quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 22 - Na trilha de um desconhecido


— Você sabe que minha memória é como um gravador, Crânio — reforçou
Magrí. — Eu ouvi claramente o que eles conversavam. Um dos sujeitos falou em
um certo Doutor Q.I., alguém que ameaçava a vida deles se não trouxessem
Márius Caspérides morto!

— Doutor Q.I.! — Calú parecia experimentar o peso macabro do nome — Quem será esse
maluco?

— Doutor Q.I., não é? — sorriu Crânio. — Doutor Quociente de Inteligência!.
Vai ver ele é chamado assim por ter um altíssimo quociente de inteligência. É
ele. Só pode ser ele. O cérebro que está por trás desses crimes todos. A
inteligência criminosa! O meu inimigo! Mas duvido que o quociente de
inteligência dele seja maior do que o meu...

Estavam no forro do vestiário do Colégio Elite. A madrugada ia alta, e Miguel
ainda não tinha dado sinal de vida.

— Miguel... Onde estará Miguel? — preocupava-se Magrí.

— Estamos tão longe de Márius Caspérides quanto os bandidos — observou
Calú, desanimado.

— Será? — perguntou Crânio, que ainda não havia perdoado o amigo por ter
enchido de arames a linda boquinha da Magrí.

—Será mesmo? Vamos ver o que temos: de acordo com os dois grandalhões,
Márius Caspérides fugiu das mãos da quadrilha, foi perseguido até o centro da
cidade e eles o perderam de vista quando deram com um assalto acontecendo
num banco, não é?

—Foi isso que aqueles dois disseram...

    Crânio sorriu. Um sorriso de suspense, de triunfo.

—Está rindo de quê, Crânio? Ficou maluco?

— Vocês não estão percebendo? Mas é tão simples!

— O que é tão simples, Crânio?

— Vejam bem: o que vocês fariam se estivessem fugindo desesperadamente
de uma poderosa quadrilha? O que vocês fariam se soubessem que a sua vida
estava em perigo? Mais: o que vocês fariam se soubessem que nem adiantaria
pedir ajuda, já que havia bandidos infiltrados na própria polícia?

    Crânio deixou as perguntas no ar por um momento. Calú e Magrí nada
disseram. Crânio estava excitadíssimo com a perspectiva de uma disputa
intelectual entre ele e um gênio criminoso. Para os outros Karas, essa excitação
era sinal de que ele já tinha uma resposta satisfatória na ponta da língua. Só que
ele gostava de valorizar a própria inteligência e capacidade de resolver enigmas
complicados. Os Karas conheciam a vaidade do amigo e sabiam que era melhor
dar corda e deixar que ele explicasse o seu raciocínio do modo que gostava.

— Vou dizer a vocês o que eu faria se fosse Márius Caspérides. Ele é um
cientista genial, um privilegiado, e na certa pensou a mesma coisa que eu. Se eu
estivesse fugindo de bandidos armados e não tivesse outra saída, eu simplesmente
entraria em um banco gritando que aquilo era um assalto e me deixaria prender
com a maior facilidade!

— Mas, se houvesse bandidos infiltrados na polícia, você seria desmascarado
logo ao chegar na delegacia!

— Talvez não. Se os policiais-bandidos não conhecessem direito a minha
cara, bastaria eu dar um nome falso ao ser preso. Um nome como Zé da Silva,
por exemplo!

— Quer dizer que...

— Que Zé da Silva e Márius Caspérides são a mesma pessoa!

* * *

    A hipótese de Crânio parecia a ideia mais maluca do mundo, mas era genial
em sua simplicidade. Se o garoto estivesse certo, o bioquímico Márius Caspérides
estaria preso, naquele mesmo instante, na mesma delegacia de onde tinham sido
libertados os três brutamontes, na mesma delegacia dos detetives Rubens e
Andrade.

— Só tem uma coisa, Karas — lembrou Calú. — Zé da Silva é o nome mais
comum deste país. Há centenas de Zés da Silva presos em São Paulo. Na certa,
só naquela delegacia deve haver uma meia dúzia. Precisamos de um plano
para...

— Karas — interrompeu Magrí. — Vocês estão esquecendo de uma coisa:
Miguel ainda não apareceu!

— Bom, Magrí, vai ver ele encontrou o falso Bino e...

— Não adianta discutir isso agora — decidiu Crânio. — O dia ainda não
amanheceu, e tudo o que a gente pode fazer tem de ser pela manhã. Estamos
exaustos. Vamos aproveitar essas horinhas para dormir um pouco.
   
    Ajeitaram-se como puderam no forro do vestiário. Aqueles três dias tinham
sido exaustivos, mesmo para os Karas. E o dia que estava para vir prometia mais
ação ainda.

   Crânio fechou os olhos e sonhou com Magrí em seus braços, sem arames nos
dentes.
   Magrí custou a pegar no sono. A fraca luz da lua, que se filtrava através das
telhas de vidro, fez brilhar a lágrima que corria pelo rosto da menina.

— Miguel... meu querido... onde está você?

4 comentários:

  1. Durante essa época de quarentena do corona o que me dá ânimo pra ter tesão é este livro obrigado a todos agradeço ao tio Osvaldo e a tia Maricleusa muito obrigado e até logo ¯\_(ツ)_/¯

    ResponderExcluir
  2. (☞ ಠ_ಠ)☞ (╯°□°)╯︵ ┻━┻

    ResponderExcluir

Postagens

Não dê spoiller!
Deixem comentários e incentive a dona do blog a continuar postando! Façam pedidos!