desdentado vinha sorrindo e ajoelhou-se, emitindo um bafo fedorento para dentro
da casita.
— Crânio... Entonces te llaman Crânio, no es? Bueno, muchacho, no deverias
ter aparecido por acá. Eres un gran problema, un grandíssimo problema,
muchacho. El Ente te quiere vivo. Vivo e entero. Tienes suerte. Mucha suerte,
muchacho...
Um dos bandidos enfiou duas tigelas dentro da jaula. Água e comida. Um
outro trazia uma seringa.
— Vamos, piloto. Es Ia hora dei breakfast... Nada como una espetadita a esta
hora de la mañana, no?
Bezerra recuou para o canto mais distante da jaula.
— Não! Não quero!
— Oh, oh! Es claro que lo quieres, piloto. Estás acostumbrado y a. No puedes
pasar sin tu espetadita, verdad?
— Não!
O homem que tinha trazido a comida deu a volta na jaula e cutucou as costas
de Bezerra com uma faca. O piloto saltou para diante e, como o espaço fosse
muito restrito, foi chocar-se com a frente da jaula, onde o outro bandido seguroulhe
o braço, puxando-o para fora das grades de bambu. Fez um torniquete com
um tubo de borracha apropriado e, em um segundo, a veia de Bezerra estava
espetada e o líquido maldito começou a circular por seu corpo. O comando pós-hipnótico
fez efeito. Bezerra revirou os olhos, como um agonizante, e sua cabeça
tombou de lado. O corpo amoleceu e o bandido teve de retirar apressadamente a
agulha de seu braço.
— O que houve?
O Centurião tomou o pulso inerte do piloto. Era um ignorante, especialista
apenas em assassinatos, e não conseguiu encontrar a batida fraca do pulso de
Bezerra.
— Está muerto. La dose era muy fuerte mismo para ei, que y a se
acostumbrara. Bueno! Podemos livrar-nos de este. Levem-no para o hotelzito
donde lo encontraron. Pongan la droga y unas seringas a su lado, como
planeamos.
— Mas como vamos andar com um cadáver assim, sem mais nem menos,
pela cidade, Centurião?
— Pongan ei hombre num saco, estúpido! Façam creer que están carregando
qualquier entrega para ei hotel. El dono es nuestro cumpadre, no se preócupen.
Crânio fez cara de revolta e protestou contra aquela "morte".
— Assassinos!
— Ah, ah! No reclames, muchacho. Tienes mucha suerte. El Ente no quiere
que te toquem.
— O que vão fazer comigo?
— No sê. El Ente es quien Io sabe. Coma e agradeça. No fueran las ordenes
dei Ente, y a estaria con mi cuchillo en tus tripas. Nadie me llama asesino e sigue
respirando...
— Pero eres lo que eres, Centurião! Un asesino covarde!
— Oh! Hablas castellano! Que culto que eres!
Foi embora com os companheiros. Crânio bebeu toda a água, mas foi
impossível provar aquela gororoba tão nojenta. Parecia conter carne podre de
jacaré. Sentia-se enjoado. As feridas latejavam e ele começou a sentir frio,
batendo os dentes.
Dois bandidos voltaram e entraram na casita. Meio espremidos, enfiaram
Bezerra dentro do saco e fecharam o pacote com uma corda. Foram embora.
Não voltariam antes de comer o quebra-torto.
Pronto. O plano do gênio dos Karas estava dando certo. Bezerra sairia livre
dali, e a polícia acabaria por salvar a ele, Crânio. Seria o fim dos Formigas-paradas.
O fim do tal Ente. Ele deduzira tudo direitinho. Formigas-paradas. Ente.
É assim que se pronuncia "formiga", em inglês. Ant! Era isso!
Mas parecia muito pouco. O ouro deveria estar por perto, mas onde? O Ente
era o formigão maior, mas e daí? Quem era o Ente? Sob que disfarce se
escondia?
Crânio era prisioneiro de alguém sem nome e sem rosto. O rapaz revolvia o
cérebro privilegiado, mas as perguntas mais importantes não tinham resposta.
— Engraçado... Por que o Ente ordenou que não fizessem nada comigo? Será
que ele me conhece? Será que o formigão...
De repente, o sangue fugiu-lhe das faces.
— Que estúpido sou eu!! Como não descobri isso antes?
Pulou sobre o piloto, esquecendo-se do comando pós-hipnótico.
— Bezerra! Acorde! Preciso contar a você quem é o Ente! Eu descobri tudo!
Acorde!
O piloto não se moveu.
— Água. Preciso de água!
A febre aumentava-lhe a ansiedade. Procurou a tigela, mas a sede tinha feito
com que ele não deixasse nem uma gota!
— Preciso pensar... pensar! Já sei! Eu e o piloto somos mais ou menos do
mesmo tamanho. É arriscado, mas pode dar certo. Pelo menos deu certo com o
Conde de Montecristo!
Abriu o saco e tirou-o de Bezerra. Despiu a própria jaqueta e vestiu-a no
piloto. Rolou o corpo inerte para o canto mais tapado por bambus e deitou-o de
bruços, encolhido, como se estivesse dormindo. Enfiou-se no saco e com
dificuldade encaixou, pelo lado de dentro, a argola de corda meio mal-e-mal,
fechando-se no saco. Pronto. Agora bastava esperar que aquilo não se
transformasse em sua própria mortalha. Não demorou a ouvir os passos dos
bandidos, que voltavam depois do quebra-torto.
— Vamos lá. Pegue deste lado. É pesadinho, o desgraçado!
— Veja como dorme este aqui. Com um cadáver do lado e o moleque ainda
consegue dormir!
Crânio foi carregado para fora. Sentiu quando o colocaram no fundo de um
barco, que se balançava suavemente sobre as águas. Ouviu o ruído do motor
sendo ligado. O barco começou a vibrar.
— Ei, você amarrou muito mal este saco!
— Pois amarre melhor, ora!
* * *
A "voadeira" avançava velozmente, na certa por um afluente dú Taquari, em
direção à vila de São Francisco. Crânio sentia-se sufocar dentro do saco, mas não
movia um músculo, embora tivesse sido colocado de mau jeito pelos bandidos.
O som da conversa dos dois bandidos chegava abafado aos ouvidos do
rapazinho, até que um alerta desesperado invadiu-lhe claramente os ouvidos.
— Cuidado! Uma árvore caída!
— É uma cilada! Aaaai!
— Hein? O que foi? Aaaaah!
Algo inevitável acontecia fora do saco que aprisionava Crânio. Algo inevitável
como a morte.
O barco sacudiu-se violentamente e Crânio foi jogado de um lado para o
outro. Um corpo pesado caiu sobre ele, e o barco virou. Sentiu o baque na água.
Crânio lutou desesperadamente para sair. Inútil. O bandido tinha amarrado
fortemente a boca do saco! A água começou a entrar, ocupando todos os
espaços. Enquanto o saco afundava rapidamente, Crânio sentiu o frescor das
águas limpas do Pantanal.
visto
ResponderExcluirQual é o resumo
ResponderExcluirQro saber tmb
ExcluirVocês são bando de burros 🖖🙏👈👉👉👈👇👆🤞🤙✌️🖖🤘
ResponderExcluirTenho que terminar de ler pra amanhã aff
ResponderExcluirDunha
ResponderExcluiroi
ResponderExcluiramei o livroooooooo
gente, ta na cara que esse Ente é a tia do cranio eu ja estava com essa suposiçao na cabeça mas agora com esse capitulo, com essa historia do ente nao querer que os caras toquem em cranio, ficou ainda mais evidente pra mim.
ResponderExcluirestraga o bagulho n cara kkkk
ExcluirQual é o resumo??
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