quarta-feira, 2 de abril de 2014

Capítulo 11

Após o ataque, o comando militar fez uma reunião na ala hospitalar, já que muitos soldados estavam
internados.
— Encaramos como um sucesso a perda de apenas dois homens esta noite — o comandante
anunciou. — Considerando o número de rebeldes, nossas poucas baixas são um testemunho a favor
do treinamento e da capacidade de cada um de vocês.
Ele fez uma pausa, como se esperasse nossos aplausos, mas estávamos exaustos demais para isso.
— Detivemos vinte e três rebeldes para julgamento após interrogatório, o que é fantástico.
Contudo, estou desapontado com a contagem de corpos — nesse momento, ele nos encarou. —
Dezessete. Dezessete rebeldes mortos.
Avery baixou os olhos. Já tinha confessado que dois eram dele.
— Vocês não devem matar, a não ser que outro soldado esteja sob ameaça direta, ou que a família
real seja atacada. Precisamos dessa escória viva para os interrogatórios.
Escutei uns muxoxos pela enfermaria. Eu não gostava daquela ordem. Poderíamos acabar as coisas
muito mais rápido se simplesmente eliminássemos os rebeldes que invadiam o palácio. Mas o rei
queria suas respostas, e diziam por aí que havia torturas especiais para extrair informações dos
rebeldes. Esperava nunca descobrir quais eram.
— Dito isso, todos vocês fizeram um excelente trabalho para proteger o palácio e reprimir o
ataque. Quem não estiver entre os poucos pacientes graves pode seguir a escala habitual. Se possível,
durmam um pouco, e preparem-se. O dia será longo com o palácio nesse estado.
O chefe dos mordomos achou melhor que a família real e as garotas da Elite realizassem suas
tarefas do lado de fora enquanto os funcionários trabalhavam para deixar o palácio apresentável de
novo. As visitantes da Federação Alemã e da realeza italiana chegariam em poucos dias, e as criadas
já estavam sobrecarregadas com os preparativos.
O sol escaldante, o cansaço extremo e o uniforme engomado me deixavam desconfortável.
Somando-se a isso a dor terrível do machucado na minha cabeça, as feridas ocultas do
estrangulamento e um ferimento na perna que eu nem sabia como tinha adquirido, estava
praticamente em frangalhos.
A única coisa boa daquele dia era poder ficar perto de America. Ela estava sentada ao lado de
Kriss, planejando a organização do evento. Com exceção de Celeste, nunca tinha visto America
irritada com as outras garotas, mas sua linguagem corporal denunciava que ela não estava feliz com a
companhia. Kriss, porém, parecia completamente alheia a isso; não parava de falar com America e,
de tempos em tempos, lançava um olhar para Maxon. Fiquei incomodado ao notar que America
fazia o mesmo, mas duvidei que seus sentimentos tivessem mudado. Como ela poderia olhar para ele
e não lembrar dos gritos de Marlee?
As tendas e mesas espalhadas pelo gramado davam a impressão de que a família real estava
realizando uma festa no jardim. Se não tivesse visto com meus próprios olhos, jamais adivinharia que
o palácio havia sido saqueado. Todos ali costumavam esquecer os ataques e seguir em frente.
Não sabia se ignoravam os ataques porque pensar muito sobre eles os tornava mais assustadores, ou
simplesmente porque não havia tempo a perder. Ocorreu-me que, se a família real parasse para
pensar sobre os ataques, talvez descobrissem um jeito melhor de impedi-los.
— Não sei nem por que me dou ao trabalho — o rei disse, um pouco alto demais. Em seguida,
entregou um papel a alguém e ordenou discretamente: — Apague as anotações de Maxon; só
servem para causar distrações.
Enquanto essas palavras preenchiam meus ouvidos, minha visão era ocupada apenas pelo olhar de
America. Ela me observava atentamente. Pude notar sua preocupação com as bandagens na minha
cabeça e com meus passos mancos. Pisquei para ela na tentativa de acalmá-la. Não tinha certeza se
conseguiria passar o dia inteiro fazendo rondas e depois ainda pegar o posto de guarda na frente de
seu quarto à noite. Mas se esse fosse o único meio de…
— Rebeldes! Corram!
Olhei depressa para os portões do palácio. De certo alguém se confundira.
— O quê? — perguntou Markson.
— Rebeldes! Dentro do palácio! — berrou Lodge. — Estão chegando!
Vi a rainha levantar num piscar de olhos e, sob a proteção de suas criadas, correr para uma entrada
secreta na lateral do palácio.
O rei juntou sua papelada. No lugar dele, estaria mais preocupado com meu pescoço do que com
qualquer informação vazada, seja qual fosse.
America ainda estava em sua cadeira, paralisada. Dei um passo em sua direção, mas Maxon entrou
na minha frente e jogou Kriss em meus braços.
— Corra! — ordenou.
Hesitei um pouco, pensando em America.
— Corra! — repetiu.
Fiz o que era preciso e disparei a correr; Kriss não parava de gritar o nome de Maxon. Em poucos
segundos, tiros já ecoavam, e o palácio foi inundado por uma multidão composta quase igualmente
por rebeldes e soldados.
— Tanner! — gritei, impedindo-o de seguir para a batalha.
Botei Kriss em seus braços e instruí:
— Siga a rainha.
Ele obedeceu sem questionar, e voltei para buscar Meri.
— America, não! Volte! — Maxon gritava.
Segui seu olhar repleto de pânico e vi America correndo freneticamente para a floresta com
rebeldes em seu encalço.
Não.
O ritmo dos disparos dos guardas acentuava os passos de America, apressados e arriscados. Os
rebeldes, com suas sacolas lotadas, quase a alcançavam. Pareciam mais jovens e atléticos que os da
noite anterior. Cheguei a me perguntar se não eram seus filhos, tentando terminar o que os pais
haviam começado.
Saquei o revólver e me posicionei. Estava com a nuca de um rebelde na mira. Disparei três tiros
rápidos. Errei todos quando ele ziguezagueou e correu para trás de uma árvore.
Maxon ensaiou uns passos desesperados rumo à floresta, mas seu pai o agarrou antes de ele ir longe
demais.
— Parem! — Maxon gritou, livrando-se do braço do pai. — Vocês vão acertá-la! Cessar fogo!
Embora America não fosse da família real, eu duvidava que alguém ficaria bravo caso matássemos
aqueles rebeldes sem mais delongas. Corri para a frente, posicionei-me de novo e atirei duas vezes.
Nada.
Maxon me agarrou pelo colarinho.
— Eu disse cessar fogo!
Apesar de eu ser uns cinco centímetros mais alto do que ele, e geralmente considerá-lo um
covarde, a fúria em seus olhos naquele momento impunha respeito.
— Perdão, senhor.
Ele me soltou com um empurrão, para depois me dar as costas e passar a mão no cabelo. Nunca o
tinha visto tão consternado. Me lembrou de seu pai quando estava prestes a explodir.
Tudo que ele demonstrava por fora, eu sentia por dentro. Uma das garotas da Elite desaparecera; a
única mulher que eu já amara estava perdida. Não sabia se ela seria capaz de correr mais rápido que
os rebeldes ou encontrar um esconderijo. Meu coração acelerava de medo e se despedaçava com o
desespero ao mesmo tempo.
Prometera a May que não deixaria ninguém machucá-la. Falhei.
Olhei para trás, sem saber ao certo o que esperava encontrar. As garotas e os funcionários já
estavam seguros. Não havia ninguém além do príncipe, do rei e de uns dez guardas.
Maxon finalmente nos encarou. Sua expressão era a de um animal enjaulado.
— Encontrem-na. Encontrem-na agora! — berrou.
Considerei a possibilidade de simplesmente correr floresta adentro, na tentativa de alcançar
America antes dos rebeldes. Mas como a encontraria?
Markson deu um passo à frente.
— Venham, rapazes. Vamos nos organizar.
Fomos atrás dele.
Meus passos estavam vacilantes e eu tentava me acalmar. Precisava estar atento a tudo. Vamos
encontrá-la, prometi a mim mesmo. Ela é mais forte do que imaginam.
— Maxon, vá para junto de sua mãe — ouvi o rei ordenar.
— O senhor não pode estar falando sério. Como posso ficar em um abrigo enquanto America está
desaparecida? Ela pode estar morta!
Olhei para trás e vi Maxon se contorcer e arfar, quase vomitando só de pensar naquilo.
O rei Clarkson endireitou o corpo de Maxon, agarrando-o firme pelos ombros, e o sacudiu.
— Recomponha-se! Precisamos de você a salvo. Vá. Agora.
Maxon cerrou os punhos e flexionou levemente os cotovelos; por uma fração de segundo, pensei
seriamente que daria um soco no pai.
Talvez escapasse à minha alçada, mas tive certeza de que o rei poderia acabar com Maxon se
quisesse. Eu não desejava a morte do cara.
Depois de ofegar algumas vezes, Maxon soltou-se das garras do pai e seguiu para o palácio, pisando
firme.
Logo voltei os olhos para a floresta, torcendo para que o rei não notasse que alguém tinha
testemunhado a cena. Eu pensava cada vez mais sobre a insatisfação do rei com o trabalho do filho,
mas depois disso, não pude deixar de considerar que a coisa ia muito além de algumas anotações
erradas na papelada.
Por que alguém preocupado com a segurança do filho agiria de maneira tão… agressiva com ele?
Me juntei aos outros soldados bem quando Markson começava a falar:
— Algum de vocês tem familiaridade com esta floresta?
Todos permanecemos calados.
— É muito grande e, como vocês podem ver, fica bastante densa após alguns metros de
caminhada. As muralhas do palácio se estendem por mais de cem metros floresta adentro até se
encontrarem. Esse trecho do muro, porém, não está com a manutenção em dia. Os rebeldes não
teriam dificuldade para pular pela parte danificada, especialmente se levarmos em conta como foi
fácil que superassem os trechos mais fortes da barreira, na frente.
Maravilha.
— Vamos nos espalhar numa linha de frente e avançar devagar. Devemos procurar pegadas,
objetos caídos, galhos quebrados… qualquer coisa que sirva de pista até o lugar para onde a levaram.
Quando escurecer, voltamos para buscar lanternas e reforços.
Então ele encarou cada um de nós e concluiu suas orientações:
— Não quero voltar de mãos abanando. Ou recuperamos a senhorita com vida, ou o seu corpo,
mas não deixaremos o rei ou o príncipe sem respostas esta noite. Entendido?
— Sim, senhor! — gritei, e os outros fizeram o mesmo.
— Ótimo. Espalhem-se.
Tínhamos avançado poucos metros quando Markson estendeu o braço e me deteve.
— Você está mancando muito, Leger. Tem certeza de que pode participar? — perguntou.
Meu sangue subiu e fiquei a ponto de explodir, como Maxon alguns minutos antes. Nada me
impediria de ir atrás dela.
— Estou perfeitamente bem, senhor — assegurei.
Markson me examinou novamente.
— Precisamos de uma equipe forte. Talvez você devesse ficar.
— Não, senhor — repliquei rapidamente. — Nunca desobedeci ordens, senhor. Não me force a
fazer isso agora.
Meu olhar era absolutamente sério, e ele certamente o notou quando o encarei, determinado a
prosseguir. Ele abriu um leve sorriso quando assentiu e seguiu seu caminho em direção às árvores.
— Tudo bem. Vamos.
Tudo parecia em câmera lenta. Gritávamos por America e parávamos à espera de uma resposta;
várias vezes, a brisa mais leve ou o ruído mais suave bastavam para nos enganar. De vez em quando
alguém descobria uma pegada, mas a terra estava tão seca que a trilha se desfazia dois passos à frente,
nos deixando apenas com a sensação de tempo perdido. Duas vezes encontramos pedaços de tecido
presos em arbustos, mas nada que correspondesse às roupas que America vestia. O pior foi encontrar
algumas poucas gotas de sangue. Ficamos uma hora parados para examinar a copa de cada árvore,
analisar cada grão de terra que poderia ter sido revirado por passos.
A noite começava a cair e logo perderíamos a luz.
Enquanto os outros avançavam, fiquei para trás por um minuto. Em qualquer outra circunstância,
teria achado tudo aquilo lindo. A luz, filtrada pelas folhas, parecia o espírito dos raios de sol. As
árvores tocavam-se no alto, como se estivessem desesperadas por companhia. A sensação geral que o
lugar provocava era de fascínio.
E eu precisava me preparar para a possibilidade real de voltar sem America. Pior: podia voltar
com seu cadáver nos braços.
Doía só de pensar. Pelo que eu lutaria no mundo senão por ela?
Eu estava em busca das coisas boas. E ela era a única coisa boa em mim.
Segurei as lágrimas e permaneci forte. Só precisaria continuar lutando.
— Certifiquem-se de ter vasculhado todos os lugares — Markson relembrou. — Se a mataram,
podem tê-la pendurado ou tentado enterrá-la. Atenção.
As palavras dele renovaram minha dor, mas me esforcei por continuar.
— Senhorita America! — gritei.
— Estou aqui!
Apurei os ouvidos, com medo demais de acreditar.
— Estou aqui! — a voz repetiu.
America apareceu correndo, suja e descalça. Guardei a arma e abri os braços para ela.
— Graças aos céus — eu disse, aliviado.
Quis beijá-la naquele mesmo instante, mas saber que ela estava respirando, e nos meus braços, teria
que bastar.
— Estou com ela! Está viva! — avisei os outros e observei uniformes vindo na nossa direção.
Ela tremia um pouco e dava para perceber que ainda estava atordoada com toda aquela situação.
Não ligava para o ferimento na perna: America ficaria em meus braços de qualquer jeito. Peguei-a
no colo e ela se segu rou no meu pescoço.
— Estava com muito medo de encontrar seu corpo por aí — admiti. — Você está ferida?
— Um pouco, nas pernas.
Olhei para baixo e vi uns arranhões cobertos de sangue. De modo geral, tivemos sorte.
Markson parou na nossa frente, tentando esconder sua felicidade por encontrá-la.
— Senhorita America — perguntou —, você tem algum ferimento?
— Apenas uns arranhões na perna.
— Eles tentaram machucá-la?
— Não. Eles não me pegaram.
Essa é a minha garota.
Todas as expressões eram um misto de choque e alegria com a notícia, mas Markson certamente
era o mais contente.
— Penso que nenhuma das outras garotas correria mais rápido do que eles.
America suspirou, aliviada, e sorriu.
— Nenhuma das outras é uma Cinco.
Comecei a rir, assim como os outros. Nem toda experiência nas castas inferiores era inútil.
— Bom argumento — Markson comentou, dando um tapinha nas minhas costas sem tirar os olhos
de America. — Vamos levá-la de volta.
Ele liderou o caminho, gritando mais algumas instruções.
— Sei que você é rápida e esperta, mas fiquei apavorado — contei a ela durante o percurso.
Ela levou os lábios ao meu ouvido e confessou:
— Menti para o oficial.
— O que você quer dizer? — cochichei de volta.
— Eles chegaram a me alcançar.
Encarei-a, imaginando o que seria tão ruim a ponto de ela não querer contar na frente dos outros.
— Não fizeram nada, mas uma menina me viu — America continuou. — Ela fez uma reverência
e foi embora.
Fiquei aliviado e, em seguida, confuso.
— Reverência?
— Também fiquei surpresa. Ela não parecia brava ou amea çadora. Na verdade, parecia uma garota
normal.
Depois de uma pausa, acrescentou:
— Ela estava com livros, um monte de livros.
— Parece que isso acontece bastante — contei. — Ninguém faz ideia do que fazem com eles.
Meu palpite é que usam para fazer fogueiras. Acho que é frio onde eles vivem.
Cada vez ficava mais evidente que os rebeldes queriam apenas arruinar tudo o que o palácio
possuía: obras de arte, muralhas ou mesmo a sensação de segurança… E tomar as estimadas posses do
rei para simplesmente tacar fogo era como mostrar um enorme dedo do meio para a monarquia.
Se eu não tivesse vivenciado pessoalmente a crueldade que os rebeldes eram capaz de demonstrar,
teria achado graça.
Os outros soldados estavam tão próximos que ficamos calados pelo resto da caminhada, mas a
distância ficava mais curta com America tão perto de mim. Cheguei a desejar que o percurso fosse
maior. Depois do que acontecera, não queria sequer perdê-la de vista.
— Os próximos dias talvez sejam cheios para mim, mas tentarei vê-la em breve — sussurrei
quando o palácio despontou no horizonte. Era hora de devolvê-la a eles.
— Tudo bem — ela disse, se inclinando na minha direção.
— Leger, leve-a ao doutor Ashlar, e tire o dia de folga. Você fez um bom trabalho hoje —
Markson disse, dando tapinhas nas minhas costas mais uma vez.
Os corredores estavam repletos de funcionários, que ainda limpavam os vestígios do primeiro
ataque. As enfermeiras na ala hospitalar vieram tão depressa que não tive tempo de falar com
America novamente. Mas ao deitá-la no leito e reparar em seu vestido esfarrapado e suas pernas
arranhadas, não pude deixar de pensar que era culpa minha. Olhando em retrospecto para a origem
de tudo aquilo, tive certeza que sim. Já estava na hora de começar a consertar o estrago.
America dormia quando me esgueirei até a ala hospitalar naquela noite. Ela estava mais limpa, mas
seu rosto ainda demonstrava preocupação, mesmo em repouso.
— Oi, Meri — sussurrei ao me aproximar de seu leito.
Ela não se mexeu. Não ousei sentar, nem mesmo com a desculpa de que estava verificando se a
garota que salvei passava bem. Permaneci de pé, vestido com o uniforme recém-passado que usaria
apenas pelos poucos minutos necessários para desabafar.
Estendi a mão para tocá-la, mas desisti. Olhei bem em seu rosto adormecido e comecei a falar:
— Eu… eu vim pedir desculpas. Por hoje. Quer dizer… — respirei fundo. — Eu devia ter
corrido atrás de você. Devia ter protegido você. Mas não fiz nada disso, e você quase morreu.
Breves contrações em seus lábios indicavam que America sonhava.
— Para ser honesto, peço desculpas por muito mais do que isso — admiti. — Sinto muito por ter
perdido a cabeça na casa da árvore. Sinto muito por ter dito para você enviar aquele formulário
idiota. É que eu sempre achei… — engoli em seco — sempre achei que com você eu poderia fazer
as coisas direito.
Fiz uma pausa antes de continuar:
— Não consegui salvar meu pai. Não consegui proteger Jemmy. Mal posso sustentar minha
família, então pensei que talvez pudesse dar a você a chance de uma vida melhor do que a que eu
tinha a oferecer. E convenci a mim mesmo de que esse era o jeito certo de amá-la.
Observei-a por alguns instantes, desejando que eu tivesse coragem para confessar essas coisas
quando ela estivesse em condições de responder e dizer como eu errei.
— Não sei se posso desfazer minhas escolhas, Meri. Não sei se voltaremos a ser como antes. Mas
não vou deixar de tentar. Eu vivo por você — disse, dando de ombros. — Você é a única coisa pela
qual eu já quis lutar.
Havia muito mais a dizer, mas ouvi a porta da ala hospitalar se abrindo. Mesmo no escuro, o terno
de Maxon era inconfundível. Tratei de me retirar, com a cabeça baixa, para dar a impressão de que
estava apenas fazendo a ronda.
Ele sequer notou minha presença. Mal olhou para mim enquanto seguia em direção ao leito de
America. Observei-o puxar uma cadeira e sentar ao seu lado.
Não pude evitar o ciúme. Desde aquele primeiro dia no apartamento do irmão dela — desde o
momento em que descobri o que sentia por America —, fora obrigado a amá-la de longe. Mas
Maxon podia sentar ao seu lado, tocar sua mão: o abismo entre suas castas não importava.
Detive-me à porta, sem tirar os olhos da cena. A Seleção havia desgastado o laço entre mim e
America, e Maxon era uma lâmina afiada, capaz de cortá-lo completamente se chegasse perto
demais. E eu não tinha uma ideia clara do quão perto America o deixava chegar.
Tudo o que podia fazer era esperar, e dar a America o tempo de que ela parecia precisar. Para ser
sincero, o tempo de que nós todos precisávamos.
Só o tempo poderia resolver nossa situação.

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