quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 30 - Temos de continuar!


— Pois é isso, meus amigos. Com a ajuda da Interpol, investigamos direitinho
a Pain Control.

    Andrade e os cinco Karas tinham marcado encontro num lugar discreto, pois
assim havia pedido Miguel. E esse lugar era o zoológico.
   De camisa esporte, caminhando pelas alamedas do Zoológico de São Paulo,
com um sorvete na mão, o detetive Andrade mais parecia um professor cercado
por seus alunos. Naquele dia, Andrade não estava suando.

— O Doutor Q.I. comandava toda a organização em uma salinha secreta que
só tinha entrada pela sala da diretoria do Elite. Ali descobrimos o
intercomunicador. Mas a minha curiosidade era saber como o Doutor Q.I.
poderia ter controlado daquela maneira uma empresa importante como a Pain
Control. Com a ajuda da Interpol, porém, recebi a resposta em menos de um dia.

— Eu também tinha pensado nisso, detetive Andrade — disse Crânio. — O
que descobriu?

— Os acionistas da Pain Control estão espalhados pelo mundo inteiro. Uma
firma de advogados conseguiu uma procuração de todos eles para representá-los
na assembléia de acionistas. Acontece que o Doutor Q.I. controlava a tal firma
de advogados. Assim, foi fácil eleger testas-de-ferro para dirigir todas as filiais
da Pain Control, enquanto o próprio Doutor Q.I. ficava por trás de tudo,
comandando a todos.

— Eta sujeito brilhante! — comentou Calú.

— Um dos mais brilhantes criminosos que já conheci — concordou Andrade.

— E o que vai acontecer com os bandidos?

— Todos vão responder processo como co-autores dos sequestros e dos
assassinatos. A maioria dos funcionários e operários da Pain Control estava fora
da trama. Trabalhavam apenas com os medicamentos normais e nem
desconfiavam da existência da Droga da Obediência. Só vinte e poucos deles,
incluindo o Doutor Q.I. e o detetive Rubens, sabiam dos meninos sequestrados. A
área do prédio onde ficavam os sequestrados era proibida para os outros
funcionários.

— E o Bino?

— Já conseguimos pegá-lo. Ele agia sob vários nomes: Bino, Caca, Joca e
muitos outros. O plano era simples. Um dos bandidos aparecia em um colégio
pedindo que seu "filho" frequentasse as aulas por uma ou duas semanas até que
fossem liberados os documentos do colégio anterior. Fornecia um endereço falso
e pronto. Em geral, todos os colégios aceitam provisoriamente matrículas desse
jeito. Por isso o plano de colocar o Bino em qualquer colégio que quisessem
sempre dava certo.

— Bino também está preso?

— Ele é menor de idade. Está à disposição do Juizado. O juiz de menores é
que vai decidir a sorte do Bino.

    Estavam todos apoiados na mureta que dá para o fosso dos ursos-pardos.
Aquelas enormes almofadas marrons pareciam tão quentes e fofinhas que
Chumbinho ficou imaginando como seria gostoso descer até lá e abraçar-se com
um deles. Crânio quebrou o breve silêncio:

— Qual é o verdadeiro nome do Doutor Q.I.?

    Andrade estava acabando de comer a casquinha de biscoito do sorvete:

— Ainda não foi possível descobrir. Ele se recusa a falar e parece que não
existe ficha criminal dele em nenhuma parte do mundo. Mas, qualquer que seja
o seu nome, a coisa está bem ruim para o lado do Doutor Q.I....

— Com essa prisão, as coisas mudaram lá no Elite — informou Chumbinho,
esquecendo a vontade de abraçar os ursos.

— Mudou? Como?

— Com a saída do professor Cardoso, quer dizer, com a prisão do Doutor
Q.I., a Associação de Pais e Mestres assumiu a direção do colégio.

— E o que muda com isso?

— A direção — respondeu Chumbinho. — As decisões vão continuar sendo
tomadas pelo conselho de professores e alunos. Bem do jeitinho que era com o
Doutor Q.I. como diretor.

— É isso mesmo — concordou Magrí. — O sistema liberal do Elite é uma
criação do Doutor Q.I.!

— Ele foi capaz de criar um sistema democrático absoluto, de um lado —
raciocinou Crânio —, enquanto tentava criar a mais absoluta tirania, do outro...

   Andrade colocou as mãos nos ombros do líder dos Karas:

— Ele sabia olhar as coisas pelos dois lados, não é, Miguel?

— Era um crânio! — concluiu Magrí.

— Ei, espera aí! — protestou Crânio. — O único Crânio do mundo sou eu!

* * *

   No quarto de Miguel, o aparelho de televisão ligado jogava uma luz azulada
sobre o corpo do rapazinho estirado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos
cruzadas atrás da nuca.
   Miguel olhava com atenção para a querida imagem do detetive Andrade,
suando sob o calor das luzes dos refletores, no debate sobre o assunto do
momento: a Droga da Obediência.
   Educadores, psicólogos, sociólogos e figuras de respeito da sociedade
participavam do debate. Andrade, entre elogiado e pressionado, saía-se da
melhor forma possível.
   Enquanto as palavras do debate percorriam os sentidos do garoto, uma
sombra passou pelo seu ânimo. Uma ponta de remorso. Aquele policial tão
dedicado, que passara noites sem dormir investigando os sequestros. só tinha
merecido suspeitas por parte de Miguel. E Rubens, elegante demônio, tinha
enganado completamente o líder dos Karas.

— A sociedade inteira tem uma dívida de gratidão para com o senhor, detetive
Andrade — dizia um dos debatedores.

    Líder dos Karas! Que ironia! O pensamento de Miguel afundava cada vez
mais naquela dolorosa autocrítica. Que líder era ele, se tinha considerado
Chumbinho um fedelho intrometido, de quem os Karas deveriam livrar-se? Logo
Chumbinho, o pequeno herói que tinha enfrentado as piores situações sem
fraquejar jamais? Logo Chumbinho, que tinha passado aos Karas as mais
importantes informações que haviam possibilitado a solução daquele caso? E logo
Chumbinho, que tinha desligado a chave geral de energia da Pain Control,
evitando uma batalha sangrenta no final da história?
   Na televisão, um senhor muito afetado falava com entusiasmo:

— A questão mais importante a discutir neste debate é a própria Droga da
Obediência. Quais seriam realmente seus efeitos? Quais os seus danos?

   Líder dos Karas! Mas não tinha sido ele, o próprio Miguel, quem havia jogado
Chumbinho contra Bino, pensando que Bino era um inocente novato? Grande
líder! Nem mesmo a mensagem de Chumbinho ele tinha entendido... Ele
imaginara que o B da mensagem queria dizer que Bino tinha também sido
raptado, quando Chumbinho tentava informar que Bino era o oferecedor...
Quanto tempo perdido por causa daquele erro!

— Os efeitos da Droga da Obediência poderiam até ser bem-aplicados —
dizia outro debatedor. — Ou mal-aplicados, como no plano sinistro do Doutor
Q.I....

   Grande líder! Um líder que havia exposto todos os Karas à quadrilha do
Doutor Q.I., com a ideia de fingir que todos também haviam sido sequestrados.
Que ideia estúpida!

— Sequestrar e manter em cárcere privado dezenas de meninos e meninas foi
realmente um crime hediondo — protestou outro debatedor. — Mas é claro que
não podemos ficar contra a energia nuclear só porque jogaram uma bomba
atômica em Hiroxima!

   A depressão tinha tomado conta de Miguel. À sua memória vinha a imagem
do Doutor Q.I., tentando convencê-lo a fazer parte da quadrilha, com um argumento 
aterrador: não era ele, Miguel, uma espécie de pequeno ditador dos Karas?
Não era ele, Miguel, um autoritário? Ele era obrigado a concordar com o Doutor Q.I.
Sim, ele era um ditador. Sim, ele era um autoritário. E, mais que tudo, ele era um líder
incapaz, que havia errado várias vezes durante aquela batalha...
   Uma lágrima percorreu a face do garoto e foi salgar-lhe a boca no momento
em que ele decidia que o melhor era dissolver o grupo dos Karas. Ele não
poderia expor aqueles quatro maravilhosos amigos à sua incapacidade e ao seu
autoritarismo...
   Na televisão, o clima estava explosivo. Todos queriam falar ao mesmo
tempo, e Andrade, suando como nunca, tentava interromper o orador, que
berrava entusiasmadamente:

— A Droga da Obediência, como todas as descobertas científicas, é um bem!
Devemos pesquisá-la e usá-la com cautela, sob o controle das entidades
governamentais. Vivemos atualmente uma crise de autoridade, que pode ser
resolvida com a Droga da Obediência! Afinal de contas, um pouco de obediência
não há de fazer mal à nossa juventude!

    Os olhos de Miguel apertaram-se. Então todo aquele trabalho só tinha servido
para aquilo? As pessoas mais importantes da sociedade julgavam que a Droga da
Obediência poderia ser um bem?
    Miguel pressionou o botão do controle remoto e o televisor apagou-se.
Deitado no quarto às escuras, o rapazinho decidiu que não importavam os erros.
O que importava era a luta, que tinha de continuar. O que importava eram os Karas,
que tinham de continuar!
   Havia ainda muito a ser feito. Os Karas tinham vencido uma batalha, mas a
guerra ainda estava longe, muito longe de terminar!

38 comentários:

  1. muito bom, gostei muito

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  2. Amei a história,muito boa

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  3. legal , muito bom no inicio da muito medo mas depois das conquistas dos karas um grupo de jovem por em ação as ideias que imaginavam e seus disfarsses

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  4. alguem tem o resumo do capitulo 30?? preciso mt deleee

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  5. Li esse livro em sala de aula.. Gostei muito. Planejo ler todos os livros dos karas.

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  6. Gostei muito,e um livro muito organizado e merece valorização pela o povo , serve de exemplo aos jovens de hoje em dia . Que a droga só serve para nos deixa num efeito de idiota que não tem saída. Esse livro é nota infinito. ☺

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  7. Amei mt o livro,quando tempo vou ler mais da coleçao Karas!!❤

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  8. Obg salvo minha vidba erabmeu último dia antes da prova do livro eu peguei na biblioteca mas sou lerda para ler e tive q devolver sem terminar obg mesmo

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  9. Nss o melhor livro de todos, cada capitulo uma surpresa, AMEI!

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  10. ESTOU LI ESTE LIVRO DURANTE A QUARENTENA QUE ESTA TENDO POR CONTA DA PANDEMIA DE CORONAVIRUS, ACHEI INCRÍVEL EMBORA EU TENHA RECEBIDO UM SPOILER SOBRE O DOUTOR QI MESMO ASSIM ACHEI ESTE LIVRO O MAXIMO E ME FEZ REPENSAR MUITA COISA E ME FEZ ESQUECER UM POUCO DESTA PANDEMIA DE CORONAVIRUS QUE ESTA TENDO NO MUNDO

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  11. Qual é o resumo do capítulo 30

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  12. Gentee,deixando minha marca aq!Livro incrível

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