei a gaiola, Ren piscou, como se me visse pela 
primeira vez. Sua voz soava áspera, como a de um homem com sede. 

- Kells? 


Fechei os dedos em torno das grades, desejando ser forte o 
bastante para quebrá-las. 

- Sim, sou eu. 
- Não consigo vê-la. 


Por um momento de pavor, temi que Lokesh o houvesse 
cegado. Ajoelhei-me diante da j aula. 

- Assim está melhor? 
- Está. 


Ren se arrastou pelo chão, aproximando-se mais, e envolveu 
minhas mãos com as dele. As nuvens se abriram e o luar tremeluziu 
através de uma minúscula janela, lançando seu brilho suave no rosto 
dele. 

Arquejei, chocada, e as lágrimas encheram meus olhos. 

- Ah, Ren! O que foi que ele fez com você? 



O rosto de Ren estava inchado e roxo. Sangue escorria pelos 
cantos da boca e um corte profundo ia de sua testa até a bochecha. 
Estendi um dedo e toquei sua têmpora delicadamente. 

- Ele não conseguiu tirar a informação que queria de você e 
resolveu descontar a raiva em mim. 
- Eu... eu... sinto... tanto. 


Minhas lágrimas molharam sua mão. 

- Priyatama, não chore. 


Ele pressionou a mão no meu rosto. Virei e beijei-lhe a palma. 

- Não posso suportar vê-lo assim. Estamos vindo buscar 
você. Por favor, por favor, agüente um pouco mais. 


Ele baixou os olhos, como se sentisse vergonha. 

- Não sei se consigo. 
- Não diga isso! Nunca diga isso! Eu estou indo. Sei o que 
fazer. Sei como resgatá-lo. Você precisa permanecer vivo. Não 
importa como! Ren, me prometa! 


Ele suspirou dolorosamente. 

- Ele está perto demais, Kells. Cada segundo que Lokesh me 
tem aqui significa que você está em perigo. Você se tornou uma 
obsessão para ele. A todo momento ele tenta extrair informações suas 
de minha mente. Ele não vai parar. Não vai desistir. Ele... ele vai me 
subjugar. Logo. Se fosse apenas a tortura física, acho que eu poderia 
agüentar, mas ele está usando magia negra. Está me enganando. 
Causando alucinações. E eu estou tão... cansado. 
- Então conte a ele. - Minha voz tremeu. - Conte a ele o que 
ele quer saber e talvez ele o deixe em paz. 
- Nunca contarei a ele, prema. 


Eu solucei. 

- Ren. Eu não posso perder você. 
- Eu estou sempre com você. Meus pensamentos estão em 
você. - Ele pegou um cacho do meu cabelo e o levou aos lábios. Então 
inspirou profundamente. - O tempo todo. 
- Não desista! Não quando estamos tão perto! 


Seus olhos se desviaram. 

- Tem uma opção que eu poderia considerar. 



- Qual é? Que opção? 
- Durga - ele fez uma pausa - ofereceu proteção, mas seu 
preço é alto demais. Não vale a pena. 
- Sua vida vale qualquer coisa! Aceite! Não pense duas 
vezes. Você pode confiar em Durga. Faça o que ela pede! Qualquer 
que seja o preço, não importa, desde que você sobreviva. 
- Mas, Kelsey... 
- Shh. - Pressionei a ponta do dedo delicadamente sobre 
seus lábios inchados. - Faça o que for preciso para sobreviver, está 
bem? 


Ele deixou escapar um suspiro entrecortado e me olhou com 
olhos brilhantes e desesperados. 

- Você precisa ir. Ele pode voltar a qualquer momento. 
- Não quero deixar você. 
- E não quero que você vá. Mas é preciso. 


Resignada, virei-me para partir. 

- Espere, Kelsey. Antes de ir... você me dá um beijo? 


Enfiei as mãos entre as grades e toquei levemente seu rosto. 

- Não quero lhe causar mais dor. 
- Não tem importância. Por favor. Me beije antes de ir. 


Ele se ajoelhou à minha frente, arquejando ao pôr o peso no 
joelho, e então passou as mãos trêmulas pelas grades e me puxou para 
mais perto. Suas mãos deslizaram e tomaram o meu rosto entre elas e 
nossos lábios se encontraram entre as grades de sua jaula. Seu beijo 
foi quente, suave e breve demais. Senti o gosto das minhas lágrimas. 
Quando se afastou, ele me dirigiu um sorriso doce e torto entre os 
lábios partidos. Encolheu-se de dor ao recolher as mãos. Foi então 
que percebi que vários dedos seus estavam quebrados. 

Recomecei a chorar. Ren enxugou uma lágrima do meu rosto 
com o polegar e recitou um poema de Richard Lovelace. 



Quando o Amor com asas livres 

Paira dentro de meus portões, 

E minha divina Altea vem 

Para sussurrar junto às grades; 


Quando me vejo enroscado em seu cabelo 

E agrilhoado ao seu olho, 

As aves que brincam no ar 

Não conhecem tamanha liberdade. 

Muros de pedra não constituem prisão, 

Tampouco barras de ferro uma jaula; 

Mentes puras e quietas tomam isso 

Como a habitação do eremita; 

Se tenho liberdade em meu amor 

E em minha alma sou livre, 

Só os anjos, que planam acima, 

Desfrutam da mesma liberdade. 



Ele encostou a testa na grade. 

- A única coisa que eu não poderia suportar é se ele 
machucasse você. Isso eu não vou permitir. Não vou deixar que ele a 
encontre, Kelsey. Aconteça o que acontecer. 
- O que você quer dizer? 


Ele sorriu. 

- Nada, minha querida. Não se preocupe. - Ele recuou para 
apoiar o corpo alquebrado na parede da jaula. - É hora de ir, iadala. 


Levantei-me para ir, mas parei à porta quando ele chamou: 

- Kelsey? 


Virei-me. 

- Não importa o que aconteça, por favor lembre-se de que a 
amo, hridaya patni. Prometa que irá se lembrar. 
- Eu vou me lembrar. Prometo. Mujhe tumse pyarhai, Ren. 
- Agora vá. 


Ele sorriu debilmente e então seus olhos mudaram. O azul se 
esvaiu e eles se tornaram cinzentos, baços e sem vida. Talvez fosse um 
truque da luz, mas chegava a quase parecer que Ren havia morrido. 
Dei um passo hesitante para trás. 

-Ren? 

Sua voz suave replicou: 

- Por favor, vá, Kelsey. Vai ficar tudo bem. 



-Ren? 

- Adeus, meu amor. 
- Ren! 


Alguma coisa estava acontecendo e não era nada bom. Senti 
algo se partir. Arquejei em busca de ar. Alguma coisa estava muito 
errada. A conexão que eu sentia entre nós era quase tangível, como 
uma corrente de metal. Quanto mais próximos ficávamos, mais forte 
era a conexão. Ela me estabilizava, me conectava a ele como um fio de 
telefone, mas algo havia danificado o cabo. 

Senti a ruptura e pontas afiadas e serrilhadas perfuravam e 
rasgavam violentamente meu coração, como facas quentes 
atravessando a manteiga. Gritei e me debati. Pela primeira vez desde 
que pusera os olhos no meu tigre branco, eu estava sozinha. 

Kishan me sacudiu, me arrancando da névoa do sonho. 

- Kelsey! Kelsey! Acorde! 


Abri os olhos e comecei a chorar lágrimas novas, que se 
derramavam no meu rosto e seguiam as trilhas deixadas pelo sonho. 
Abracei Kishan e solucei. Ele me colocou no colo, me apertando, e me 
acariciou as costas enquanto eu chorava inconsolavelmente por seu 
irmão. 

Devo ter dormido em algum momento, pois acordei enrolada 
em meu saco de dormir com os braços de Kishan ao meu redor. 
Minha mão fechada pressionava meu rosto e meus olhos estavam 
fechados de tão inchados. 

- Kelsey? - sussurrou Kishan. 
- Estou acordada - murmurei. 
- Você está bem? 


Minha mão seguiu involuntariamente para o buraco oco e 
dolorido que eu sentia no peito. Uma lágrima escorreu do canto do 
meu olho. Enterrei a cabeça no travesseiro e comecei a respirar fundo 
para me acalmar. 

- Não - eu disse sem forças. - Ele... se foi. Alguma coisa 
aconteceu. Acho... acho que Ren pode estar morto. 
- O que aconteceu? Por que acha isso? 



Expliquei o sonho a ele e tentei descrever minha conexão 
rompida com Ren. 

- Kelsey, é possível que tudo isso seja apenas um sonho, um 
sonho muito perturbador, mas nada mais que um sonho. Não é raro 
ter sonhos violentos quando se passa por uma experiência traumática, 
como a luta que tivemos com os pássaros. 
- Talvez. Mas eu não sonhei com os pássaros. 
- Mesmo assim, não podemos ter certeza. Lembre-se de que 
Durga disse que o protegeria. 
- Eu me lembro. Mas foi tão real. 
- Não tem como ter certeza. 
- Talvez tenha. 
- O que você está pensando? 
- Acho que devíamos fazer outra visita aos silvanos. Talvez 
possamos dormir no Bosque dos Sonhos e eu consiga enxergar o 
futuro. De repente eu vejo se podemos salvá-lo ou não. 
- Acha que isso vai funcionar? 
- Os silvanos disseram que, se eles têm um problema grave 
para resolver, vão até lá em busca de respostas. Por favor, Kishan. 
Vamos tentar. 


Kishan enxugou uma lágrima do meu rosto com o polegar. 

- Está bem, Kells. Vamos procurar Fauno. 
- Kishan, mais uma coisa. O que significa hridaya patni? 
- Onde você ouviu isso? - perguntou com delicadeza. 
- No sonho. Ren me disse isso antes de nos separarmos. 


Kishan se levantou e saiu da tenda. Eu o segui e o encontrei 
fitando a distância. Seu braço estava apoiado num galho de árvore. 
Sem se virar, ele disse: 

- É a forma carinhosa como nosso pai chamava nossa mãe. 
Significa... "esposa do meu coração". 


Foi um longo dia de caminhada para chegar à aldeia dos 
silvanos. Eles não cabiam em si de alegria por nos ver e quiseram dar 
uma festa. Eu não tinha vontade de celebrar. Quando perguntei se 
podíamos dormir no Bosque dos Sonhos novamente, Fauno me 
assegurou de que tudo o que possuíam estava à minha disposição. As 


ninfas das árvores me serviram um jantar leve e me deixaram sozinha 
num de seus chalés até o cair da noite. Kishan percebeu que eu queria 
ficar sozinha e comeu com os silvanos. 

Quando a noite caiu, ele voltou com um visitante. 

- Quero que você veja quem está aqui, Kells. 


Ele segurava a mão de um garotinho de cabelos prateados 
dando os primeiros passos. 

- Quem é este? 
- Você pode dizer seu nome à moça bonita? 
- Talque - disse o menino. 
- Seu nome é Talque? - perguntei. 


O rosto meigo do menininho sorria para mim. 

- Na verdade, o nome dele é Tarak. 
- Tarak? - arquejei. - É impossível! Ele parece já ter quase 2 
anos! 


Kishan deu de ombros. 

- Ao que parece, os silvanos amadurecem rapidamente. 
- Incrível! Tarak, venha aqui e me deixe ver você. 


Estendi os braços e Kishan o encorajou a ir em frente. Tarak 
deu alguns passinhos desajeitados em minha direção antes de cair no 
meu colo. 

- Você agora é um menino tão grande! E tão bonito 
também! Quer brincar? Veja isto. 


Peguei o Lenço em meu pescoço e ficamos olhando o 
caleidoscópio de cores cambiantes. Quando o menininho o tocou, a 
impressão de uma minúscula mão rosa apareceu no tecido antes de 
desaparecer num turbilhão de amarelo. 

- Bichinhos de pelúcia, por favor. 


O tecido deslocou-se, dividiu-se e se transformou em 
bichinhos de pelúcia de todo tipo. Kishan se sentou ao meu lado e 
brincamos com Tarak e a coleção de bichos de pelúcia. A dor aguda 
em meu coração diminuiu enquanto eu ria com a pequena criança 
silvana. 

Quando Kishan apanhou o tigre de pelúcia e ensinou a Tarak a 
forma correta de grunhir, ele ergueu os olhos para mim. Nossos 


olhares se encontraram e ele piscou. Agarrei sua mão, apertei-a e lhe 
disse movendo os lábios sem emitir som: "Obrigada." 

Kishan beijou meus dedos, sorriu e disse: 

- Tia Kelsey precisa dormir um pouco. É hora de levar você 
de volta para sua família, rapazinho. 


Ele pegou Tarak no colo, colocou-o nos ombros e disse 
baixinho: 

- Volto já. 


Reuni todos os bichinhos e disse ao lenço que não 
precisávamos mais deles. Fios começaram a girar no ar e se 
entreteceram, voltando à forma anterior. No momento em que 
acabavam, Kishan retornou. 

Ele se agachou, segurou-me pelo queixo e ergueu meu rosto 
para exa- miná-lo. 

- Kelsey, você está exausta. Os silvanos prepararam um 
banho para você. Tome um banho de imersão antes de dormir. 
Encontro você no Bosque, está bem? 


Assenti e deixei as três mulheres silvanas me levarem até a 
área de banho. Dessa vez elas estavam quietas, deixando-me com 
meus pensamentos enquanto delicadamente ensaboavam meu cabelo 
e esfregavam uma loção perfumada em minha pele. Elas me vestiram 
com um roupão de seda antes que uma fada de asas cor de laranja me 
guiasse até o Bosque dos Sonhos. Kishan já estava lá e havia tomado a 
liberdade de criar uma rede com o Lenço Divino. 

- Não está interessado em dividir a suíte de lua de mel 
novamente, pelo que estou vendo - brinquei. 


Ele estava de costas para mim enquanto testava um nó da rede. 

- Só pensei que seria melhor... - Ele deu meia-volta e me 
lançou um olhar poderoso, ardente. Seus olhos dourados se dilataram 
e ele se apressou em se ocupar com os nós de novo. Limpando a 
garganta, disse: - Decididamente, é melhor você dormir sozinha desta 
vez, Kells. Ficarei confortável aqui. 


Estremeci e tentei fingir que o olhar de Kishan não havia me 
afetado. 

- Como quiser. 



Kishan se acomodou na rede, deitado de costas, com as mãos 
atrás da cabeça. Ele me observava ajeitando os lençóis. 

- Você está muito... linda - eu o ouvi dizer baixinho. 


Voltei-me para ele, ergui um braço e deslizei a mão pelo 
roupão de seda azul com mangas compridas. Eu sabia que meu cabelo 
pendia em ondas flexíveis e que minha pele pálida brilhava depois da 
vigorosa esfregação e das loções borbulhantes das silvanas. Talvez eu 
estivesse bonita, sim, mas me sentia oca por dentro. Eu estava 
esgotada até o âmago. 

- Obrigada - disse mecanicamente enquanto subia na cama. 


Fiquei acordada olhando as estrelas durante muito tempo. 
Pude sentir os olhos de Kishan em mim quando enfiava a mão sob o 
rosto e finalmente mergulhava no sono. 

Não sonhei com nada. Não com Ren, nem comigo mesma, 
tampouco com Kishan ou com o Sr. Kadam... Sonhei com o vazio. 
Uma grande escuridão preenchia a minha mente, um vácuo. Um 
espaço sem formas, sem profundidade, sem abundância e sem 
nenhuma felicidade. Acordei antes de Kishan. Sem Ren, minha vida 
não tinha nenhum significado. Era oca e inútil. Era isso que o Bosque 
dos Sonhos estava tentando me dizer. Eu havia perdido coisas de 
mais. 

Quando meus pais morreram, foi como se duas árvores 
imponentes houvessem sido derrubadas. Ren tinha entrado em minha 
vida e preenchido a paisagem vazia do meu coração, fazendo-o 
cicatrizar. A terra seca fora substituída por grama macia, árvores de 
sândalo maravilhosas, trepadeiras de jasmim e rosas. Bem no centro 
de tudo havia uma fonte de água cercada por lírios-tigres, um lindo 
lugar onde eu podia me sentar e sentir afeto, amor e paz. Agora a 
fonte estava estilhaçada, os lírios arrancados, as árvores derrubadas e 
simplesmente não restava solo para cultivar mais nada. Eu estava 
estéril, desolada - um deserto incapaz de sustentar a vida. 

Uma brisa suave balançava meu cabelo e soprava alguns fios 
no meu rosto. Eu não me dei ao trabalho de puxá-los para o lado. Não 
ouvi Kishan se levantar. Só senti a ponta de seus dedos roçar em meu 
rosto quando ele ergueu os fios e os prendeu atrás da orelha. 


- Kelsey? 


Não respondi. Meus olhos fitavam o céu do amanhecer que ia 
se iluminando. 

- Kells? 


Ele deslizou as mãos sob o meu corpo e me levantou. Então se 
sentou na cama e me aninhou junto ao seu peito. 

- Kelsey, por favor, diga alguma coisa. Fale comigo. Não 
suporto vê-la desse jeito. 


Ele me embalou por um tempo. Eu podia ouvi-lo e lhe 
responder em minha mente, mas me sentia desconectada do 
ambiente, do meu corpo. 

Senti uma gota de chuva no meu rosto e o susto me acordou, 
me trouxe à superfície. Ergui a mão e enxuguei a gota. 

- Está chovendo? Não pensei que chovesse aqui. 


Ele não respondeu. Outra gota caiu em minha testa. 

- Kishan? 


Olhei para ele e percebi que não eram gotas de chuva, mas 
lágrimas. 

Seus olhos dourados estavam cheios de lágrimas. 

Perplexa, levei a mão ao seu rosto. 

- Kishan? Por que você está chorando? 


Ele sorriu debilmente. 

- Pensei que a tivesse perdido, Kells. 


-Ah. 

- O que você viu que a levou para tão longe de mim? Você 
viu Ren? 
- Não. Não vi nada. Meus sonhos estavam cheios de uma 
escuridão fria. Acho que isso significa que ele está morto. 
- Não. Eu não acredito nisso, Kells. Eu vi Ren em meus 
sonhos. 


A vitalidade retornou aos meus membros. 

- Você o viu? Tem certeza? 
- Sim. Estávamos num barco, discutindo. 
- Poderia ser um sonho do passado? 
- Não. Estávamos num iate moderno. No nosso iate. 



Sentei-me mais ereta. 

- Você tem certeza de que o sonho se passava no futuro? 
- Tenho. 


Eu o abracei e beijei-lhe as bochechas e a testa, alternando os 
beijos com "Obrigada! Obrigada! Obrigada!". 

- Espere, Kells. A questão é que, no sonho, estávamos 
discutindo sobre... 


Eu ri, agarrei sua camisa e o sacudi levemente, enlouquecida e 
tonta de 

alívio. Ele estava vivo! 

- Não quero nem saber sobre o que estavam discutindo. 
Vocês dois sempre discutem. 
- Mas acho que devia contar a você... 


Saltei de seu colo e comecei a me mexer rapidamente, 
recolhendo nossas coisas. 

- Conte mais tarde. Agora não temos tempo. Vamos 
embora. O que estamos esperando? Um tigre precisa ser resgatado. 
Venha! 


Eu corria de um lado para outro com uma energia insana. Uma 
determinação desesperada e febril tomava conta da minha mente. 
Cada minuto que nos demorássemos significava mais dor para aquele 
que eu amava. O sonho com Ren havia sido real. Eu não teria 
elaborado palavras novas em híndi por minha própria conta, 
principalmente um termo carinhoso que seu pai usava 

com sua mãe. Eu estivera com ele de alguma forma. Eu o havia 
tocado, beijado. Alguma coisa havia partido nossa conexão, mas ele 
ainda estava vivo! Poderia ser salvo. Na verdade, ele seria salvo! 
Kishan tinha visto o futuro! 

Os silvanos prepararam um café da manhã suntuoso, mas nós 
pegamos alguns itens para a viagem, dissemos adeus, apressados, e 
seguimos de volta para o portão do espírito. Levamos dois dias de 
caminhada rápida para chegar ao portão, seguindo as instruções 
dadas pelos silvanos. Kishan falou muito pouco durante a viagem e eu 
estava profundamente mergulhada em pensamentos sobre como 
encontrar Ren para tentar descobrir por quê. 


Depois de chegar ao portão, pedi ao Lenço Divino que criasse 
novos trajes de inverno para nós e, após trocarmos de roupa, evoquei 
meu poder de raio e coloquei a mão na depressão entalhada na lateral 
do portão. Minha pele brilhou, tornando-se translúcida e rosada 
enquanto o portão tremeluzia e se abria. Olhamos um para o outro e 
de repente eu me senti triste - como se estivéssemos nos despedindo. 
Kishan tirou a luva e pousou a palma quente em meu rosto, 
estudando-o, sério. Eu sorri e o abracei. 

Eu tivera a intenção de ser breve, mas ele me envolveu com os 
braços e me deu um abraço apertado. Desvencilhei-me, desajeitada, 
tornei a colocar a luva e transpus o portão, passando para um dia 
ensolarado no monte Everest. Minhas botas de inverno esmagaram 
ruidosamente a neve branca e cintilante no momento em que Kishan 
passava pelo portão e se transformava no tigre negro. 

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