quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 17 - O cadáver mensageiro


   Magrí havia vasculhado todos os cantos do Colégio Rio Branco sem encontrar
nem sinal do Bino. Ela era boa fisionomista e tinha certeza de poder reconhecer o
oferecedor, mesmo que ele estivesse disfarçado. Não, Bino não estava no Rio
Branco.
   Agora era ir ao encontro combinado com os Karas, às sete da noite, numa
lanchonete do centro da cidade. Lá, eles tinham certeza de não encontrar
nenhum conhecido: a classe alta não frequenta a avenida São João.
   Passava um pouco das seis quando Magrí chegou ao centro da cidade.
Anoitecia, e a menina achou divertido vagar incógnita pelos calçadões da Barão
de Itapetininga e da Conselheiro Crispiniano, misturada à multidão de
funcionários que enchiam as ruas, cansados no fim de uma quarta-feira de
trabalho.
   Magrí sentia-se muito segura em seu disfarce. O cabelo estava diferente e
Calú havia colocado uns arames em sua boca, para parecer aparelho de
correção dentária. Aquela ferragem mudava a conformação do seu rosto e
modificava-lhe a voz. A menina vestia uma jaqueta com enchimentos que lhe
alteravam totalmente o porte elegante. Palmilhas dentro dos tênis machucavam-lhe
um pouco os pés, mas obrigavam-na a andar de modo diferente.
Sobrancelhas unidas completavam o disfarce.
   "Como estou horrorosa!", divertia-se a menina, vendo a própria imagem
refletida em uma vitrina.
   Aos poucos, uma outra imagem, formada atrás do seu reflexo, chamou-lhe a
atenção. Estava em frente a uma loja de eletrodomésticos, e um televisor ligado
num noticiário acordou-a do devaneio.

— Desaparecimento de estudantes: outro cadáver encontrado. Vejam no
próximo segmento...

   O coração da menina disparou. Outro cadáver! Ai, como foi difícil aguentar
os comerciais até ver novamente o locutor!

— ... cadáver de um rapaz, encontrado com um tiro nas costas, na estação do
metrô de Vila...


   A menina mal podia acreditar no que estava vendo. Para variar, os repórteres
tinham agido mais rápido do que a polícia e ali, na tela, estava o corpo do Bronca,
lívido como um lençol!
   Apesar do choque, a rapidez de raciocínio e a atenção treinada de Magrí não
se deixaram abalar. Ela era um Kara antes de tudo. E aquele detalhe não lhe
escapou: no dedo do cadáver havia um curativo. Um curativo grande, exagerado
como o que havia no dedo do Chumbinho!
   Coincidência? Talvez, mas uma pista suficiente para fazer a menina correr
pela Dom José de Barros até à São João.
   Magrí sabia que conseguir um táxi àquela hora era uma façanha. Por isso
abriu a porta de um que estava parado no sinal e ofereceu ao passageiro:

— Estas cinco notas para o senhor, se me ceder este táxi! 

   Surpreso, o passageiro concordou.

— Obrigada! — a menina entrou no táxi e estendeu outras notas para o
motorista. — Mais cinco para o senhor, se me levar voando para a Teodoro
Sampaio com a avenida Doutor Arnaldo!
   Era uma boa vantagem não ser pobre naquela hora. Em poucos minutos
Magrí estava desembarcando do táxi em frente ao Instituto Médico Legal.

* * *

   Todos os funcionários e até os policiais ficaram com pena daquela garotinha
desesperada. Afinal, que mal haveria em deixar entrar a infeliz namoradinha do
garoto assassinado? Era melhor que ela se despedisse dele antes que o corpo da
vítima fosse destruído pela autópsia.
 A menina, de aparelho nos dentes, descabelou-se ao ver o cadáver do rapaz
estirado numa pedra fria no necrotério.

— Bronca! Meu amor! O que fizeram com você, meu querido? Ai de mim!
Assassinaram o meu amor!

  A menina atirou-se sobre o cadáver, beijou-o exageradamente e agarrou-se
em sua mão.

— Por quê? Por que fizeram uma coisa dessas? O que será de mim agora?
Delicadamente, um funcionário retirou dali a chorosa namoradinha da
vítima.

* * *

   Ainda abalado pela comovente cena que acabara de presenciar, o detetive
gordo, exausto, suado, ficou olhando para o cadáver.

— Bandidos... assassinos! Que crueldade...

   De repente, seu faro treinado de cão policial deu um alerta. Alguma coisa
estava diferente!

— Ei, você! — chamou ele por um funcionário. — Rápido! Quero ver as
fotos que tiraram do cadáver!

   O funcionário atendeu prontamente e o detetive gorducho examinou as fotos,
comparando-as com o cadáver à sua frente.

— Inferno! Está faltando o curativo do dedo! A menina! Cadê a menina?
Prendam depressa a menina que acabou de sair daqui!

   Mas era tarde demais. Por mais que procurassem, foi impossível encontrar a
namoradinha do garoto assassinado.

5 comentários:

  1. Quê?Bugou aqui
    A Magrí fingiu ser a namoradinha?Ou oq sla q aconteceu!

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    Respostas
    1. Magri até deu uma transadinha rápida com o cadáver do Bronca pra parecer mais real

      Excluir
  2. Mano nada haver tadinha da magrí ela gosta de outro não de defunto vei >:^

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