quarta-feira, 5 de março de 2014

Capítulo 13 - Nos dentes da morte

Os pulmões de Crânio retorciam-se à procura de oxigênio quando o garoto se
sentiu agarrado em seu mergulho para a morte. Deveriam ser piranhas, ou
jacarés, que vinham transformar seu afogamento em uma morte mais rápida.
Crânio apertou os olhos, preparando-se para o que não podia ser evitado. Era
um jacaré, na certa, que abocanhara o saco e agora o arrastava pela correnteza.
Parecia puxá-lo para cima, à tona.
Subitamente, uma lufada de ar entrou pela boca do saco, enchendo-lhe os
pulmões, trazendo-lhe mais alguns segundos de vida.
Por que o jacaré não mordia logo, para acabar de uma vez com aquela
agonia?
Sentiu um baque. Um choque contra alguma coisa dura. E um dente
comprido cortou o saco.
Pelo rasgão, o ar e a luz invadiram.
A luz fez o "dente" brilhar.
Era uma faca!
Crânio entendeu que a morte era aquilo, e que o demônio que viera buscá-lo
era um velho "jacaré", de faca na mão, olhando fixamente para ele. Desligou-se
daquela morte, fechando os olhos e mergulhando profundamente em um rio
mais calmo, feito de febre e exaustão.

* * *

Crânio não se lembrava de sonhos. Sua última lembrança era a imagem
assustadora da morte, que agora se misturava a uma frase muito estranha
impressa em uma camiseta, à sua frente: "South Dakota University "!
Aos poucos, acima da frase, um rosto sorridente, de óculos escuros, parecia
feliz em olhar para o rapazinho, como se admira um bebê que acaba de nascer.
— Robson! índio Robson!
— Moço novo! Resolveu acordar para a vida? Robson está contente!
— Então eu não estou...
— Morto? Quase. Por oito dias esteve quase... Crânio olhou as próprias mãos.
Eram duas trouxas amarradas com trapos que seguravam camadas de folhas
gordurosas.
— O cemitério de jacarés... você desapareceu... você... me tirou do rio...
— Não. Foi Pacaman.
— Quem?
— Você está na aldeia dos Taí-pitá, moço novo. Os dois brancos que o
carregavam estão no fundo do rio. Pacaman não erra uma flecha.
— Oh, Robson, o que é tudo isso? Você precisa me expli...
— Agora não, moço novo. Descanse. A infecção foi muito grande. Teve uma
semana de canto e pajelança pra tirar você da morte. Agora durma. Desta vez
você escapou.
A palhoça era escura e Crânio adormeceu novamente, lembrando-se que
aquela era a segunda vez que ele sobrevivia ao Pantanal.
Parecia entardecer quando Crânio abriu novamente os olhos. Ergueu-se da
rede, com dificuldade. Estava numa palhoça. Sob seus pés, uma esteira cheia de
pedras redondas, uma sacola de lona, gamelas com unguentos estranhos, penas,
cachimbos e uma moringa d'água.
Bebeu quase toda a água. Sentou-se sobre as pernas e sentiu saudades de sua
gaitinha. O que teria acontecido com Bezerra? O que teria feito o Centurião ao
descobrir a troca de "cadáveres"? Bezerra teria conseguido salvar-se? Teria
falado com a polícia?
Abriu a sacola de lona. Uma lanterna, um facão, uma bússola, fósforos e uma
infinidade de analgésicos, antitérmicos e antibióticos. Ergueu a pontinha da trouxa
de trapos de uma das mãos. Por baixo das folhas e dos unguentos, havia um
curativo perfeito de gaze e esparadrapo!
— Robson já ajudou na enfermaria da Funai, moço novo — a figura do índio
de óculos escuros recortava-se contra a entrada da palhoça. — Os Taí-pitá foram
buscar a sacola lá na chalana afundada. Robson achou que a penicilina podia dar
uma ajuda aos cantos e à pajelança...
Crânio sorriu. Pensava nunca mais tornar a ver aquele índio. E agora devia
sua vida a ele.
— Quem são esses Taí-pitá?
— Veja por você mesmo, moço novo. Você já está melhor. Venha comigo.
Peorê mandou buscá-lo.
— Peorê? Quem é Peorê?

* * *

No centro de um círculo formado pelas palhoças da aldeia, um pequeno
grupo de índios esperava pelo garoto.
Crânio esfregou os olhos. A claridade era pouca para ofuscar-lhe a visão. Mas
o que ele via ofuscava por completo as idéias que sempre fizera sobre os índios
do Brasil.
Era um grupo de velhos. O mais novo deles, um gigante, aparentava uns
sessenta anos. Mas parecia forte como um jovem. Todos cobriam-se
parcialmente com peles de jacaré em tiras, e a cabeça do animal, como um
capacete, emoldurava-lhes os rostos, que apareciam encaixados na bocarra
escancarada dos jacarés. Pinturas de urucum e jenipapo cobriam-lhes os corpos.
Estavam paramentados para alguma guerra. Contra quem?
Ao lado do garoto, Robson cochichou:
— Estes são os Taí-pitá, moço novo. Uma tribo de velhos. Talvez nem seja
uma tribo, pois cada um vem de um povo diferente. São terenas, caidiveus,
guaranis, guatós, paiaguás, guaicurus... Só estão juntos por causa de Peorê.
O olhar de Crânio focalizou o centro do grupo. Não era preciso apontar quem
era Peorê.
Poderia ter cem anos. Ou mais. Ninguém saberia definir. Mas ninguém podia
negar a autoridade que emanava aquela figura impressionante. A figura de um
líder. Daqueles que quando dizem "vamos!" todos vão, sem perguntar aonde nem
por quê.
— Como você veio parar aqui, Robson? — perguntou Crânio, bem baixinho.
— Peorê mandou buscar Robson. Afundaram nossa chalana. Agarraram
Robson e deixaram o moço novo sozinho.
— Por quê? O que os Taí-pitá queriam com você?
— Peorê é o pai do avô de Robson...
— Seu bisavô?
— Peorê é um guaicuru, como Robson. Os guaicurus foram índios cavaleiros
no passado. Peorê é um dos poucos que restam. Um dos poucos que não andam
bêbados, pelas vilas, pedindo esmolas...
— Onde estão os moços, Robson? Onde estão as crianças da tribo?
— Não há crianças. Não há jovens. Os Taí-pitá estão desaparecendo. Como
os jacarés. Como o Pantanal, que eles defendem...
O grupo de velhos índios estava estático, como em um quadro. Crânio e
Robson cochichavam entre si como se estivessem num museu, observando
aquele quadro. O rapaz lembrou-se do Senador e da comparação que fez dos
índios pantaneiros com um quadro de Van Gogh que estaria desaparecendo do
mais completo museu do mundo.
Como se o quadro falasse, a voz do índio centenário quebrou aquela
expectativa.
— Araguaçu!
Era um chamado. Uma ordem. Robson avançou, vacilante, e postou-se ao
lado de Peorê.
Então o verdadeiro nome de Robson era Araguaçu? Então aquele guia alegre,
de óculos escuros, radinho de pilha e camiseta impressa com o nome de uma
universidade americana era bisneto de um rei da cultura pantaneira, quase em
extinção? Então aquele índio fantasiado de branco era um príncipe? Araguaçu
tinha virado Robson? Seria este o destino dos índios do Brasil?
Peorê falou. Mas não era possível compreender as palavras. Tudo o que
Crânio pôde entender foi a segurança e a decisão de seu discurso. O gigante falou
também. Sua fala era arrogante, agressiva, dura. Entre os dois, assustado, Robson
parecia um recém-formado advogado que defendia sua primeira causa, mas já
sentia o gosto da derrota.
— O moço novo é gente boa. Não é um coureiro.
A fala do gigante, que Crânio logo percebeu ser Pacaman, voltou agressiva,
discordante, agora já uma ameaça. E o gênio dos Karas entendeu contra quem
era aquela ameaça.
— Fale português, Pacaman, para o moço novo entender — pediu Robson.
Quem falou foi Peorê.
— Índio que esquece a própria língua fica mudo!
— Mas todos aqui sabem português — argumentou o guia índio. — Todos já
viveram nas cidades. Por que então...
— Porque índio na cidade dos brancos deixa de ser índio e não consegue virar
branco, Araguaçu! — cortou Peorê. — Você é neto do filho de Peorê. Você é
um guaicuru. Não virou branco tentando viver como um branco. E deixou de ser
índio. O que você é agora, Araguaçu? Você não é mais nada!
Robson tentou falar. Mas seus argumentos travaram-se na garganta.
— Por que tapa o sol com vidros negros, Araguaçu? De que se esconde,
Araguaçu? Da luz? A luz sabe que você é um guaicuru. Você tem vergonha de
ser um guaicuru?
A luz não tem vergonha de ser luz, mesmo quando ela tem de desaparecer, à
noite. A luz sabe que o dia voltará, e ela será luz novamente. Saia dessa noite,
Araguaçu. Seja luz novamente!
O guia índio estava nervoso, mas não baixava a cabeça. Não sabia mais como
tratar a si mesmo. Se Robson ou Araguaçu. Resolveu ficar no meio. Pela
primeira vez, tratou a si mesmo como "eu".
— Peorê viveu a vida toda junto com os brancos, como eu. Foi guia no
Pantanal, como eu. Aprendeu tudo do mundo dos brancos, como eu. Por que
tenho de me envergonhar por fazer as mesmas coisas que Peorê?
— Peorê ensinou Araguaçu a ser guia no Pantanal — falou o velho índio,
pausadamente. — Araguaçu aprendeu muito bem. Agora, Peorê mandou Taípitá
pegar Araguaçu no cemitério dos jacarés porque tem coisas mais
importantes para ensinar. Mas Araguaçu tem de mudar. Peorê quer que
Araguaçu volte a ser gente. Quer que Araguaçu volte a ser um guaicuru. Que
volte a ser um índio. Peorê quer que Araguaçu seja o novo guardião do segredo
Taí-pitá!
O gigante Pacaman trovejou, em protesto.
— O novo guardião do segredo Taí-pitá deve ser Pacaman!
Peorê sacudiu a cabeça.
— Pacaman é violento. A guarda do segredo Taí-pitá não pode ser feita com
sangue!
— Derramar o sangue dos brancos é a única maneira de impedir que seque o
sangue dos índios!
— Não é matando que se vive, Pacaman. É sobrevivendo que se vive!
Peorê estava imóvel, como uma estátua falante. Mas Pacaman usava o corpo
todo para argumentar. Batia com a lança no chão, curvava-se, agitava os braços.
A expressão de seu rosto encaixado entre os dentes do jacaré era negra e
vermelha, de tinta e de raiva.
— O Pantanal ensinou Pacaman a ser um índio. Mas Pacaman viveu muito
tempo servindo os brancos. Pacaman aprendeu muito com os brancos. Aprendeu
até a ser um índio melhor. O índio tem de ser como o homem branco e tem de
ser como a onça. Para avançar silenciosamente, tem de ser a onça. Para matar,
tem de ser o homem branco e saber usar a zagaia. Pacaman aprendeu que tem
de ser a fera silenciosa da natureza e a fera assassina da civilização dos brancos.
Para sobreviver, tem de matar!
Peorê falou, como uma sentença definitiva:
— O segredo Taí-pitá não é um segredo de morte. É um segredo de vida. É a
única saída para a sobrevivência dos índios. Peorê recebeu esse segredo das
mãos do avô. Peorê guarda esse segredo toda a vida, mas agora está na hora de
passar a guarda para outro.
A voz do gigante respondeu, ameaçadora:
— Para Pacaman! Pacaman saberá guardar o segredo Taí-pitá, como sabe
guardar a vida dos jacarés. Os coureiros estão destruindo os jacarés. Pacaman
destrói os coureiros e enche a boca deles com formigas, para que os outros
aprendam o que lhes acontecerá!
Os coureiros mortos no cemitério de jacarés! O coureiro magro, com
formigas carnívoras na boca, morto perto da fazenda do Senador! Fora
Pacaman! Então... os Formigas-paradas! Aqueles eram os Formigas-paradas!
Taí-pitá queria dizer Formigas-paradas! Crânio estava em poder dos espíritos
assassinos do Pantanal!
— Pacaman já andou demais pelos caminhos da morte!
Por um instante, Crânio sentiu uma ponta de frustração. Ele deduzira errado.
Os Formigas-paradas não tinham nada a ver com o Ente. Os coureiros não
estavam sendo mortos pelos bandidos do Centurião. Aqueles velhos índios nada
tinham a ver com o crime organizado. Eles eram as vítimas que tentavam se
organizar para morrer com dignidade...
Crânio passara uma pista falsa ao piloto Bezerra. "Mas isso não tem
importância!" — pensou. — "O que importa é que eu sei quem é o Ente! Ah, isso
eu sei!"
Peorê desafiava o gigante.
— Pacaman pode matar todos os homens brancos?
— Pacaman pode morrer tentando!
Crânio sabia que ele era o centro daquela discussão, embora ninguém olhasse
para ele. Sabia que sua vida estava em jogo. Peorê e Pacaman discutiam um
com o outro, mas não pretendiam, com seus argumentos, convencer um ao
outro. Era o grupo inteiro que eles pretendiam convencer, como se aquele grupo
de índios velhos fosse o corpo de jurados de um julgamento e o garoto o réu!
Quase imperceptivelmente, o grupo se movia. Em pouco tempo, Crânio foi
cercado pelos Taí-pitá. Ficou no centro do círculo, com sua vida nas mãos de
Peorê. Ou de Pacaman...
A lança curta de Pacaman zunia em volta de Crânio, perigosamente
manipulada em círculos pelo velho gigante, que girava em volta do garoto com
uma expressão incendiada pelo urucum.
— Pacaman tirou o menino coureiro do rio. Pacaman cantou, Pacaman
dançou, Pacaman fez pajelança e os espíritos do rio não levaram a vida do
menino coureiro. Agora, a vida do menino coureiro é de Pacaman!
A ponta da lança foi encostada na garganta de Crânio. Imóvel, Pacaman tinha
terminado seu discurso. A palavra agora era de Peorê.
O índio centenário estava de pé. Sua figura encarquilhada tinha a imponência
de um deus. Sua voz firme tinha a segurança de um sábio que tudo aprendeu da
vida, e chegou ao fim dela com todas as dúvidas.
— O homem branco está matando os jacarés. O homem branco está
matando o Pantanal. O homem branco está expulsando o índio e cercando a
liberdade das terras. Por isso Peorê voltou para a aldeia. Por isso Peorê reuniu os
Taí-pitá.
Com o braço estendido, o velho índio apontou por toda a sua volta, como que
incluindo a natureza em sua argumentação.
— Mas de que adiantou reunir essa nova tribo? Os Taí-pitá são velhos e
poucos como os jacarés. Peorê aprendeu a falar a língua dos jacarés. Mas Peorê
não fala mais a língua guaicuru. Nenhum índio mais fala a língua guaicuru.
Talvez as últimas palavras do meu povo estejam perdidas entre as árvores,
sendo repetidas pelos papagaios. Mas os papagaios não sabem o que falam. Não
podem transmitir a sabedoria guaicuru para as crianças. Não podem manter
unida nossa tribo.
Crânio permanecia imóvel. Olhos nos olhos de Pacaman, não conseguia ler
seu destino. Só podia esperar.
— Peorê reuniu índios como ele só para que todos morram juntos como
morrem as velhas árvores que não deixaram sementes? Não. Peorê chamou
todos os índios que não aceitaram o mundo dos brancos. Todos que queriam
voltar a ser índios. E a esses Peorê ofereceu uma esperança. A esperança do
segredo Taí-pitá!
O que seria o segredo Taí-pitá? O que seria o segredo dos Formigas-paradas?
A ponta da lança na garganta e o medo impediam Crânio de engolir, mas não o
impediam de pensar.
De dentro do manto de tiras de pele de jacaré, Peorê tirou um pacote. Um
pacote embrulhado também em couro de jacaré escurecido pelo tempo.
— Durante todos esses anos, até mesmo durante o tempo em que viveu entre
os brancos, Peorê guardou o segredo Taí-pitá. A esperança Taí-pitá. O feitiço
que o avô de Peorê deixou antes de morrer. Peorê não conhece o segredo, mas
sabe que aqui está o feitiço que impedirá que o índio desapareça. Aqui está o
segredo que fará com que o índio volte a ser forte, volte a ser muitos, volte a
caçar livremente pelo Pantanal!
A voz do velho índio alteou-se.
— Este é o feitiço da vida, Pacaman! Não o feitiço da morte. Enfrentar o
branco é o mesmo que justificar o assassinato do índio. Morrer lutando não é
tentar viver. Viver tentando é resistir. Pacaman tirou duas vezes este menino do
espírito da morte. Então Pacaman sabe dar a vida. A vida do menino é de
Pacaman. Pacaman deve devolver a vida ao menino!
A lança tremeu apoiada no pescoço de Crânio quando aquele discurso foi
interrompido pela invasão de mais alguém, que chegava falando excitadamente.
Pacaman voltou-se para a voz recém-chegada, retirando a lança. Crânio
quase desfaleceu nos braços de Robson, que correu a ampará-lo.
Quem falava agora era uma índia, tão velha quanto os outros.
Abraçando o prisioneiro, Robson traduziu:
— A mulher diz que tem mais gente presa no lugar de onde você fugiu.
Menino pequeno, menina bonita, homem gordo, sem cabelos... Homem gordo
chora, enxuga careca com pano...
Crânio afastou-se do abraço de Robson e cambaleou, tonto pela fraqueza e
pela revelação. Eram seus amigos! Só podiam ser seus amigos! Tinham vindo
salvá-lo e caíram nas garras do Centurião!
— São meus amigos, Robson! Me ajude a salvá-los! Me leve até lá!
Fez-se silêncio na mesma hora. Era a primeira vez que os Taí-pitá ouviam a
voz de Crânio. A todos pareceu estranho que o prisioneiro não implorasse pela
própria vida, mas pedisse ajuda para socorrer outros condenados.
Crânio voltou-se para o centenário líder dos Formigas-paradas.
— Peorê falou em vida. Me ajude! Me ajude a salvar a vida dos meus
amigos!
A febre parecia voltar. Sua excitação não era normal. Agarrou a lança de
Pacaman e enfrentou o olhar gelado do velho gigante.
— Minha vida é sua, Pacaman. Seja então dono de mais três vidas! Depois
faça o que quiser com a minha!
A noite já tinha caído completamente sobre a aldeia, e os olhos de Pacaman
ressaltavam-se como duas luas no negro-rubro de seu rosto.
— Pacaman vai!
O guia índio amparou novamente o rapaz.
— Robson vai, moço novo!
A voz calma de Peorê coroou a decisão.
— Os Taí-pitá vão!

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