quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 19 - Códigos combinados


    Na lanchonete da avenida São João, dois rapazes sentados em uma mesinha
de canto olhavam ansiosamente para o relógio da parede quando uma garota
entrou e sentou-se ao seu lado.

— Miguel ainda não chegou? — perguntou a garota em voz baixa.

— Ainda não — respondeu Crânio, que tinha o nariz deformado pela massa
plástica de maquiagem. — Nós estávamos preocupados com você. São quase
nove horas!

— Você encontrou o Bino? — perguntou Calú.

— Não, mas tenho uma pista.

Em poucas palavras Magrí relatou a morte do Bronca e a história do curativo
no dedo. Por fim, estendeu o dedal de esparadrapo e gaze para Calú:

— Veja você, Crânio —disse Calú, que não conseguia acostumar-se com os
enormes óculos que usava como disfarce.

   Crânio abriu cuidadosamente o curativo, que já estava imundo depois de rolar
mais de um dia em várias mãos. Dentro dele descobriu um papelzinho enrolado.

— Só pode ser a letra do Chumbinho — observou Magrí. — Mas não dá pra
entender nada.

    Os três leram ansiosamente, enquanto Crânio transcrevia a mensagem em
letras maiores num guardanapo de papel da lanchonete. O texto era a coisa mais
confusa do mundo:

                             Dsenterginis dinis Enterbomberdaisômberlcaisinis:
                             Tombersaisgenter! Inis chinisvomber ómber
                             Minissaisufterr Cinisrtómbersaisdomberr.

— Parece o nosso Código Vermelho — observou Magrí. — Mas não faz
sentido...

Crânio sorriu:

— Esse Chumbinho é mesmo uma figura! Você tem razão, Magrí. Aqui tem
o Código Vermelho. Só que, por segurança, o danado do Chumbinho usou dois
códigos combinados! Vamos traduzir primeiro o Código Vermelho.

   Em outro guardanapo, Crânio escreveu o Código Vermelho dos Karas:

                                  A = ais
                                  E = enter
                                  I = inis
                                  O = omber
                                  U = ufter

  Agora, era só substituir aqueles sons estranhos pelas vogais correspondentes:

— Hum... deixa ver. Dsenterginis... dá dsegi... Feita a tradução, a mensagem
ficou assim:

                                  Dsegi di Ebodaôlcai: Tosage!
                                  I chivo ó Mísaur Cirtósador.

— Bem bolado! — aplaudiu Calú. — Aposto que agora basta aplicar o Código
Tenis-Polar!

   Era isso mesmo. Para decifrar o código, bastava escrever a palavra tênis
sobre a palavra polar, de modo que o t correspondesse ao p e assim por diante.
Depois, era só substituir uma letra pela outra. Crânio escreveu em outro
guardanapo:

Dsegi. D não tem código, fica D mesmo; S é igual a R; E é igual a O; G
também não tem código, fica G mesmo; e I é A. Pronto! Temos a primeira
palavra!

   No guardanapo, estava escrita a palavra Droga.

— Droga? Estamos na pista certa. Vamos ver o resto.

    Em pouco tempo, a mensagem de Chumbinho estava traduzida:

                            Droga da Obediência: Perigo! 
                            A chave é Márius Caspérides.

— Boa, Chumbinho! — Se o menino estivesse ali, na certa ganharia um beijo
da Magrí.

   Calú começou a compreender:

— Quer dizer que aquela droga que deixa as pessoas com cara de idiota é a
Droga da Obediência?

— É... — concordou Crânio. — E, pelo nome, dá até para ter uma idéia do
que representa essa porcaria. Droga da Obediência! Por isso o Bronca estava tão
bonzinho, não é? Tão obediente, tão bom menino...

— Só que agora o Bronca está morto! — lembrou Magrí, com um nó na
garganta.

— Droga da Obediência... obediência... morte! —raciocinou Crânio em voz
alta. — Uma droga que reduz as pessoas à obediência absoluta!

— Aposto que muitos pais e professores bem que gostariam de contar com
um pouco dessa droga, né?

— Não caçoe, Calú! A coisa é muito séria. Estamos lidando com gente que
sequestra estudantes, que os usa como cobaias! — ralhou Crânio.

— Que os mata! — acrescentou Magrí.

— E quem será essa "chave"? Quem será Márius Caspérides?

— Já ouvi esse nome — informou Crânio. — É um cientista, um bioquímico,
se não estou enganado. Acho que li alguma coisa a respeito dele. Na última
reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência ele apresentou uns
estudos sobre engenharia genética aplicada ao tratamento de doenças
psiquiátricas graves, ou qualquer coisa do gênero.

— Um bioquímico? — perguntou Magrí. — Então vai ver ele sabe alguma
coisa sobre essa Droga da Obediência.

— Vamos procurá-lo, então! — decidiu Calú.

— Mas, como encontrá-lo?

   Crânio saiu-se com um sorriso misterioso:

— Eu tenho um método científico e infalível para resolver um problema
como esse!

— É mesmo? E qual é o método?

— Procurar na lista telefônica! — brincou o gênio dos Karas.

* * *

   Foi fácil encontrar o endereço do bioquímico Márius Caspérides na lista
telefônica da lanchonete. Ficou decidido que Magrí e Crânio iriam procurá-lo.

— E Miguel?

— Talvez tenha ido para o esconderijo secreto — supôs Calú. — Eu vou para lá. 
Descubram o tal bioquímico e me encontrem no esconderijo.

* * *

   Calú foi sozinho num táxi. No outro, ia um garoto muito inteligente e muito
feliz: Magrí deixara-se abraçar e foi a viagem toda com a cabecinha repousando
no ombro de Crânio...

7 comentários:

Postagens

Não dê spoiller!
Deixem comentários e incentive a dona do blog a continuar postando! Façam pedidos!