quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 26 - Mocinhos e bandidos


— Me larga, seu gorila! Me solta!

— Fique quieta, menina! Eu não quero lhe fazer mal!

A gordura do detetive enganava muito. Andrade era forte como poucos.
Tinha agarrado o jovem mendigo com uma das mãos e a garota mendiga com a
outra. Por mais que se debatessem, os dois esfarrapados não conseguiam soltar-se.

— Fiquem quietos! Não tenham medo! Eu sei quem vocês são! — berrava o
detetive.

— Sabe nada! — berrava de volta o mendigo. — Nós somos dois pobres
mendigos. Não fizemos nada! O senhor não pode prender a gente!

— Eu não estou prendendo ninguém. Vocês são dois dos estudantes
sequestrados, não são? Você é a Magrí e você é o Crânio! Esse disfarce não
engana meu faro de detetive. Quero falar com vocês. Fiquem quietos!

    Andrade arrastou os dois para uma sala e fechou a porta.

— Você! — acusou a menina. — Você é da quadrilha de sequestradores!
Não se aproxime de mim!

— Magrí! Crânio! —suplicou o detetive. —Eu não sou nada disso. Confiem
em mim!

— Não! Você é o inimigo! — berrou Magrí. — Eu quero o detetive Rubens!
Exijo falar com o detetive Rubens!

   Andrade balançou a cabeça:

— Vocês não sabem a diferença entre mocinhos e bandidos! Pois saibam que
o detetive Rubens acaba de sair daqui sequestrando o prisioneiro Zé da Silva e um
rapazinho, que eu nem sei quem é!

— Calú? Sequestraram o Calú? — surpreendeu-se Crânio.

— Era o Calú? — assombrou-se mais ainda Andrade. — O outro sequestrado?
Mas, afinal, vocês três foram ou não foram sequestrados?

  Foi aí que Crânio percebeu o erro que os Karas tinham cometido. Ao se
fazerem de sequestrados, eles tinham se acusado para a quadrilha! Os bandidos
seriam os únicos a saber que eles não haviam sido sequestrados. E, se Andrade
pensava que eles faziam parte dos desaparecidos, então Andrade era inocente!
Diabo! Miguel tinha errado outra vez!

— Ele tem razão, Magrí — concluiu Crânio, segurando a menina enfurecida.

— Ele é amigo. Miguel enganou-se. O bandido é o Rubens. Calú caiu numa
armadilha!

* * *

    Crânio e Magrí contaram para Andrade tudo o que sabiam. E eles sabiam
agora que, além de Chumbinho, Miguel e outros garotos, Calú e Márius
Caspérides também estavam nas mãos da quadrilha.

— Quer dizer que esse tempo todo eu tive aqui, na delegacia, a única pista do
mistério? — perguntou Andrade.

— Pois é — confirmou Magrí. — Eu ouvi a conversa dos bandidos falando da
fuga de Márius Caspérides e da prisão de um tal Zé da Silva. Depois Crânio teve
o palpite: analisando a conversa que eu tinha ouvido, descobriu que as duas
pessoas eram uma só!

— Não foi uma questão de palpite — consertou Crânio. — Foi uma questão
de lógica.

    Andrade andava de um lado para o outro:

— Certamente Rubens levou Calú e Caspérides para o mesmo lugar onde
esconderam os outros.

   Magrí sorriu tristemente:

— O problema é saber onde fica esse lugar...

    Crânio fez aquela cara triunfante que sempre fazia quando tinha uma idéia
brilhante:

—Acho que temos um jeito de saber...

—Que jeito é esse? Fala logo!

* * *

    Àquela hora, a rua onde morava o bioquímico Márius Caspérides já estava
movimentada.
   Numa esquina, três homens corpulentos discutiam dentro de um carro preto
estacionado:

— ... a gente estava quase pegando o sujeito, quando o tal assaltante de
banco...

— O Zé da Silva.

— É. O Zé da Silva.

— E aí?

— Aí a gente foi em cana.

— É...

— Pense! Precisamos pensar!

— Tô com muito sono pra pensar!

    Um rapaz todo esfarrapado passou correndo ao lado do carro e jogou um
papel lá dentro. Em um segundo, o rapaz já tinha desaparecido.

— O que é isso? — perguntou o Animal.

— Um papel — respondeu o Coisa.

— E claro que é um papel, seu idiota!— reclamou o Fera. — Dá aqui!

    O Fera abriu o papel, que estava dobrado em dois.

— É um bilhete!

— E o que é que está escrito? — perguntou o Coisa.

— Hum... deixa ver... — resmungou o Fera. — Leia você, que eu estou sem
óculos.

— Mas você não usa óculos...

— Então preciso usar. Leia!

    O Coisa pegou o bilhete. Limpou a garganta com um pigarro e ficou olhando
para o papel.

— Tô com muito sono pra ler!

    O Animal perdeu a paciência e arrancou o bilhete da mão do Coisa:

— Dá isso aqui. Eu leio. Está escrito: O chefe quer ver vocês imediatamente.
Corram!

— O chefe? Deve ser o Doutor Q.I.!

— É claro que só pode ser o Doutor Q.I., seu burro! Que outro chefe nós
temos?

— Aqui diz corram. Acho melhor a gente andar logo! 
   
    O Fera deu a partida no carro preto.
    Não notou que estavam sendo seguidos por outro carro com um homem
gordo ao volante e dois jovens mendigos.

9 comentários:

Postagens

Não dê spoiller!
Deixem comentários e incentive a dona do blog a continuar postando! Façam pedidos!