quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 7 - Chumbinho valente


— Vamos lá, Chumbinho! É uma boa. Experimente! Você vai ver que legal!

  Chumbinho nem podia acreditar. Ele havia descoberto o oferecedor de
drogas!
  Estavam num canto do pátio, e o pátio estava cheio de estudantes. Incrível!
Era possível oferecer a droga no meio da multidão, sem qualquer risco. Até
parecia que, fazendo o contato daquela maneira, o oferecedor estaria mais
seguro do que se atraísse a vítima para um cantinho deserto: duas pessoas
cochichando num canto chamam muito mais a atenção do que misturadas no
meio de todo mundo...
  Agora era preciso pensar depressa. Não havia nenhum dos Karas à vista.
Miguel provavelmente estava na biblioteca, estudando matemática. Crânio
poderia estar jogando xadrez ou às voltas com os computadores do colégio. Calú
estaria no anfiteatro, ensaiando, e Magrí certamente estaria no ginásio de
esportes, treinando alguma das dezenas de modalidades esportivas em que era
especialista.
  Parado ali, em frente ao oferecedor, com aquele comprimido da droga na
mão, Chumbinho fingia estar interessadíssimo na experiência, mas não sabia o
que fazer.
  O menino tinha visto o Bronca sob o efeito da droga. Será que agora ele
saberia imitar aquele comportamento idiota, sem que o oferecedor desconfiasse?
  Ah, se ele fosse um ator como Calú, a coisa seria bem mais fácil...
O que aconteceria depois? Ele seria seqüestrado como o Bronca e os outros.
Chumbinho não tinha dúvidas. Por isso precisava encontrar uma forma de deixar
um aviso para os Karas.

— Experimente, vamos!

— Tá certo — concordou Chumbinho. — Só que aqui vai dar na vista. É
melhor lá no banheiro.

O menino correu para os banheiros do vestiário. Talvez tivesse tempo de
deixar algum sinal lá no esconderijo secreto. Só que o oferecedor veio junto, na
certa para se certificar de que o garoto ia fazer a coisa direitinho. E,naturalmente,
para preparar o sequestro.

Chumbinho entrou em um dos reservados e ia trancar-se quando o
oferecedor entreabriu a porta:

— Como é, já engoliu?

— Já vai...

O espaço do reservado era muito pequeno, e o oferecedor não podia ficar ali
dentro, junto com Chumbinho. O menino encostou novamente a porta e falou:

— Fique de olho pra ver se aparece alguém.

— Tá legal. Ande logo!

Chumbinho jogou a droga no cesto de papéis. Até aí tudo bem. Mas, como
deixar o sinal para os Karas? Ele precisava de alguma coisa para escrever e
precisava também de um código que não desse na vista. O quê? Como?

— Anda logo, Chumbinho! — era a voz do oferecedor, fora da porta.

A ideia nojenta veio-lhe à cabeça, mas era a única e ele não podia perder
mais um segundo. Felizmente a privada do reservado tinha sido usada por algum
porcalhão que não puxara a descarga. Tentando sufocar o nojo, Chumbinho
enfiou a mão dentro do vaso. Sem perda de tempo, com a ponta do dedo suja
com aquela "tinta" e sentindo o estômago contorcer-se em enjôos, desenhou nos
azulejos a mensagem para os Karas.

Quando o oferecedor, cansado de esperar, empurrou a porta do pequeno
reservado, encontrou Chumbinho apoiado na parede:

— Desculpe, me deu uma tonteira.

— É normal, não se assuste.

Chumbinho cambaleou até uma pia e deixou a água correr farta pela mão
direita. Ele nem podia ajudar com a outra mão por causa do exagerado curativo
da espetadinha da "iniciação".

Às suas costas, a voz do oferecedor veio dura, agressiva:

— Feche a torneira. Olhe pra mim.

Chumbinho obedeceu. Olhou para o oferecedor com o melhor ar de idiota de
que era capaz. Será que estava fazendo a coisa direito? O outro não iria
desconfiar?

— Preste atenção, Chumbinho. Você quer me obedecer?

— Sim, quero.

— Muito bem. A droga já fez efeito. Agora você vai fazer tudo o que eu
mandar. Você quer ser um bom menino?

— Quero.

Pela cabeça do Chumbinho passava a imagem do Bronca, que ele tinha de
imitar. Pelo jeito do Bronca, a droga fazia recordar todas as ordens e proibições
que o drogado já tinha recebido na vida, e o sujeito se transformava totalmente
num imbecil. A saída, então, era representar o imbecil.

— Você é um bom menino, Chumbinho. Agora, eu quero que você aja com
naturalidade.

— Sim.

— Saia do colégio andando normalmente. Vá até à praça em frente e suba
dois quarteirões à esquerda. Pare na esquina e aguarde novas ordens. Não se
desvie por razão alguma. Todo o resto é proibido.

— Sim.

— Agora vá, Chumbinho.

  O menino tinha representado direitinho. O oferecedor não desconfiava de
nada. Na certa, porém, o vigiaria de longe até que ele chegasse à tal esquina.
Diabo! Se conseguisse uma folga, Chumbinho até que poderia dar uma corrida
até à biblioteca, à sala de jogos, ao ginásio ou ao anfiteatro do colégio para avisar
um dos Karas. Mas ele não podia arriscar. Qualquer desvio do itinerário indicado
pelo oferecedor ia dar na vista. Sua única esperança era que um dos Karas visse
a sua imunda mensagem no banheiro.
  Ele seria o segundo estudante a desaparecer do Colégio Elite. Quem seria o
terceiro? Mas... era óbvio! E Chumbinho sorriu por dentro ao descobrir quem
seria o terceiro a sumir do mapa...

* * *

  Chumbinho saiu do colégio e caminhou lentamente pela praça. Nenhum
transeunte prestava atenção nele. Qual seria o próximo passo da quadrilha?
Uma perua toda fechada parou à sua frente. Um homem enorme saltou e
olhou firme, dentro dos olhos do garoto. Não parecia gente, parecia um animal
de terno. Um animal feroz e enlouquecido.
  Chumbinho fez uma cara de idiota bem caprichada. Ele queria ser o mais
convincente possível.
  O homem abriu a porta traseira da perua:

— Venha cá, menino.

— Sim, senhor.

— Entre aí e fique quietinho.

  A porta fechou-se atrás de Chumbinho e o menino sentiu a perua arrancar.
No escuro total, não podia saber para onde estava indo.

18 comentários:

  1. Esse capítulo e o mais interessante os outros são mais chatos

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  2. que isso o chumbinho ta louco

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  3. Cadê minha droga quero minha droga

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  4. Eles só não souberam escolher muito bem os nomes do grupo deles. Bem, pode ser que esses sejam os nomes reais deles! Que terrível!

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    Respostas
    1. No caso, os nomes dos integrantes do grupo.

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