quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 3 - Investigação no Elite


  Todas as manhãs, a chegada dos estudantes ao Colégio Elite era uma
algazarra total. Naquela terça-feira, a excitação era muito maior, pois o
desaparecimento do Bronca não era coisa que se conseguisse manter em
segredo, embora o diretor do colégio tivesse tentado abafar o escândalo de todas
as maneiras.
  Os Karas tinham passado todo o dia anterior investigando secretamente, e a
polícia também tinha feito a sua parte. Por todos os lados, policiais fardados e à
paisana espalhavam-se como se o Elite estivesse para ser atacado por um
exército.
  Agora Miguel estava ali, na sala do professor Cardoso, o diretor do Colégio
Elite. Um homem importante. Nacionalmente, ou melhor, mundialmente
respeitado como o criador de uma experiência educacional avançadíssima, o
Colégio Elite.
  Naquele colégio, a palavra diálogo traduzia o relacionamento entre alunos e
professores, ou entre representantes dos alunos e direção do colégio. E ali
estavam Miguel, como presidente do Grêmio, e o professor Cardoso, como
diretor.

— Miguel, eu conto com você — começou o diretor. — É preciso manter os
estudantes tranquilos e confiantes na atuação da polícia. Tudo está sob controle.
Não há nada a temer. A polícia irá tomou todas as providências.

— Que providências, professor Cardoso? A polícia já encontrou o Bronca? Já
sabe o que aconteceu com os outros estudantes desaparecidos?

— Ainda não, Miguel. Mas...

— Então a única forma de acalmar os alunos do Elite é falar a verdade para
eles.

O professor Cardoso encarou Miguel, com uma expressão divertida:

— A verdade? Qual verdade?

— Só existe uma verdade, professor Cardoso.

— É mesmo? — sorriu o diretor. — E qual é ela?

— É falar francamente do desaparecimento do Bronca. É contar a eles tudo o
que a polícia já descobriu. É alertá-los para que eles possam se proteger e evitar
que um deles seja a próxima vítima.

— A próxima vítima? Quem lhe disse que haverá uma próxima vítima?

— E quem garante que não haverá, professor Cardoso?

O diretor recostou-se no espaldar alto de sua cadeira giratória. Percebeu que
não seria fácil dobrar a personalidade do rapazinho.

— Eu não posso garantir a você que nenhum outro garoto será sequestrado,
Miguel. Mas eu posso assegurar-lhe que qualquer escândalo maior em torno do
desaparecimento do nosso aluno só poderá ser prejudicial ao Elite.

— Acho que não se trata de evitar escândalos envolvendo o Elite, professor
Cardoso. O Elite já está envolvido.

O diretor suspirou profundamente:

— Há pouco você disse que só existe uma verdade, não foi, Miguel? Você
ainda é muito jovem, não faltará ocasião de aprender que as coisas são relativas.
A verdade tem várias facetas. Dependendo do lado que se olha, um mesmo fato
pode parecer totalmente diferente.

— Eu só vejo um modo de olhar a verdade — interrompeu Miguel. — O
modo certo.

O professor Cardoso ignorou a interrupção:

— Veja o caso do desaparecimento do Bronca, por exemplo. Se alertarmos
nossos alunos, talvez estejamos alertando também os sequestradores. 
Se contarmos a todo mundo o que sabemos, talvez estejamos nos  revelando
também para os bandidos.

— O senhor quer dizer que já há suspeitos aqui mesmo, no Elite?

— Eu não disse isso. Para não prejudicar as investigações, a polícia não está
confiando nem em mim. E eles estão muito certos. Já conseguimos também a
colaboração da imprensa. Nenhuma providência policial será noticiada até que
os estudantes sejam encontrados. Só falta agora a sua colaboração, Miguel.
Conhecemos a sua liderança e contamos com ela. Temos de impedir o pânico
dentro do Elite. É só isso que eu peço: impedir o pânico.

— Verei o que posso fazer, professor Cardoso. 

Nesse momento, a secretária do diretor abriu a porta:

— Professor Cardoso, os policiais chegaram.

— Eu estava esperando por eles. Peça para entrarem, por favor.

  Eram dois detetives de terno, com expressão sisuda, própria da profissão, e
cansada, de quem estava às voltas com vinte e oito desaparecimentos de
estudantes. Sentaram-se no amplo sofá da diretoria. Um deles brincava com um
molho de chaves, fazendo um barulho ritmado, irritante.

O professor Cardoso apontou para o mais velho dos dois homens, um sujeito
meio gordo, suarento, que mal cabia no terno surrado.

— Miguel, este é o detetive Andrade. Ele quer fazer algumas perguntas a
você.

O detetive enxugou o suor do pescoço e da careca com um lenço amarrotado
e falou, sem olhar para o garoto, como se estivesse interrogando as paredes:

— Eu estou no comando das investigações, meu rapaz, embora ache que não
há nada para investigar. Essa juventude irresponsável é assim mesmo. Vai ver, o
tal garoto... Como é mesmo o apelido dele? Bronca, não é? Vai ver, o tal do
Bronca está por aí aprontando alguma confusão, enquanto faz a polícia perder
tempo. Na certa, daqui a pouco vai reaparecer com a cara mais sem vergonha
do mundo. Ah, essa juventude!

O outro detetive levantou-se, caminhou até Miguel e colocou a mão
amigavelmente no ombro do garoto. Era mais moço que Andrade, e Miguel
sentiu uma sensação de conforto, de amizade, no rosto simpático e bem barbeado
do detetive.

— Como vai, Miguel? Eu sou o detetive Rubens. Já ouvi dizer que você é um
ótimo presidente do Grêmio do colégio. Pode ficar tranquilo. Vamos descobrir o
que aconteceu com o Bronca.

A grossa porta da sala do diretor foi aberta naquele momento e por ela entrou
Chumbinho, acompanhado por um guarda. Miguel ouviu novamente o barulhinho
chato do molho de chaves.

— Com licença, detetive Andrade — pediu o guarda, apontando Chumbinho — mas parece
 que este menino foi o último a encontrar-se com o desaparecido.

Andrade levantou-se do sofá com dificuldade. A sua expressão era de
desinteresse, mas, no seu olhar, Miguel percebeu um brilho que desmentia a
expressão.

— Você foi o último a ver o Bronca, não é, garoto?

O coração de Miguel bateu apressadamente. Havia alguma coisa estranha,
alguma coisa muito estranha no ar. E ele decidiu que a situação não era para
confiar. Mas, e Chumbinho? Será que ele conhecia mesmo todos os sinais e
códigos secretos dos Karas?

— Acho que fui eu, sim — ia dizendo o menino no momento em que Miguel
cruzou os braços.

Sim. Chumbinho sabia o que significavam os braços cruzados. Era o sinal de
silêncio dos Karas. Equivalia a um dedo encostado nos lábios, só que ninguém
sequer desconfiava. Era preciso ser um Kara, e Chumbinho, agora, era um deles.

— E então, menino? — perguntou o detetive Andrade, irritado. — O que você
viu? O que o tal Bronca disse? Havia algum desconhecido com ele? Havia
alguma coisa estranha com ele? Ele disse alguma coisa? Vamos, fale, garoto!

Os olhos do Chumbinho piscaram inocentemente:

— Bem... sabe? Eu tinha dado uma escapadinha até o fliperama, né? É que eu
sou muito bom em fliperama, sabe? Pois é, acho que eu sou o melhor do colégio.
Junta gente em volta quando eu estou jogando...

— Tá bom, garoto. E o Bronca?

— Ah, o Bronca não é muito bom em flíper, não. Ele é meio esquentado, não
tem paciência, sabe?

— E daí?

— E daí que ser bom em fliperama não é pra qualquer um. Eu, por
exemplo...

Andrade perdeu a paciência:

— Vamos, garoto. Eu não tenho o dia todo. Vamos direto ao ponto.

— Que ponto?

— O Bronca, menino! Você encontrou ou não encontrou o Bronca?

— O Bronca? Ah , sim, o Branca. É claro que eu encontrei.

— E o que foi que ele disse?

— Ele disse oi.

— Oi?

— Oi.

— E você?

— Eu o quê?

— O que é que você disse?

— Eu? Eu respondi oi, também.

O rosto de Andrade avermelhou-se. O detetive estava furioso e apertava o
lenço com ambas as mãos, enquanto o suor gotejava-lhe pela careca. Sua voz
saiu espremida, com raiva:

— Você está me gozando, moleque?

— Eu? Eu não, senhor... 

Rubens sorriu para Chumbinho:

— Foi só isso? Ele não disse mais nada? 

Chumbinho continuou com carinha inocente:

— Não. Foi só oi. Ele devia ter dito outra coisa? 

Foi aí que o detetive Andrade explodiu:

— Ponha-se daqui pra fora, moleque! E você aí, descruze os braços. Isso não
é modo de se portar diante de uma autoridade!

Quando a porta da diretoria se fechou atrás dos garotos, Miguel podia ouvir o
irritante barulhinho do molho de chaves nas mãos do detetive.

18 comentários:

  1. Você escreveu errado nesta parte:
    "A polícia irá tomou todas as providências".
    o certo seria:
    "A polícia Já tomou todas as providências".

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    Respostas
    1. n o certo seria A policia ira tomar todas as providencias

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    2. gente, parem de ficar corrigindo,eu em credo ,parece q vcs nunca erraram ......

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    3. Tô aqui logo de tesão com esse Rubens nas ideias manooooo

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    4. Ninguém entendeu quando Crânio abandonou aquela partida de xadrez,
      reconhecendo uma derrota que não existia, já que seu adversário estava
      irremediavelmente perdido, com um bispo a menos e o rei encurralado, em
      posição de levar xeque-mate em poucos lances.
      Mas o xadrez tinha de esperar, porque o jovem gênio do Colégio Elite tinha
      visto um K desenhado na palma da mão que se abrira na entrada da sala de
      jogos.

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    5. Ala, agora o cara virou professor de português, toma no k em mlk

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  2. Você escreveu errado nesta parte:
    "— O Bronca? Ah, sim, o Branca. É claro que eu encontrei".
    o certo seria:
    "- O Bronca? Ah, sim, o Bronca. É claro que eu encontrei".

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  3. vc me salvou tenho uma prova pra fazer dia 28/03 agora,obrigado

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  4. Na parte o Branca era só para enrolar os detetives.
    Então quem esta falando que esta errado .
    Faz melhor .
    Não reclamem poi não foram vcs que escreveram estes 30 capítulos .
    Até parece que vcs não iriam errar só se um de vcs que falam mal fossem um gênio .
    Não reclamem não foram vcs que copiaram. 🙅🙊🙊🙊🙊

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    1. parem n quero saber se tá errado ou não isso n é aula de portugués.

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  5. É mesmo se fosse até poderia só
    que n é

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