quinta-feira, 6 de março de 2014

Capítulo 14 - Eles vão continuar matando!

A sala dos médicos parecia pequena para tanta gente.
Os cinco Karas estavam agora cercados pelos agentes federais, e Andrade
agia como um pai que procura proteger os filhos de alguma ameaça pouco
definida.
O Doutor Pacheco movia os olhos do rosto de Chumbinho para uma foto que
trazia nas mãos e de volta para o menino, sem saber o que pensar:
— Impressionante! Impressionante!
A confusão reinou por mais algum tempo. Os federais queriam expulsar os
meninos do hospital e permanecer apenas com Chumbinho. Andrade esfalfava-se,
vociferava, ameaçava novamente com a imprensa, tentando manter o grupo
unido, e exigia maiores explicações para o estranho comportamento do Doutor
Pacheco e dos federais.
Aos poucos, mais uma vez, o gordo detetive conseguiu o que exigia, e o
Doutor Pacheco concordou em explicar tudo, mesmo na frente daquelas cinco
jovens testemunhas, que ele se recusava a admitir que poderiam ter alguma
coisa a ver com o caso.
— O senhor está me levando à loucura, detetive Andrade! Está bem! Sente-se
e pare de gritar que eu lhe digo o que está acontecendo!
— Eu sei ouvir muito bem em pé, Doutor Pacheco!
Por um momento todos se calaram dentro da sala dos médicos. O Doutor
Pacheco esperou um pouco para assegurar-se de que a paz estava mesmo
restabelecida e estendeu a foto para Andrade:
— Veja o senhor mesmo, detetive Andrade!
O gordo detetive pegou a foto e estranhou:
— Uma foto de Chumbinho? O que o senhor está fazendo com uma foto de
Chumbinho?
— A foto não é de nenhum chumbinho nem ferrinho, detetive Andrade! É
uma foto do menino Max Godson, o Esperado!
Dessa vez todos os Karas começaram a falar ao mesmo tempo e foi preciso
mais algum esforço para controlar a situação. Mas Magrí só se calou depois que
Andrade obteve licença para repetir para os Karas, palavra por palavra, tudo o
que a Polícia Federal sabia sobre Max Godson e sobre a Organização.
— Em que ninho de vespas nos metemos, pessoal! — exclamou Chumbinho,
todo feliz por sentir-se o centro das atenções: — Quer dizer que o tal nazistinha é
parecido comigo? Deve ser muito bonito esse danado!
Miguel interrompeu a euforia do amigo e impôs-se, exigindo a atenção de
todos os presentes. Mesmo os experientes membros da Polícia Federal
dobraram-se à força do rapaz, cujo poder de liderança era claríssimo.
— É preciso agir depressa! Se o tal Max Godson chega amanhã, não podemos
perder tempo. O que a Polícia Federal pretende fazer? Descobrir quem receberá
o garoto no aeroporto de Cumbica? Segui-lo depois? Descobrir para onde ele será
levado? E daí? As forças policiais de todo o mundo têm espionado esse menino,
Max Godson, na África do Sul, têm até tirado fotografias dele, mas o que
descobriram até agora? Como saber quais os planos da tal Organização? Sendo ou
não espionados por vocês, eles vão continuar matando!
O Doutor Pacheco perdeu a paciência com a petulância daquele rapazinho
que ousava tomar satisfações da Polícia Federal:
— O que você sabe de nossos métodos, menino? É muito irregular tudo o que
está acontecendo por aqui! Você nunca deveria ter ficado sabendo de tudo isso!
O que você tem de fazer agora é voltar para casa e ir para a cama, que é onde
deveria estar um rapaz da sua idade a uma hora destas!
Andrade interrompeu:
— O senhor não conhece este rapaz, Doutor Pacheco. Se quer o meu
conselho, é melhor tê-lo ao seu lado do que contra o senhor...
Miguel procurou ser conciliador:
—- Desculpe, Doutor Pacheco, estar interferindo no seu trabalho. Acontece
que Solomon Friedman era um grande amigo de Calú e todos estamos querendo
ajudar a Polícia Federal a descobrir quem assassinou o amigo do nosso amigo.
Não quero prejudicar o seu trabalho; quero apenas sugerir uma maneira de
descobrirmos de uma vez por todas tudo o que está por trás dessa sinistra
Organização.
— Muito bem, rapazinho. O que você sugere? Que prendamos o tal Max
Godson e quem mais vier recebê-lo no aeroporto? Sob que acusação? Como
poderemos interrogá-lo? Até o momento, a Organização não cometeu nenhum
delito às claras que nos autorizasse a...
— Nada de prender ninguém, Doutor Pacheco. O meu plano é o seguinte...
— É claro que eu topo! — concordou Chumbinho, que jamais tirava o corpo
fora, mesmo diante de uma missão arriscada como aquela. — O problema é que
eu não falo alemão!
— Mas eu falo! — atalhou Calú. — O senhor não disse, Doutor Pacheco, que
o tal Max Godson vem na companhia de um rapaz um pouco mais velho, que
tem sido companheiro dele na África do Sul? Eu serei esse rapaz!
— Mas você não é nem um pouco parecido com o jovem companheiro de
Max Godson! — argumentou Andrade.
— Isso não importa! Temos de arriscar! — atalhou Magrí. — Talvez nenhum
membro da Organização, aqui no Brasil, conheça o companheiro de Max
Godson. E, além de tudo, Calú é um ator. Ele saberá convencer quem ele quiser
de tudo o que ele quiser!
E olhou com orgulho para Calú.
Meio enciumado, Miguel repetiu a última parte do seu próprio plano,
reforçando os argumentos:
— É só deter Max Godson e seu amigo por algum tempo. Calú e Chumbinho,
fazendo-se passar pelos dois, serão recebidos imediatamente e levados embora.
Aí, será só os agentes federais seguirem discretamente o carro em que os dois
forem embarcados e...
O Doutor Pacheco abriu os braços:
— Esse é o plano mais maluco que já ouvi! Como vamos manter os dois
viajantes detidos "por algum tempo"? E o que vamos fazer com... Espere aí! O
que eu estou dizendo? É claro que eu não posso deixar vocês se envolverem nisso,
seus fedelhos! Vocês estão me pondo maluco! Vou perder meu cargo se permitir
que vocês continuem com essa história! E os seus pais? A polícia existe para
manter a população afastada de confusões e não pode permitir que jovens como
vocês se envolvam em nossos problemas! Não, não e não! Está encerrado!
Chega!
Crânio resolveu entrar na discussão, usando uma tática diferente. Era quase
impossível imaginar que os Karas pudessem se envolver numa investigação com
a Polícia Federal, como se fossem adultos, mas ele acreditava na sua própria
capacidade de persuasão:
— O Doutor Pacheco tem razão, pessoal. Nenhum de nós pode discutir com a
experiência de uma autoridade policial como ele. Como está, o plano tem muitos
pontos fracos e o Doutor Pacheco não poderia concordar com ele. Vai ser difícil
deter os dois nazistinhas no aeroporto de Cumbica sem criar um incidente
internacional...
— Eu não disse? — interrompeu o agente de óculos escuros. — Esse plano
não passa de uma estripulia de crianças!
— Só que é possível fazer uma boa estripulia, Doutor Pacheco — continuou
Crânio. — Acho que não será difícil para o senhor, com toda a sua autoridade,
conseguir que o comandante do avião desvie o pouso para o aeroporto de
Viracopos, em Campinas, em vez de pousá-lo no aeroporto de Cumbica, em
Guarulhos...
— Ora, garoto! Isso é impossível! Onde já se viu desviar a rota de um Jumbo
daquele tamanho sem uma razão muito forte?
Crânio agia com um cinismo incrível:
— Então está bem, Doutor.Pacheco... Vamos esquecer tudo isso. Eu pensei
que o senhor tivesse autoridade suficiente pelo menos para desviar um simples
avião pelo bem da segurança nacional...
O agente pôs-se em brios:
— Você está duvidando da minha autoridade? Quem lhe disse que eu não
tenho autoridade para desviar um aviãozinho daqueles?
— Mas é um Jumbo, Doutor Pacheco...
— O que importa não é o tamanho do avião, rapazinho! É o tamanho da
autoridade! O que é que você está pensando?
— Ótimo! Temos sorte de contar com o apoio de uma autoridade como o
senhor. Então é só ordenar para o comandante do Jumbo que desvie o pouso para
o aeroporto de Viracopos, em Campinas, sem avisar os passageiros. Os dois
garotos, que naturalmente não conhecem qualquer aeroporto brasileiro, vão sair
para o saguão como se tudo estivesse normal. Na certa eles vão fazer algum
sinal, vão usar uma senha, qualquer coisa que atraia os homens que estariam ali
para recebê-los e que mostre para eles que está tudo normal para o contato.
Naturalmente não haverá ninguém, Doutor Pacheco, mas agentes seus,
disfarçados, estarão espionando cada gesto dos dois. Será só telefonar para o
aeroporto de Cumbica, onde nós estaremos, e informar todos os gestos feitos
pelos dois rapazes. Bastará então que Calú e Chumbinho saiam para o saguão do
aeroporto de Cumbica e façam os mesmos gestos. Desse modo, os homens que
estarão lá para receber os dois nazistinhas não desconfiarão de nada e farão
contato com Chumbinho e Calú com toda a tranquilidade!
— Genial! — exclamou o Doutor Pacheco.
— Não sou? — sorriu Crânio, triunfante.

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