quarta-feira, 2 de abril de 2014

Capítulo 10

Olhar para a parede perdia a graça depois de meia hora montando guarda. Já passava muito da meianoite,
e tudo o que eu podia fazer era esperar o amanhecer. Pelo menos meu tédio significava que
America estava segura.
O dia tinha passado sem grandes acontecimentos, exceto pela confirmação da chegada de visitas.
Mulheres. Muitas mulheres.
Em parte, ficava animado com a notícia. As damas que visitavam o palácio tendiam a ser menos
agressivas fisicamente. Suas palavras, porém, poderiam deflagrar guerras se ditas na entonação errada.
Os membros da Federação Alemã eram velhos amigos, o que nos favorecia em termos de
segurança. Os italianos eram uma caixinha de surpresas.
Pensei em America a noite inteira, imaginando o que significava sua expressão no Jornal Oficial.
Contudo, não sabia ao certo se devia perguntar sobre isso. Deixaria em suas mãos: se sentisse
vontade de contar, eu ouviria. Por ora, ela precisava se concentrar no que vinha adiante. Quanto
mais tempo ela ficasse no palácio, mais tempo eu a teria comigo.
Alonguei os ombros e ouvi meus ossos estalarem. Só mais algumas horas. Aprumei o corpo e
flagrei um par de olhos azuis me espiando da ponta do corredor.
— Lucy?
— Oi — ela respondeu, entrando no corredor. Logo atrás vinha Mary, trazendo um pequeno
cesto coberto por um pano.
— A senhorita America tocou o sino para chamá-las? Está tudo bem? — perguntei, colocando a
mão sobre a maçaneta para abrir a porta para as duas.
Lucy pôs a mão delicada no peito; parecia nervosa.
— Ah, está tudo bem. Hum, viemos ver se você estava aqui.
Fiz uma cara de estranhamento e afastei a mão da maçaneta.
— Bem, eu estou. Precisam de algo?
Elas trocaram olhares antes de Mary falar:
— Reparamos que você tem feito muitos turnos nos últimos dias. Imaginamos que poderia estar
com fome.
Mary puxou o pano do cesto, revelando uma pequena seleção de pães, bolos e brioches que
provavelmente tinham sobrado dos preparativos para o café da manhã.
Abri um sorriso no canto da boca.
— É muita gentileza de vocês, mas, primeiro, não posso comer no trabalho; e segundo, acho que
vocês já repararam que sou um cara bem forte.
Flexionei o braço, arrancando risinhos das duas.
— Posso tomar conta de mim mesmo — concluí.
— Sabemos que você é forte — Lucy disse, inclinando a cabeça para o lado —, mas aceitar ajuda
também é um tipo de força.
Suas palavras quase me deixaram sem ar. Desejei que alguém tivesse dito aquilo para mim meses
antes. Eu poderia ter evitado tanta dor…
Observei o rosto das duas. Elas lembravam America naquela última noite na casa da árvore:
esperançosas, empolgadas, ternas. Meus olhos se voltaram para o cesto de comida. Eu continuaria
com isso? Afastaria as poucas pessoas que me davam a sensação de ser eu mesmo?
— O plano é o seguinte: se alguém aparecer, vocês dizem que me imobilizaram no chão e me
forçaram a comer. Combinado?
Mary sorriu e estendeu o cesto.
— Combinado.
Peguei um pedaço do pãozinho de canela e dei uma mordida.
— Vocês também vão comer, certo? — perguntei enquanto mastigava.
Lucy esfregou as mãos com entusiasmo antes de caçar algo no cesto. Mary logo fez o mesmo.
— Então, como estão as imobilizações de vocês? — brinquei. — Quer dizer, preciso garantir que
nossa história seja convincente.
Lucy cobriu a boca com a mão enquanto ria.
— Por incrível que pareça, isso não faz parte do nosso treinamento.
Arregalei os olhos.
— Como assim? São as coisas mais importantes por aqui. Limpar, servir e lutar em combates
corpo a corpo.
Ambos riam enquanto comiam.
— É sério — continuei. — Quem é a responsável? Vou escrever uma carta para ela.
— Vamos comentar com a chefe das criadas pela manhã — Mary prometeu.
— Ótimo — concordei, para logo em seguida dar outra mordida e balançar a cabeça, fingindo
indignação.
Mary engoliu o pedaço que estava em sua boca e disse:
— Você é tão engraçado, soldado Leger.
— Aspen.
Ela sorriu novamente e continuou:
— Aspen. Você vai ficar depois que acabar o serviço obrigatório? Tenho certeza de que se você se
inscrever, o palácio irá aceitá-lo como guarda permanente.
Depois que me tornara Dois, meu desejo era continuar como soldado… mas no palácio?
— Acho que não. Minha família está em Carolina. Tentarei servir lá se puder.
— Que pena — Lucy sussurrou.
— Não fique triste ainda. Tenho quatro anos pela frente.
Ela abriu um sorrisinho.
— Verdade.
Mas dava para notar que Lucy ainda não estava bem. Lembrei de seu comentário mais cedo, de
que as pessoas com quem se importava tendiam a ir embora. Me senti ao mesmo tempo feliz e
incomodado por, de algum modo, ter me tornado importante para ela. Ela era importante para
mim, claro. Assim como Anne e Mary. Só que meu contato com as três se dava quase
exclusivamente através de America. Como eu tinha me tornado importante para elas?
— Sua família é grande? — Lucy quis saber.
Fiz que sim com a cabeça.
— Três irmãos: Reed, Beckner e Jemmy, e três irmãs: Kamber e Celia, que são gêmeas, e Ivy, a
mais nova. Mais a minha mãe.
Mary começou a cobrir o cesto de novo.
— E seu pai? — ela perguntou.
— Morreu faz alguns anos.
Eu finalmente podia contar isso sem desmoronar por dentro. Antes, falar da morte do meu pai me
dava uma sensação de fraqueza, porque eu ainda precisava dele. Todos precisávamos. Mas tive sorte.
Às vezes, os pais de família simplesmente desapareciam em meio às castas inferiores, deixando suas
famílias para trás, para lutarem sozinhas ou perecerem.
Meu pai, porém, fez o possível até o fim. A vida sempre seria difícil por sermos Seis, mas ele nos
mantinha numa situação estável, para termos um pouco de orgulho do que fazíamos e de quem
éramos. Eu queria ser como ele.
Os pagamentos eram melhores no palácio, mas eu proveria melhor minha família se estivesse mais
perto de casa.
— Sinto muito — Lucy disse suavemente. — Minha mãe também morreu há alguns anos.
Saber que Lucy havia perdido a pessoa mais importante de sua vida fez com que eu redesenhasse a
imagem que tinha dela na cabeça, preenchendo todas as lacunas.
— Nunca mais é a mesma coisa, não é?
Ela sacudiu a cabeça e baixou os olhos para o tapete.
— Ainda assim — falou —, precisamos buscar as coisas boas.
Ela levantou o rosto, e pude entrever uma exígua esperança em sua expressão. Não consegui tirar
os olhos dela.
— Curioso você dizer isso.
Ela olhou para Mary e depois para mim.
— Por quê?
Dei de ombros.
— Apenas é.
Enfiei o último pedaço de pão na boca e limpei os farelos dos dedos.
— Obrigado, senhoritas, pela comida, mas é melhor vocês irem. Não é lá muito seguro circular
pelo palácio à noite.
— Tudo bem — Mary disse. — Já estava na hora de melhorarmos nossas habilidades na luta corpo
a corpo mesmo.
— Pule sobre Anne — aconselhei. — Nunca subestime o elemento surpresa.
Ela riu novamente.
— Não vamos subestimar. Boa noite, soldado Leger — ela se despediu, já seguindo pelo corredor.
— Esperem — pedi.
Ambas pararam. Indiquei a parede com uma passagem secreta.
— Não querem ir pelos fundos? Eu ficaria bem mais aliviado — sugeri.
Elas sorriram.
— Sem problemas.
Mary e Lucy acenaram ao passar por mim. Quando chegaram até a parede, Mary puxou a
maçaneta, mas Lucy cochichou algo. Mary concordou com a cabeça e sumiu escadaria abaixo, e
Lucy voltou até mim.
Ela remexia as mãos, seu tique nervoso reaparecendo à medida que se aproximava.
— Não sou… Não sou boa com palavras — ela confessou, balançando o corpo de leve. — Só
queria agradecer por ser tão simpático conosco.
— Não é nada — respondi, balançando a cabeça.
— Para nós, é.
Seus olhos estavam cheios de uma intensidade que eu nunca vira antes. Ela continuou:
— Não importa o número de vezes que as criadas da lavanderia ou da cozinha nos digam que
temos sorte, não nos sentimos assim a não ser que alguém admire nosso trabalho. A senhorita
America faz isso, o que não esperávamos. E você também faz. Vocês dois são bondosos sem se
esforçarem para isso — ela abriu um sorriso ao dizer as palavras. — Só achei que você devia saber o
quanto isso é importante. Talvez ainda mais para Anne, mas ela nunca admitiria.
Eu não sabia como reagir. Depois de refletir por uns instantes, a única coisa que me veio à mente
foi:
— Obrigado.
Lucy assentiu e, incerta do que dizer, partiu rumo à passagem na parede.
— Boa noite, senhorita Lucy.
Ela se virou para mim, e parecia que eu tinha lhe dado o melhor presente do mundo.
— Boa noite, Aspen.
Quando ela se foi, meus pensamentos se voltaram para America. Ela aparentara muita preocupação
no Jornal Oficial, mas me perguntei se tinha noção da mudança que seu comportamento causava nas
pessoas ao seu redor. Seu pai tinha razão: ela era boa demais para o palácio.
Eu precisava arrumar tempo para lhe dizer o quanto ela ajudava as pessoas sem perceber. Por ora,
esperava que ela estivesse descansando, sem se preocupar com seja lá o que estivesse…
Meus pensamentos foram interrompidos por três mordomos que passaram correndo por mim; um
deles chegou a tropeçar. Enquanto seguia para o fim do corredor para descobrir do que corriam, a
sirene soou.
Nunca a escutara antes, mas sabia o que aquele som significava: rebeldes.
Disparei de volta e escancarei a porta do quarto de America. Se havia correria, talvez já
estivéssemos em desvantagem.
— Droga, droga, droga — resmunguei. America precisava se vestir o mais rápido possível.
— Hein? — ela disse, sonolenta.
Roupas. Precisava encontrar roupas.
— Levante-se, Meri! Onde estão seus malditos sapatos?
Ela jogou o cobertor longe e levantou, dando com os pés em cima dos sapatos.
— Aqui. Preciso do roupão — ela disse, apontando para ele enquanto ajeitava os sapatos. Fiquei
feliz por ter entendido a urgência rapidamente.
Peguei o roupão todo dobrado ao pé da cama e comecei a procurar o lado certo.
— Deixe para lá. Eu carrego.
Ela o arrancou da minha mão e eu a apressei até a porta.
— Você precisa correr — alertei. — Não sei o quão perto estão.
Ela concordou com a cabeça. Dava para sentir a adrenalina pulsando dentro de mim. Envolvi
America em meus braços na escuridão, embora soubesse que aquele não era o momento para isso.
Pressionei meus lábios contra os dela, enroscando a mão em seus cabelos e a puxando para mim.
Idiotice. Muita, muita idiotice. Mas parecia certo em milhares de sentidos. A sensação era de que
fazia uma eternidade desde a última vez que tínhamos nos beijado tão profundamente, mas nos
deixamos envolver sem dificuldades. Seus lábios eram cálidos, e o gosto familiar de sua pele ainda
estava lá. Debaixo de um leve aroma de baunilha, reencontrei seu cheiro: o aroma natural exalado
por seu cabelo, suas bochechas e seu pescoço.
Eu poderia ter ficado ali a noite inteira, e percebi que ela também, mas precisava levá-la a um
abrigo.
— Vá. Agora — ordenei, empurrando-a para o corredor. Não olhei para trás ao dobrar a esquina.
Me preparei para encarar o que quer que estivesse à minha espera.
Saquei o revólver e olhei para os lados em busca de algo suspeito. Vi o rastro do vestido de uma
criada que entrava em um dos abrigos secretos. Esperava que Lucy e Mary já tivessem chegado até
Anne e as três estivessem escondidas, longe do perigo.
Ao ouvir o som inconfundível de disparos, avancei pelo corredor rumo à escadaria principal. Pelo
barulho, os rebeldes estavam concentrados apenas no primeiro andar. Ajoelhei no canto da parede à
espera dos passos que se aproximavam.
Instantes depois, alguém correu escada acima. Levei menos de um segundo para identificá-lo como
um intruso. Mirei e atirei, atingindo o homem no braço. Gemendo, o rebelde caiu para trás, e vi
um guarda saltar para capturá-lo.
Ouvi um estrondo na outra ponta do corredor. Os rebeldes tinham descoberto a escada lateral e
subiam para o segundo andar.
— Se encontrarem o rei, matem-no! Levem o que conseguirem carregar. Eles precisam saber que
estivemos aqui! — alguém berrava.
Me aproximei o mais silenciosamente possível daquela gritaria, me escondendo pelos cantos e
olhando várias vezes antes de seguir adiante. Quando me virei, notei outros dois uniformes.
Gesticulei para que se abaixassem e se movessem devagar. Quando chegaram mais perto, identifiquei
Avery e Tanner. Eu não podia ter pedido reforços melhores. Avery era muito bom de mira, e
Tanner sempre se esforçava além do seu dever, já que tinha mais a perder do que os outros.
Tanner era um dos poucos soldados recrutados depois de casado. Já nos contara várias vezes como
a esposa reclamava por ele usar a aliança no polegar — o anel pertencera a seu avô, mas eles não
tinham dinheiro para mandar ajustar. Ele prometeu à mulher que essa seria a primeira coisa com que
gastaria ao voltar para casa, junto com uma aliança melhor para ela.
Ela era a America dele. Mantinha sempre a concentração por causa dela.
— O que houve? — Avery sussurrou.
— Acho que acabei de ouvir o líder. Ordenou que os rebeldes matassem o rei e roubassem o que
fosse possível.
Tanner se levantou, com a arma em punho, em posição de espreita.
— Precisamos encontrá-los para garantir que estejam seguindo para os andares de cima, longe do
abrigo — falou.
Assenti.
— Talvez sejam mais do que damos conta, mas se agirmos discretamente, acho que…
Na outra ponta do corredor, uma porta se abriu de repente. Um mordomo corria com dois
rebeldes em seu encalço. Tratava-se do jovem mordomo, o da cozinha. Parecia perdido e
aterrorizado. Os rebeldes aparentemente carregavam ferramentas de fazenda, então pelo menos não
poderiam devolver nossos tiros.
Virei na direção deles, estabilizei o peso do corpo e mirei.
— Pro chão! — gritei para o mordomo, que obedeceu.
Acertei um dos rebeldes na perna. Avery acertou o outro, mas seu tiro, intencionalmente ou não,
pareceu muito mais letal.
— Vou amarrar os dois — Avery avisou. — Encontrem o líder.
Vi o mordomo levantar e correr para um dos quartos. Não importava que qualquer um poderia
entrar ou sair facilmente; ele precisava da ilusão de segurança.
Escutei mais gritos, mais disparos, e concluí que aquele era um dos ataques pesados. Tentei me
concentrar. Tinha uma missão, e ela era tudo o que eu podia enxergar.
Tanner e eu nos esgueiramos até o terceiro andar. Pelo caminho, encontramos várias mesas, obras
de arte e vasos destruídos. Um rebelde pichava a parede com uma espécie de tinta pastosa que
certamente trouxera consigo. Me aproximei rapidamente por trás e lhe dei uma coronhada. Ele
caiu, e eu abaixei para revistá-lo atrás de armas.
No instante seguinte, uma nova leva de disparos soou na outra ponta do corredor. Tanner me
arrastou para trás de um sofá tombado. Quando o barulho cessou, espiamos para calcular o perigo.
— Conto seis rebeldes — ele disse.
— Eu também. Posso pegar dois, talvez três.
— Isso basta. Os outros devem correr. Ou talvez estejam armados…
Olhei ao redor. Com o estilhaço de um espelho quebrado, cortei uma tira do estofado do sofá e
enrolei no vidro.
— Use isto se chegarem perto demais.
— Boa — Tanner comentou, antes de mirar nos rebeldes. Fiz o mesmo.
Os disparos foram rápidos, e cada um de nós acertou dois rebeldes antes de os outros dois
correrem na nossa direção, e não na contrária. Lembrando das ordens de manter os rebeldes vivos
para interrogatório, mirei nas pernas, mas eles se moviam tão depressa que errei os tiros.
Tanner e eu observamos os dois: o primeiro, enorme, desviou para o lado de Tanner; o outro, um
cara mais velho, descabelado e com um olhar insano, veio na minha direção. Guardei a arma e me
preparei para a briga.
— Droga. Você ficou com o mais fácil — Tanner comentou antes de saltar uma cadeira e avançar
com toda a força contra seu oponente.
Eu estava uma fração de segundo atrás. O rebelde mais velho se aproximou aos berros, suas mãos
curvadas como garras. Agarrei um de seus braços e feri seu peito com a faca improvisada.
Ele não era lá muito forte; parte de mim chegou a ter pena. Ao segurar seu braço, pude sentir seus
ossos facilmente.
Ele gemeu e caiu de joelhos. Puxei seus braços e pernas para trás e os amarrei. Enquanto dava o
nó, alguém me agarrou pelas costas e me atirou contra um retrato na parede, me fazendo cortar a
testa no vidro.
Fiquei atordoado. O sangue atrapalhava minha visão, tornando difícil reagir. Senti uma ponta de
pânico antes de relembrar meu treinamento. Abaixei, e ele me segurou pelos ombros novamente.
Como uma alavanca, lancei o corpo dele para a frente.
Apesar de ser muito maior que eu, o rebelde se estatelou no chão coberto de destroços. Procurei
uma corda mais resistente, mas logo caí sob o peso de outro rebelde.
Eu estava imobilizado, com os braços presos por um homem gigante que sentava sobre a minha
barriga.
— Me leve até o rei — ele ordenou. Sua voz era áspera; seu hálito fétido e pantanoso.
Sacudi a cabeça.
Ele soltou meus braços e me segurou pelo colarinho, se aproximando do meu rosto. Antes que eu
pudesse atacá-lo com as mãos, ele bateu minha cabeça no chão, me atordoando mais uma vez.
Minha cabeça girava e comecei a sentir falta de ar. O rebelde apertava meu crânio, me obrigando a
encará-lo.
— ONDE ESTÁ O REI?
— Não sei — respondi ofegante, lutando contra a dor na minha cabeça.
— Vamos lá, rapazinho — ele provocou. — Entregue o rei, e pode ser que saia dessa vivo.
Eu não podia revelar o abrigo. Apesar de odiar o que o rei fazia, entregá-lo implicava entregar
America, e isso estava fora de questão.
Eu podia mentir. Ganhar tempo suficiente para escapar da situação.
Ou podia morrer.
— Quarto andar — menti. — Sala escondida na ala leste. Maxon está lá também.
Ele riu, deixando escapar o hálito nojento.
— Não foi difícil, foi?
Permaneci calado.
— Se você tivesse me contado quando perguntei pela primeira vez, talvez eu não tivesse que fazer
isto.
Ele pôs as mãos em volta do meu pescoço e começou a apertar. Mais uma tortura para minha
cabeça, que àquela altura parecia que ia explodir. Minhas pernas se debatiam e ergui a cintura na
tentativa de tirá-lo de cima de mim. Inútil. Ele era simplesmente grande demais.
Senti meus membros pararem de funcionar. Todo o oxigênio escapava do meu corpo.
Quem contaria à minha mãe?
Quem cuidaria da minha família?
… pelo menos beijei America uma última vez.
… última vez.
… vez.
Em meio à tontura, ouvi um disparo e senti o enorme rebelde perder as forças e cair para o lado.
Minha garganta emitia ruídos bizarros ao puxar o ar novamente para dentro do corpo.
— Leger? Você está bem?
Minha visão escurecia, então não pude enxergar o rosto de Avery. Mas ouvia sua voz. Era o suficiente.

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