quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 27 - De preferência, mortos!


    A porta do ginásio de testes de resistência física da Pain Control foi
arrombada com estrondo e os empregados do Doutor Q.I. entraram,
empurrando-se uns aos outros.
   Vinda do intercomunicador que havia do lado de fora, Miguel ouvia a voz do
Doutor Q.I.:

— Peguem esse Miguel! Quero ele vivo!

   O líder dos Karas começou a correr pelo ginásio, no meio dos aparelhos de
ginástica e dos meninos-cobaias, desviando-se dos perseguidores com uma
agilidade que eles nunca tinham visto!

— Pega!

— Não deixa escapar!

    No meio daquela algazarra, os empregados não prestaram a menor atenção
às cobaias, que estavam imóveis, aguardando ordens. Só a pobre menina que
havia batido o recorde da maratona continuava correndo sobre a esteira rolante.
   Havia, porém, mais um que não estava imóvel. Era Chumbinho, que, de
acordo com o plano que combinara com Miguel, aproveitou a confusão e
esgueirou-se silenciosamente para fora.
   Arrastou-se colado à parede, por baixo do intercomunicador, de modo que a
objetiva do aparelho não pudesse focalizá-lo. Desapareceu por uma porta lateral.
    O intercomunicador, lá na sala do Doutor Q.I., estava sintonizado somente no
corredor que dava para o ginásio de testes, por causa da confusão
propositalmente armada por Miguel. Assim, Chumbinho pôde correr com
tranquilidade pelo resto da Pain Control, pois todos os outros intercomunicadores
estavam apagados e todos os empregados tinham corrido para o ginásio de testes.
   As dependências onde estava sendo testada a Droga da Obediência só tinham
janelas lacradas e opacas, para que ninguém pudesse ver o que se passava lá
dentro. Assim, a iluminação era toda artificial.
   Por isso Chumbinho tinha de encontrar e desligar a chave central de energia
elétrica.
  Nesse momento, uma porta à sua frente foi aberta, e o menino tomou um
susto:

— Calú! E o senhor é o bioquímico que eu vi falando com... Ei! Por que
vocês estão algemados?

— Fuja, Chumbinho! — ordenou Calú.

    Mas era muito tarde. Por trás dos dois surgiu o detetive Rubens, apontando um
revólver para o garoto.

— Quietinho aí, menino! Senão leva chumbo!

    Mas Rubens não conhecia os Karas. Se conhecesse, jamais iria distrair-se da
guarda de um deles para apontar uma arma para o outro: com as mãos
algemadas, Calú aproveitou-se e golpeou, de baixo para cima, o braço estendido
de Rubens!
    A bala foi cravar-se no teto e, ato contínuo, Calú meteu uma cotovelada no
estômago do detetive.
   A arma voou longe e, quando Rubens recuperou o fôlego, viu um cano
apontado para sua testa. Era Chumbinho, que, rápido como um gato, havia se
apoderado do revólver:

— Quietinho, você, seu bandido! — vingou-se Chumbinho, com muita raiva
na voz. Ele se lembrava daquela cara na sala do diretor do Colégio Elite e, ao
contrário de Miguel, não tinha simpatizado com ela desde o início.

— Grande, Chumbinho! —aplaudiu Calú, revistando os bolsos de Rubens, em
busca da chave das algemas.

— Sim, sim, sim! —sorriu Caspérides. —Que meninos valentes!

— Vocês não vão escapar... —começou a ameaçar Rubens.

—Cala a boca, traidor! — Calú tirou as algemas de seus pulsos, libertou
também o bioquímico, mas, no momento em que se preparava para algemar o
detetive traidor...

— O que está acontecendo aqui?

     Na moldura da porta, apareceram três figuras enormes, ameaçadoras:

—Detetive Rubens! — estranhou o Animal. — O que é que o senhor está
fazendo aí no chão?

— Rápido, idiota! Me ajude! Esses moleques...

— Não podemos fazer nada, seu Rubens... — lamentou-se o Coisa.

— Estamos sem as nossas armas — informou o Fera.

    Os três foram empurrados para dentro, e o detetive Andrade entrou de arma
na mão, logo seguido por um jovem casal de mendigos.

— Crânio! Magrí!

— Calú! Chumbinho!

— Cadê Miguel?

— Está na boca do lobo! — respondeu Chumbinho. — A essa hora já deve ter
sido preso. Está no ginásio de testes, às voltas com mais de vinte empregados do
Doutor Q.I.!

— Onde fica isso? — perguntou Andrade. — Vamos lá!

— Não adianta! Eles estão armados e podem pegar os meninos-cobaias e
Miguel como reféns. Mas Miguel teve uma ideia. Eu estava tentando fazer o que
ele mandou quando apareceram Calú, Caspérides e esse maldito traidor!

    Algemaram Rubens ao Fera, o Fera ao Coisa, o Coisa ao Animal e o Animal
à maçaneta da porta, usando as algemas que tinham estado em Calú e Caspérides
e mais duas que Andrade trazia consigo.

— Vamos! Temos de encontrar a chave da energia elétrica!

* * *

   Miguel correu pelo ginásio, driblou os perseguidores o quanto pôde, resistiu o
maior tempo possível, mas acabou sendo capturado e subjugado pelos
empregados. A uma ordem do Doutor Q.I., um dos bandidos ligou novamente na
tomada o intercomunicador do ginásio de testes. A voz do sinistro personagem,
novamente dentro do ginásio, estava calma, confiante:

— Que brincadeira mais boba, Miguel! Eu pensava que você fosse capaz de
agir com mais inteligência. De que adiantou correr como um ratinho? De que
adiantou... Ei! Onde está a cobaia número 20? Diabo, Miguel! Você estava só
ganhando tempo enquanto seu amiguinho fugia, não é? O número 20 é aquele
que estava sem tomar a droga!

   Furioso, investiu contra os empregados:

— Vocês são todos uns incompetentes! Deixaram o garoto enganá-los o
tempo todo!

— Mas nós... — tentou desculpar-se um dos empregados.

— Cale a boca! Deixem que eu descubro o moleque pelo intercomunicador.

    As telas dos intercomunicadores espalhados por toda a Pain Control
acenderam-se uma a uma. O Doutor Q.I. procurava Chumbinho.

— O que é isso?

    Na tela do Doutor Q.I. apareceu um longo corredor, no fim do qual,
algemados a uma porta, estavam o detetive Rubens e os três ferozes seguranças
da Pain Control, presos um ao outro, formando uma estranha fila, como crianças
grandes, de mãos dadas.

— Estúpidos! Incompetentes! — berrou o Doutor Q.I. — Os inimigos
entraram na Pain Control!. A cobaia 20 não poderia algemar sozinha esses
incompetentes. Preciso descobrir onde estão os invasores!

    O Doutor Q.I. continuou freneticamente a ligar e desligar os
intercomunicadores, à procura dos inimigos.

— Aí estão! O Caspérides está com eles! Maldito! Acho que pretendem
chegar à casa de força! — concluiu o Doutor Q.I. ao ver o detetive Andrade, o
bioquímico e os quatro Karas correndo por um corredor. — Depressa! Dois de
vocês fiquem aí, tomando conta de Miguel. O resto corra atrás deles! Se eles
desligarem a força, estaremos perdidos! Eu quero todos eles vivos ou mortos. De
preferência, mortos!

    Os bandidos conheciam muito bem a planta da Pain Control e seu labirinto de
corredores. Logo os fugitivos estavam cercados e com o acesso à casa de força
cortado.

— Eles são muitos! Não vamos escapar! — gritou Andrade vendo o grande número de 
bandidos que se aproximava de armas na mão.

— Sim, sim, sim, não, não, não! —lembrou Márius Caspérides. — Venham
comigo!

     O bioquímico abriu a porta de um laboratório e todos começaram a entrar.
Um dos bandidos, vendo que não os alcançaria a tempo, ergueu a arma, fez
pontaria e atirou.
    O tiro reboou altíssimo dentro do ambiente fechado da Pain Control.
restava um dos fugitivos fora da porta do laboratório.
Era Chumbinho. Seu corpinho deu um tranco e o menino caiu para trás.

— Chumbinho! Não! — gritou Magrí antes que a porta se fechasse.

* * *

   Dentro do laboratório, protegido por uma grossa porta corta-fogo, a confusão
era geral:

— Chumbinho! Que horror! Ele foi baleado! 

    Calú tentou acalmar a menina:

— Talvez esteja apenas levemente ferido, Magrí!

— Levemente ou gravemente ferido, não há o que a gente possa fazer pelo
Chumbinho agora, a não ser tentar sair desta! Depressa, gente! — convocou
Crânio. — Tive uma ideia. Precisamos de fumaça, muita fumaça! Vamos
queimar...

— Fumaça? — interrompeu Caspérides. — Não é preciso queimar nada.
Posso misturar alguns produtos químicos e...

— Ótimo! Onde está o alarma de incêndio?

    Todos entenderam imediatamente o plano de Crânio. Magrí correu e acionou
o alarma de incêndio. No mesmo instante, uma sirene altíssima disparou. 
Eles sabiam que uma indústria moderna como aquela deveria ter o alarma de incêndio
ligado diretamente com o corpo de bombeiros. Era a última esperança!
   A porta que os protegia era reforçada, como deve ser em um laboratório que
trabalha com produtos perigosos e explosivos. Mas aquela não aguentaria por
muito tempo: do lado de fora, os bandidos haviam arranjado marretas e
machados e golpeavam a porta sem dó nem piedade.
   Calú agarrou um pesado banco e atirou-o contra a janela opaca e lacrada do
laboratório. O vidro estilhaçou-se com estrondo. Agora havia por onde sair a
fumaça que o bioquímico começava a provocar.
  Com a ajuda de Crânio, Caspérides misturou vários produtos e logo grossos
rolos de fumaça negra saíam pela janela quebrada do laboratório.

5 comentários:

Postagens

Não dê spoiller!
Deixem comentários e incentive a dona do blog a continuar postando! Façam pedidos!