quinta-feira, 6 de março de 2014

Capítulo 4 - Um presente de Natal


Passado o Halloween, concentrei minha atenção em estudar 
para as provas e evitar Artie. Ele conseguira o número do meu celular 
de alguma forma me ligava exatamente às cinco horas todas as tardes. 
Às vezes me esperava depois da aula, O cara não se mancava. 

Também dediquei algum tempo a esclarecer meus sentimentos 
por Jason. Saímos mais algumas vezes, mas eu sempre tinha a 
impressão de que não falávamos a mesma língua. Ele achava que 
Shakespeare, poesia e livros eram chatos, e eu não conseguia apreciar 
as sutis diferenças entre equipes esportivas universitárias e 
profissionais. Não creio que ele desse muita importância ao fato de 
não sermos compatíveis. No fundo eu sabia que meu relacionamento 
com Jason não estava indo a lugar algum, mas ele era uma distração 
mental e eu gostava de tê-lo como parceiro nas aulas. 

Justo quando eu achava que já tinha dominado a questão dos 
encontros casuais, Li resolveu tornar a coisa ainda mais complicada. 
Estávamos conversando no estúdio quando de repente ele ficou 


calado, rolando a garrafa de água, nervosamente, para a frente e para 
trás entre as palmas das 

— Kelsey... — finalmente falou. — Queria saber se você quer 
sair comigo. Só nós dois. Como num encontro de verdade. 

— Minha mente disparou com pensamentos confusos. 

— Ah. É... claro — respondi devagar. — Gosto da sua 
companhia. Você é muito divertido e é fácil conversar com você. 

Ele fez uma careta. 

— Mas você gosta mesmo de mim ou simplesmente gosta de 
mim? 

Pensei por um momento e em seguida disse: 

— Bem, para ser sincera, acho que você é um cara incrível e 
gosto muito de você. Mas não sei se posso ter um relacionamento 
sério com alguém neste momento. Eu rompi com uma pessoa 
recentemente e ainda não me recuperei. 

— Entendi. É difícil superar essas coisas. Mas ainda assim 
quero sair com você. Isso se achar que vai ser bom e se estiver pronta. 

Levei um instante para responder: 

— Está bem. Acho que vai ser legal. 

— Que tal começarmos com um filme de artes marciais? Tem 
um lugar que exibe filmes antigos sextas, à meia-noite. Quer ir? 

— Quero, mas só se você prometer que vai me ensinar um dos 
golpes do filme — acrescentei, feliz por termos resolvido a questão. 

Resolvido mais ou menos, pensei enquanto nos despedíamos. 

Li e eu começamos a nos ver fora da noite de jogos e das aulas. 
Ele era um cavalheiro e nossos encontros eram sempre divertidos e 
interessantes. 


Apesar de ter toda essa atenção, eu me sentia sozinha. Não era 
o tipo de solidão que se curava ficando na companhia de outras 
pessoas. Minha alma se sentia solitária. A noite era o pior momento, 
pois eu tinha a sensação de que ele estava perto de mim, mesmo 
estando de fato a um oceano de distância. Havia uma corda invisível 
amarrada em meu coração, nos conectando. Sua força implacável 
ficava tentando me puxar de volta. Talvez um dia essa corda se 
desgastasse e por fim se rompesse. 

As aulas de wushu eram o escape perfeito para descarregar 
parte da frustração que eu sentia com a minha vida. Os movimentos 
eram precisos e não exigiam nenhuma emoção, o que era uma 
mudança bem-vinda. Além disso, eu estava começando a me 
aprimorar. Meus braços e pernas estavam mais definidos e eu 
também me sentia mais forte. Se alguém me atacasse, talvez eu 
pudesse mesmo me defender, o que era um pensamento encorajador. 
Quem precisava da proteção de um tigre? Eu simplesmente daria um 
chute na cara do inimigo. 

Como alunos, não deveríamos nutrir pensamentos assim, mas 
a maioria das pessoas não tinha que encarar macacos kappa imortais 
querendo devorá-las, como era o meu caso. Assim, eu me permitia 
visualizar meus muitos possíveis oponentes e chutava com violência. 
Até Li comentou que meus chutes estavam ficando mais fortes. 

Li cumpriu sua parte no acordo e me ensinou um golpe que 
vimos no filme. Ele me deixou praticar com ele, mas eu errava tudo e 
acabamos caindo embolados no tatame, rindo. 

— Kelsey, você está bem? Machuquei você? 

Eu não conseguia parar de rir. 

— Não, estou bem. Grande golpe, hein? 

Li estava debruçado sobre mim, o rosto perto do meu. 

— Nada mau. Agora eu tenho você exatamente onde queria. 


De repente a atmosfera leve e alegre se desfez e foi substituída 
por uma sombra densa e ansiosa. Ele aproximou um pouco mais o 
rosto do meu e hesitou, observando minha reação. Fiquei paralisada e 
senti uma onda de tristeza me cobrir. Afastando o rosto ligeiramente, 
fechei os olhos. Eu não dia beijá-lo. A ideia era agradável, mas não a 
ponto de dar aquele frio na barriga. Não parecia certo. 

— Me desculpe, Li. 

Ele me deu uma pancadinha de leve sob o queixo. 

— Não se preocupe. Topa sair para tomar um milk-shake? 

Seus olhos estavam um pouco tristes, mas ele parecia 
determinado a manter o clima descontraído entre nós e rapidamente 
desviou minha atenção Outras coisas. 



Em meio ao meu festival de encontros, o Sr. Kadam me trouxe 
boas notícias. Ele havia decifrado uma parte importante da profecia 
de Durga e me pediu que o ajudasse com a pesquisa, o que eu estava 
mais do que disposta a fazer. Peguei um bloquinho e perguntei: 

— O que o senhor tem para mim? 

— As provas das quatro casas, O texto diz especificamente: 
uma casa de cabaças, uma casa de mulheres sedutoras e uma casa de 
algum tipo de criaturas aladas. 

— Que tipo de criaturas aladas? — perguntei e engoli em seco. 

— Ainda não sei. 

— E a quarta casa? 

— Parece que são duas casas com animais alados. Creio que 
um será uma espécie de pássaro, porém, mais para o fim da profecia, 
também se menciona metal ou ferro, O outro animal alado tem e 
símbolo de “grande” ao lado e o mesmo símbolo se repete mais para o 


fim da profecia. Quero que você pesquise todos os mitos que puder 
encontrar que incluam passar por casas ou a prova de casas e me 
informe sobre o que descobrir. 

— Pode deixar comigo. 

— Ótimo. 

A conversa então se voltou para coisas mundanas e, embora eu 
estivesse feliz por ele me incluir na pesquisa, meu estômago se 
revirava com a ideia de voltar à Índia. Eu estava pronta para o perigo, 
a magia e o sobrenatural, no entanto voltar também significava ter 
que encará-lo novamente. Eu estava me saindo bem em meu 
propósito de levar uma vida comum, mas, sob a superfície, onde 
podia esconder meus sentimentos mais íntimos, alguma coisa se 
agitava. Eu me sentia desconectada, fora de lugar. A Índia me 
chamava, às vezes baixinho, às vezes com um rugido, porém o 
chamado era constante e eu de vez em quando me perguntava se 
algum dia conseguiria me acomodar novamente numa vida normal. 

O Dia de Ação de Graças chegou e Sarah e Mike me 
convidaram para seu banquete de tofu. Fiquei olhando para sua 
abundância de abóboras e morangas festivas durante a refeição, 
tentando descobrir como cabaças de aparência tão inofensiva 
poderiam vir a ser alguma coisa perigosa, e o tempo todo me 
perguntava como elas se encaixariam na busca seguinte. Era um dia 
frio e chuvoso, mas meus pais adotivos tinham a lareira acesa. Para 
minha surpresa, alguns dos pratos vegetarianos estavam de fato 
gostosos. Mas não consegui comer a torta sem açúcar e sem glúten. 

— E aí? Quais são as novidades? Algum gatinho na faculdade? 
— provocou Sarah. 

Ergui os olhos da torta de abóbora que eu espetava 
cautelosamente com um garfo. 


— Bem... estou saindo com alguém — admiti, tímida. — Tem 
um cara chamado Li e também tem o Jason. Não é nada sério. Saímos 
poucas vezes. 

Sarah ficou eufórica e tanto ela quanto Mike me 
importunaram com um monte de perguntas que eu não tinha a 
menor vontade de responder. 

Felizmente Jennifer também havia me convidado, assim como 
a Li, para o jantar de Ação de Graças e consegui escapar da casa dos 
meus pais a tempo de passar na de Jennifer. Ela morava numa bela 
casa em West Salem. Levei uma torta de limão com suspiro, a 
primeira que eu havia tentado fazer, e estava orgulhosa do resultado. 
Eu tinha deixado o suspiro dourar só um pouquinho a mais, porém, 
tirando isso, parecia boa. 

Li ficou radiante quando me viu à porta. Ele me confessou que 
já havia se empanturrado no jantar de sua família, mas que guardara o 
espaço da sobremesa para a minha torta — e foi fiel à sua palavra. Li 
comeu metade dela sozinho. 

Jennifer também fizera uma torta de abóbora, uma de amora e 
um cheesecake. Peguei um pedacinho de cada e me senti no céu. Li 
soltou um gemido e se queixou de que sua barriga estava tão cheia 
que ele teria que dormir ali mesmo. Os filhos de Jennifer pularam de 
alegria com a ideia, sacudindo seus de peregrinos, mas se acalmaram 
imediatamente quando ela colocou o DVD Charlie Brown e o Dia de 
Ação de Graças. 

Eu estava ajudando Jennifer a arrumar a cozinha quando ela 
perguntou: 

— Me conta! Como estão indo as coisas com — ela sussurrou 
— Li? 

— Hum, está tudo bem. 

— Vocês estão ficando? 


— É complicado... 

E deu de ombros e franziu a testa diante da lava-louça. 

—O cara de quem você nunca fala ainda está empatando o 
meio de campo? 

Interrompi na metade o gesto de secar com o pano de prato a 
travessa do peru. 

— Me desculpe se fui grosseira. Para ser sincera, é difícil falar 
sobre ele. Mas o que você quer saber? 

Ela pegou outro prato, esfregou com a bucha e o mergulhou na 
água de enxágue. 

— Quem é ele? Onde está? Por que vocês não ficaram juntos? 

— Ele está na Índia. E não ficamos juntos porque... eu 
sussurrei eu o deixei. 

— Ele a tratou mal? 

— Não, não. Não foi nada disso. Ele era... perfeito. 

— Ele não queria que você voltasse? 

— Não. 

— Ele não quis vir com você? 

O canto da minha boca se curvou num leve sorriso. 

— Tive que implorar para que ele ficasse. 

— Então eu não entendo. Por que você o deixou? 

— Ele era... ele era... — Suspirei. — É complicado. 

— Você o amava? 

Pousei na mesa a travessa que estava secando fazia cinco 
minutos e torci a toalha nas mãos. Então respondi, baixinho: 


—Amava. 

—E agora? 

— Agora... quando estou sozinha... às vezes tenho a sensação 
de que não consigo respirar. 

Jennifer assentiu e lavou mais louça. Os talheres retinham 
suavemente na água cheia de bolhas de sabão. Inclinando um pouco a 
cabeça, ela perguntou: 

— Qual é o nome dele? 

Olhei melancólica para a janela da cozinha. Estava escuro lá 
fora e eu podia ver meu reflexo, os ombros caídos e os olhos sem vida. 

— Ren. O nome dele é Ren. 

Dizer o nome dele machucava ainda mais meu coração 
partido. Senti uma lágrima escorrer pelo rosto e tornei a olhar para a 
janela, bem a tempo de vislumbrar o reflexo de Li, parado atrás de 
mim. Ele se virou e saiu da cozinha, mas não antes que eu visse sua 
expressão. Eu o havia magoado. 

Jennifer estendeu a mão e apertou meu braço. 

— Vá falar com ele. É melhor resolver as coisas logo. 

Ela estava certa. Eu precisava conversar com Li. 

Ele já deixara a casa. Enquanto eu pegava minhas coisas e 
agradecia, Jennifer saiu da cozinha e acenou para que eu fosse. 

Saí e o encontrei encostado em seu carro com os braços 
cruzados diante do peito. 

— Lamento que você tenha ouvido aquilo. 

Ele deixou escapar um suspiro profundo. 

—Está tudo bem. Você me avisou antes de começarmos que 
seria difícil. Acho que só tenho uma pergunta. 


— Pode fazer. 

Ele se virou para me encarar e olhou fundo em meus olhos. 

— Você ainda está apaixonada por ele? 

— Eu... eu acho que sim. 

Ele murchou visivelmente. 

— Mas, Li, isso não tem importância. Ele ficou para trás. Está 
em outro continente. Se quisesse tanto assim estar comigo, teria 
vindo atrás de mim. Mas ele não está aqui. Na verdade, nem sequer 
telefonou. Eu só preciso... de tempo. Um pouco mais de tempo para... 
deixar esses sentimentos de lado. Eu quero poder fazer isso. — 
Estendi a mão e segurei a dele. — Não é justo com você, eu sei. Você 
merece namorar alguém que não tenha esse tipo de bagagem. 

— Kelsey, todo mundo tem algum tipo de bagagem. — Ele 
chutou o pneu do carro. — Eu gosto de você e quero que goste de 
mim. Talvez dê certo, se formos devagar. Podemos aprender a ser 
amigos primeiro, por um tempo. 

— Isso basta para você? 

— Vai ter que bastar. Não tenho outra opção, a não ser parar 
de sair com você e essa não é uma boa opção para mim. 

— Então, vamos devagar. 

Li sorriu e se inclinou para me beijar no rosto. 

— Você vale a espera, Kelsey. E, só para registrar, o cara foi 
maluco de deixar você partir. 



Embora eu houvesse pegado pilhas de livros emprestados na 
biblioteca e passado horas incontáveis na internet, ainda não 
encontrara qualquer aproximação útil sobre a prova das quatro casas. 
Eu esperava que as criaturas aladas nessa parte da busca fossem 


borboletas inofensivas, mas por algum motivo duvidava que seria 
assim tão fácil. Pelo menos agora tínhamos uma pista sobre como o 
tema “ar” entraria na história, pensei. 

Com a cabeça enfiada nos livros quase o tempo todo, o Dia de 
Ação de Graças deu lugar rapidamente às festas do Natal. Podiam-se 
ver enfeites luminosos em todos os bairros e nas vitrines das lojas. 
Continuei a sair tanto com Li quanto com Jason e, em meados de 
dezembro, Li me levou ao casamento de um primo. 

Nas últimas duas semanas eu vinha repetindo para mim 
mesma que eu queria de verdade que as coisas dessem certo com Li, 
que seria bom se eu lhe abrisse meu coração. Ele estava muito bonito 
quando foi me pegar, vestindo um terno escuro. Meu coração se 
agitou quando o vi. Talvez não com amor, mas pelo menos com 
alegria por estar com ele. 

— Uau, Kelsey. Você está maravilhosa! 

Eu havia vasculhado meu armário proibido e encontrado um 
vestido de princesa cor de pêssego, feito de cetim e organza. A parte 
de cima era um espartilho justo que se abria em uma saia de pétalas 
até o meio da canela. 

O casamento foi celebrado num clube campestre. Quando a 
cerimônia chegou ao fim, surgiram dançarmos e músicos chineses e 
nós os seguimos, como num desfile, até a área da recepção. Um dos 
músicos tocava bandolim. Parecia o instrumento pendurado na 
parede da sala de música do Sr. Kadam. 

Guarda-sóís vermelhos, leques dourados e sofisticados 
origamis decoravam o salão. Li explicou que tudo aquilo era 
tradicional em casamentos chineses. A noiva usava um vestido 
vermelho e, em lugar de caixas com presentes, os convidados davam 
ao casal envelopes vermelhos com dinheiro. 

Li indicou um grupo de garotos usando terno preto e óculos de 
sol. Arregalei os olhos e tive que reprimir uma gargalhada quando 


percebi que era o nosso grupo de jogo. Eles sorriram e acenaram para 
mim. Um dos rapazes tinha uma grande valise presa ao pulso por uma 
algema. 

— Por que estão vestidos assim? — perguntei. — E o que tem 
na valise? 

Ele riu. 

— Mil dólares em notas de um, novinhas em folha. Eles vão 
algemar a valise ao noivo. É uma brincadeira. Meu primo fazia parte 
do grupo de jogo até que o trabalho ocupou todo o tempo dele. Como 
é o primeiro a se casar, ele leva a valise. 

Fomos avançando na fila dos cumprimentos e Li me 
apresentou ao primo e à noiva. Ela era baixinha, muito bonita e 
parecia tímida. Depois disso nos sentamos à mesa do jantar, onde 
logo fomos acompanhados por todos os amigos de Li, que implicavam 
com ele por não usar os óculos escuros também. 

A noiva e o noivo celebraram uma cerimônia em que acendiam 
velas em honra aos ancestrais e então o jantar foi servido: peixe, 
simbolizando a abundância; uma lagosta inteira, representando a 
plenitude; pato à Pequim, para a alegria e a felicidade; sopa de 
barbatana de tubarão, para garantir a riqueza; talharim, para uma 
vida longa; e salada de pepino-do-mar, para a harmonia conjugal. Li 
tentou me fazer provar pãezinhos doces de semente de lótus, que 
simbolizavam a fertilidade. 

— Ah... obrigada — falei, hesitante —, mas essa eu vou passar. 

Depois dos votos de felicidades de ambos os lados da família, o 
casal dançou sua primeira música. 

Li apertou minha mão e se levantou. 

— Kelsey, me dá a honra? 

—Claro. 


Ele me girou pela pista de dança uma vez antes que seus 
amigos começassem a se intrometer entre nós. Não consegui dançar 
mais do que uma vez com Li. Algumas músicas depois, um bolo de 
três andares foi trazido ao salão. A parte interna era alaranjada e a 
externa era decorada com um glacê perolado com sabor de amêndoas 
e lindas orquídeas de açúcar. 

Quando Li me deixou em casa naquela noite, eu estava feliz. 
Eu gostava de verdade de fazer parte do mundo dele. Eu o abracei e 
lhe dei um beijo de boa-noite no rosto, e ele sorriu como se tivesse 
acabado de ganhar um troféu de artes marciais. 



Passei o dia de Natal com minha família adotiva. Bebericando 
chocolate quente, fiquei observando as crianças abrirem os presentes. 
Sarah e Mike me deram um conjunto de agasalho e calça de corrida. 
Eles estavam sempre tentando me convencer a correr com eles. As 
crianças me deram luvas e na echarpe. Eu pretendia ficar com eles 
naquela manhã e então passar o restante do dia com Li, que me 
pegaria às duas da tarde para sairmos. 

O presente dele, uma coleção de filmes de artes marciais, 
estava na mesinha de centro na minha sala de estar. Eu já tinha 
decidido que, se ele não tentasse me beijar até o fim daquele 
encontro, eu o beijaria. Tinha até pendurado um galho de visco na 
minha porta de entrada. Uma parte irracional da minha mente dizia 
que talvez beijá-lo fosse a chave para romper o elo que ainda sentia 
com o homem que eu abandonara. Eu sabia que provavelmente não 
seria assim tão fácil, mas aquele poderia ser o primeiro passo. 

Fiquei pensando no encontro. As crianças brincavam com seus 
presentes e os adultos estavam sentados perto da árvore de Natal, 
ouvindo canções natalinas e conversando baixinho, quando a 
campainha soou. 


— Está esperando alguém, Sarah? — perguntei ao me levantar 
para atender a porta. 

Ele disse que você teria uma surpresa. 

— Deve ser um pacote do Sr. Kadam. 

Girei a maçaneta e abri a porta. 

Parado na entrada da casa estava o homem mais lindo do 
planeta. Meu coração parou e em seguida disparou num galope 
trovejante dentro do meu peito. Olhos azul-cobalto ansiosos 
exploraram cada detalhe do meu rosto. Rugas de tensão 
desapareceram de sua expressão e ele respirou fundo, como um 
homem que tivesse estado debaixo d’água por muito tempo. 

Satisfeito, o anjo guerreiro sorriu suave e docemente e 
estendeu a mão vacilante para tocar meu rosto. Senti o elo que nos 
unia fechar os dedos em torno do meu coração e apertar, 
aproximando-nos. Envolvendo-me com os braços, hesitante a 
principio, ele encostou a testa na minha e esmagou meu corpo de 
encontro ao seu. Então me embalou para a frente e para trás e 
acariciou delicadamente meu cabelo. Suspirando, ele sussurrou uma 
única palavra: 

— Kelsey. 

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