quinta-feira, 6 de março de 2014
Capítulo 6 - Escolhas
Entrei e fechei a poda, deixando que meus olhos se ajustassem
à escuridão. Perguntei-me se Ren estaria na casa ao lado e ponderei se
deveria ou não esclarecer as coisas com ele aquela noite.
Cheguei à sala e arquejei baixinho quando avistei a forma
familiar do meu tigre branco de olhos azuis esparramado no sofá de
couro. Ren ergueu a cabeça e olhou diretamente em minha alma.
Lágrimas vieram-me aos olhos. Eu não havia me dado conta de
que sentira tanto a falta desse lado dele, o meu amigo. Ajoelhei-me
diante do sofá, joguei os braços em torno de seu pescoço e deixei que
grandes lágrimas jorrassem, escorrendo pelo meu rosto até seu pelo
branco e macio. Acariciei sua cabeça e alisei suas costas. Ren estava
ali. Finalmente estava comigo. Eu não estava mais sozinha. De
repente percebi que ele devia ter se sentido assim também, ficando
sem mim todos esses meses.
Reprimi um soluço.
— Ren, eu... eu senti tanta saudade. Queria falar com você.
Você é meu melhor amigo. Eu só não queria limitar suas escolhas.
Você consegue entender isso?
Meus braços ainda envolviam com força seu pescoço quando
senti que ele se transformava. Seu corpo se metamorfoseou e logo
seus braços estavam a em torno do meu corpo e eu me encontrava
sentada em seu colo. Sua camisa branca estava úmida das minhas
lágrimas.
Abraçando-me com força, ele disse:
— Eu também senti saudade, iadala. Mais do que você
imagina. E entendo suas razões para partir.
— Entende? — murmurei de encontro à sua camisa.
— Sim. Mas quero que você entenda uma coisa também, Kells.
Você não limita minhas escolhas. Você é a minha escolha.
— Mas, Ren... — funguei.
Ele puxou minha cabeça de volta para seu ombro.
— Este homem, Li. Você o beijou?
Assenti silenciosamente contra seu peito. Não tinha sentido
negar. Eu sana que ele devia ter ouvido através da porta.
— Você o ama?
— Somos amigos e gosto muito dele, mas com certeza não
estou apaixonada por ele.
— Então por que o beijou?
— Eu o beijei para... comparar, eu acho. Para analisar o que eu
realmente sentia por ele.
Ren me pegou e me sentou no sofá ao lado dele. Ele estava se
animando com o assunto e eu não conseguia entender por quê.
Esperava que ele ficasse furioso, mas não estava nada zangado.
— Então é nesses encontros que vocês descobrem se gostam
um do outro?
— É — respondi, hesitante.
— Você teve outros encontros ou esse é o primeiro?
— Com Li?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Houve outros?
— Sim.
Franzi a testa.
— Quantos? — quis saber ele.
— Três no total. Li, Jason e Artie. Se é que se pode contar
Artie. Ren, por que todas essas perguntas? Aonde você quer chegar?
— Só estou curioso em relação a rituais de corte modernos. O
que você fez nesses encontros?
— Fui ver alguns filmes, saí para jantar, fui a um casamento
com Li e a um jogo de futebol com Jason.
— Você beijou todos esses homens?
— Não! Só beijei Li e essa foi a primeira vez.
— Então Li é o seu preferido. — Ren começou a murmurar
consigo mesmo. Ficando de frente para mim, ele tomou minhas mãos
nas dele. — Kelsey, acho que você deve continuar com esses
encontros.
Meu queixo caiu.
—O quê?
— Estou falando sério. Fiquei pensando nisso enquanto você
estava fora. Você falou sobre me dar escolhas. Eu já fiz a minha, mas
você ainda não fez a sua.
— Ren, isso é loucura! Do que você está falando?
— Saia com Li ou Jason ou com quem mais você quiser e
prometo que não vou interferir. Mas também mereço uma chance.
Quero que você saia comigo também.
— Você não entendeu como isso funciona, Ren. Não posso
ficar saindo com três ou quatro homens para sempre. O objetivo
desses encontros, ou melhor, do namoro, é a pessoa acabar ficando
exclusivamente com alguém com quem se identifica.
Ele sacudiu a cabeça.
— Você namora para encontrar a pessoa que você ama, Kelsey.
— Então você acha que eu devo dizer a Li: “A propósito, Ren
está de volta e ele achou que seria ótimo se eu saísse com vocês dois”?
Ë isso? — explodi.
Ele deu de ombros.
— Se Li não consegue lidar com um pouco de competição
honesta, é melhor você saber disso agora.
— Isso vai atrapalhar minhas aulas de wushu.
— Por quê?
— Ele é o meu professor
Ren sorriu.
— Ótimo. Vou com você. Quero conhecê-lo. Aliás, um pouco
de exercício vai me fazer bem.
— Ren, é uma turma de iniciantes. Não é apropriada para você
e eu não quero você lutando com Li. Prefiro que não vá.
— Serei um perfeito cavalheiro. — Ele inclinou a cabeça, me
observando. — Você tem medo de que eu seja a escolha óbvia?
— Não — respondi com irritação. — Estou mais preocupada
que você vá esmagá-lo.
— Eu não faria isso, Kelsey. Mesmo que quisesse, essa não
seria a maneira de conquistar o seu amor Até eu sei disso. Então, vai
sair comigo?
— Sair com você seria... difícil.
— Por que é mais fácil com outros homens do que comigo? E
não me venha com a explicação do rabanete outra vez. Ela é ridícula.
— Porque — continuei baixinho —, se não desse certo com os
outros homens, eu poderia sobreviver sem eles.
Beijando-me os dedos, Ren me olhou com intensidade e disse:
— ladala, você nunca vai me perder. Eu sempre estarei perto
de você. Me dê uma chance, Kells. Por favor.
Soltei um suspiro e filei seu lindo rosto.
— Vamos tentar.
— Obrigado. — Ele se recostou no sofá, muito satisfeito
consigo mesmo. — Então me trate como todos os outros caras.
Ah, sim. Sem problema. Basta tratar o homem mais perfeito e
lindo na face da terra, que por acaso é um antigo príncipe indiano que,
por meio de uma maldição, se transformou em um tigre, como se ele
fosse um cara comum. Nenhuma garota em seu juízo perfeito poderia
sequer olhar para ele — mesmo sem saber tudo que eu sei— e pensar
que ele era igual aos outros.
Ele se inclinou para me dar um beijo no rosto.
— Boa noite, rajkumari. Ligo para você amanhã.
Na manhã seguinte o telefone tocou muito cedo. Era Ren me
convidando para jantar, nosso primeiro encontro oficial.
Eu bocejei, sonolenta.
— Onde você quer jantar?
— Não faço ideia. O que você sugere?
— Em geral o homem tem um lugar em mente quando
telefona, mas vou te dar um desconto dessa vez, já que você é novo
nessa coisa de sair, namorar e tudo mais. Eu sei aonde podemos ir.
Use uma roupa casual e me pegue as cinco e meia. Mas você pode me
fazer uma visita mais cedo se quiser.
— Vejo você às cinco e meia, Kells.
Andei à toa pela casa a maior parte do dia, vigiando nossa
porta de comunicação, mas Ren permaneceu teimosamente do seu
lado. Eu até fiz biscoitos com gotas de chocolate, esperando que o
cheiro o atraísse mais cedo, mas nada funcionou.
As cinco e meia em ponto ele bateu na minha porta da frente.
Quando a abri, ele me entregou uma rosa-chá e me ofereceu o braço.
Estava ridiculamente bem-vestido para um encontro casual, com uma
camisa listrada cinza-escuro de mangas compridas e um colete
esportivo acolchoado de grife.
La fora, Ren abriu a porta do Hummer. O ar quente soprou das
saídas do sistema de aquecimento do carro quando ele deslizou as
mãos pela minha cintura e me levantou até o banco. Certificou-se de
que o cinto estava devidamente preso e perguntou:
— Para onde?
— Vou apresentá-lo ao orgulho do Noroeste. Vou levá-lo a
Burgerville.
No caminho Ren me falou sobre todas as coisas que aprendera
nos últimos meses, entre as quais estava dirigir. Contou uma história
engraçada de quando seu irmão bateu acidentalmente o Jeep no
chafariz e depois o Sr. Kadam não quis deixar Kishan nem chegar
perto do Rolls-Royce.
— Kadam me instrui em todos os temas imagináveis —
continuou Ren.
— Estou estudando política moderna, história mundial,
economia e administração. Aparentemente, viver durante séculos,
somado aos sábios investimentos feitos por Kadam, foi lucrativo.
Somos muito ricos.
— Ricos?
— O suficiente para governar um país.
Fiquei boquiaberta.
Ren prosseguiu casualmente.
— Kadam estabeleceu contatos no mundo todo. São recursos
bastante valiosos e você ficaria surpresa com o número de pessoas
importantes que lhe devem favores.
Pessoas importantes? Como quem?
— Generais, presidentes de grandes empresas, políticos dos
principais países do mundo, a realeza e até líderes religiosos. Ele é
muito bem relacionado. Mesmo que eu pudesse assumir a forma
humana o dia inteiro e passasse todas as horas com ele, não
conseguiria nem chegar perto de reunir todo o conhecimento que ele
adquiriu ao longo dos anos. Ele já era um conselheiro brilhante para o
meu pai. Agora, porém, não é nada menos que um gênio. Não existe
recompensa na Terra que possa lhe pagar a lealdade que demonstrou
para conosco. Eu só queria que houvesse uma forma de expressar
nossa gratidão apropriadamente.
No estacionamento do restaurante, Ren me ofereceu o braço.
Eu o aceitei e disse:
— Ser imortal tem seu preço. O Sr. Kadam parece muito
solitário e isso é algo que vocês três têm em comum. Vocês formam
uma família. Ninguém pode compreender o que você passou melhor
do que Kishan e o Sr. Kadam.
Acho que a melhor coisa que podem fazer como pagamento é
oferecer a ele o mesmo nível de lealdade. Ele considera você e Kishan
como filhos e a melhor maneira de um filho honrar o pai é ser o tipo
de homem que o deixaria cheio de orgulho.
Ren parou, sorriu e inclinou-se para beijar meu rosto.
— Você é uma mulher muito sábia, rajkumari. Esse foi um
excelente conselho.
Quando chegou nossa vez na fila do Burgerville, Ren me
deixou escolher primeiro e em seguida pediu sete sanduíches
enormes, três porções de batata frita, um refrigerante grande e um
milk-shake grande de amora. Quando a atendente perguntou se era
para viagem, ele sacudiu a cabeça negativamente confuso, e lhe disse
que comeríamos ali. Eu ri e disse à mulher que ele estava com muita
fome.
Na máquina de refrigerante, Ren provou vários sabores.
Observá-lo descobrindo novos sabores e novos alimentos era muito
divertido.
Enquanto comíamos, conversamos sobre a faculdade e minha
pesquisa inacabada para o Sr. Kadam sobre criaturas aladas e a prova
das quatro casas. Também lhe contei sobre Jason e meu encontro
horrível com Artie. Ren franziu a atesta, sem entender por que
alguém sairia com Artie por vontade própria.
— Ele praticamente engana as garotas, forçando-as a sair com
ele — expliquei — Mas é supercritico e egocêntrico.
— Hum.
Ren desembrulhou seu último sanduíche e o olhou, refletindo.
Eu ri.
— Está cheio, Tigre? Seria uma pena dispensar seu Milk-shake
de amora. É o melhor do país.
Ele pegou outro canudo e o enfiou na tampa do copo de milk-
shake.
— Aqui, divida comigo.
Dei um gole e Ren inclinou-se e sugou cerca de um terço de
uma só vez.
Depois de comer fomos até um parque ali perto e resolvemos
dar uma Caminhada. Ren pegou um cobertor na mala do carro.
— Tenho permissão para segurar sua mão num primeiro
encontro? — perguntou Ren.
— Você sempre segura minha mão.
— Não num encontro.
Revirei os olhos, mas estendi a mão. Andamos pelo parque por
um tempo e ele me fez muitas perguntas sobre os Estados Unidos, sua
história e sua cultura. A conversa fluía facilmente. Tudo era novo e
fascinante para ele.
Paramos à beira de um lago. Ren se sentou, me puxou contra o
seu peito me envolveu com os braços.
— Só estou tentando aquecê-la — disse, na defensiva, quando
lhe lancei um olhar significativo.
Ri com deboche.
— Esse é o truque mais velho do mundo.
Ren sorriu e roçou os lábios em minha orelha.
— Que outros truques eu deveria usar com você?
— Não sei por quê, mas acho que você vai descobri-los
sozinho.
Apesar da minha brincadeira, ficar perto dele de fato me
manteve aquecida e ficamos conversando e observando a água
iluminada pela lua durante horas.
Ren queria saber tudo que eu tinha feito desde que saíra da
Índia. Queria ver as cachoeiras do Parque Silver Falis, assistir ao
Festival de Shakespeare, ir ao cinema e conhecer todos os
restaurantes da cidade.
Depois que terminou de me interrogar sobre coisas a fazer e
lugares a visitar no Oregon. a conversa mudou.
Ele me apertou mais forte e disse:
— Senti sua falta.
— Senti sua falta também.
— Nada foi igual depois que você partiu. A casa ficou sem vida,
Todos notaram. Não fui o único que sentiu saudade. Até Kadam ficou
abatido. Kishan dizia que o mundo moderno não tinha nada para lhe
oferecer e várias vezes ameaçou ir embora. Mas eu o peguei em mais
de uma ocasião escutando seus telefonemas também.
— Eu não queria tornar a vida de vocês mais difícil. Minha
intenção era tornar as coisas mais fáceis, contribuir para que sua
adaptação de volta ao mundo fosse um pouco menos complicada.
— Você não complica minha vida. Você a simplifica. Quando
está perto, sei exatamente onde eu deveria estar: ao seu lado. Quando
você se vai, apenas corro em círculos, confuso. Minha vida ficou
desequilibrada. Fora de foco.
— Então eu sou a sua Ritalina, é?
— O que é isso?
— Um medicamento que ajuda as pessoas a ter mais
concentração.
— É, acho que é isso. — Ele se pôs de pé, me levantou em seus
braços e disse:
— Não se esqueça: preciso de doses frequentes.
Eu ri e lhe dei um beijo no rosto. Ren me pôs no chão, dobrou
o cobertor e voltamos para o Hummer com o braço dele em meu
ombro.
Eu me sentia bem. Pela primeira vez em meses, sentia-me
completa e feliz. Quando me acompanhou até a porta de minha casa,
ele disse:
— Shubharatri, Kells.
— O que isso quer dizer?
Ele me lançou um sorriso daquele tipo luminoso e de fazer
tremer os joee depositou um beijo demorado na palma da minha
mão.
— Quer dizer “Boa noite”.
Confusa e ligeiramente frustrada, fui para cama.
Sentir-me confusa e ligeiramente frustrada tornou-se uma
constante nos encontros com Ren. Eu o queria por perto com uma
frequência muito maior, mas ele estava determinado a passar pelo
que chamava de práticas de corte habituais. Isso significava me deixar
sozinha a menos que tivéssemos um encontro previamente marcado.
Ele não me deixava nem vê-lo como tigre.
Todos os dias ligava para saber se eu estava livre. Então me
convidava para o cinema, um jantar, um chocolate quente ou uma ida
a uma livraria. Quando determinava que o encontro havia chegado ao
fim, ia embora. Desaparecia completamente e pelo resto do dia eu
não via nem de relance sua figura listrada. Ele também se recusava a
me beijar dizendo que tinha muito o que pôr em dia. Mesmo estando
do outro lado da parede, eu sentia saudade do meu tigre.
Começamos a ler Otelo juntos. Até Otelo ser enganado por
lago, Ren gostou do personagem.
— Foi Otelo quem destruiu o amor dele e de Desdêmona, da
mesma maneira que Romeu. Isso não teve nada a ver com lago —
comentou Ren, pensativo — Otelo não confiava na mulher. Se ele
tivesse simplesmente perguntado a ela o que acontecera com seu
lenço ou o que ela sentia por Cássio, teria descoberto a verdade.
— Otelo e Desdêmona não se conheciam há muito tempo —
argumentei. — Talvez não estivessem de fato apaixonados. Vai ver
que seu único vínculo verdadeiro eram as histórias que ele contava e
suas aventuras empolgantes. Não muito diferente de você, devo dizer.
Ren estava deitado com a cabeça no meu colo. Ele brincou
com meus dedos um minuto, pensativo, e perguntou, hesitante:
— É por isso que você está comigo, Kelsey? Pela aventura? Está
entediada sentada aqui, lendo, quando poderíamos estar andando
pela Índia à procura de objetos mágicos e combatendo demônios?
Ponderei sobre a pergunta por um momento.
— Não. Eu gosto de estar com você, mesmo que a gente fique
só comendo e lendo.
Ele beijou meus dedos.
— É bom saber.
Recomecei a ler, mas ele se levantou de um pulo e me arrastou
para a cozinha com uma súbita urgência de aprender a fazer pipoca
de micro-ondas.
Uma tarde eu estava tão desesperada para ver meu tigre que
resolvi ir à procura dele sem ter um encontro oficialmente marcado.
Bati na porta de comunicação e, não obtendo resposta, entrei na sala
de estar de Ren. Alguns pacotes fechados estavam empilhados sobre a
bancada. Fui ao andar de cima.
— Ren? — chamei, mas não obtive resposta.
Onde ele poderia estar?, pensei, enfiando a cabeça no escritório
de Ren. O notebook estava ligado e a tela tinha três janelas abertas.
Acomodando-me em sua confortável cadeira de couro, vi que a
primeira janela era do site de uma loja de roupas de grife e a segunda
era de um link para uma página de rituais de corte através dos
tempos.
A terceira janela exibia uma série de e-mails do Sr. Kadam. Eu
me senti um pouco culpada lendo as mensagens de Ren, mas eram
tão curtas que, antes que me desse conta, já havia lido tudo.
De: mestredearmas©rajaramcorp.com
Para: tgrbrc©rajaramcorp.com
Assunto: Documentos
Ren,
A questão dos documentos está resolvida.
Kadam
De: mestredearmas@raiaramcorp.com
Para: tgrbrc©rajaramcorp.com
Assunto: Relocação
Ren,
A seu pedido, anexei um arquivo em caso de emergência.
Documentos? Relocação? O que eles estão aprontando? Com o
mouse, posicionei o cursor sobre o anexo. Com o dedo no botão,
hesitei, ponderando até onde estava disposta a deixar a curiosidade
me levar, quando uma voz me fez dar um pulo.
— É apropriado pedir permissão antes de bisbilhotar
documentos de outras pessoas, você não acha? — perguntou Ren
casualmente.
Minimizei a janela e me levantei. Ele parou no vão da porta,
apoiando o ombro no portal e mantendo os braços cruzados.
— Eu... eu estava procurando você e acabei me distraindo —
murmurei.
— Estou vendo. — Ele fechou o notebook com delicadeza e
apoiou o quadril na mesa, me avaliando. — Eu diria que você
encontrou mais do que estava procurando.
Fitei os cadarços dos meus tênis por alguns segundos, mas
rapidamente encontrei uma centelha de irritação para amenizar a
culpa e levantei a cabeça.
— Você está escondendo coisas de mim?
— Não.
— Bem, tem algo importante acontecendo que você não quer
me contar?
— Não — repetiu ele.
— Jure — eu disse baixinho —, faça um juramento real.
Ele tomou minhas mãos nas suas, fitou-me nos olhos e disse:
— Como o príncipe do Império Mujulaain, juro que não há
aqui nenhum motivo de preocupação. Se não acredita, pergunte a
Kadam. — Ele aproximou a cabeça um pouquinho mais de mim. —
Mas o que eu quero de verdade é a sua confiança. Não vou
desmerecê-la, Kelsey.
— É melhor mesmo — enfatizei, cutucando-o no peito.
Ele levou meus dedos aos lábios, distraindo-me o bastante
para que o assunto de repente perdesse a importância.
— Não vou — prometeu ele e me conduziu de volta para casa.
A vertigem romântica desapareceu logo depois que ele saiu e
eu me vi furiosa a facilidade com que ele me dobrava à sua vontade
com um simples toque.
Nas aulas de wushu recomeçavam na segunda-feira após o
Natal e eu não tha a menor ideia do que diria a Li. Ren concordou em
não ir no primeiro dia para que eu pudesse conversar com Li
primeiro. Não consegui me concentrar durante toda a aula e fiz um
esforço tímido para aprender as formas da mão. Não conseguia
guardar os nomes. Os únicos de que eu me lembrava eram garra de
águia e macaco.
Depois da aula chegou a hora de enfrentar o problema. O que
eu vou dizer? Ele vai me odiar.
— Li, eu queria falar com você.
— Claro — disse ele, sorrindo.
Ele estava feliz e despreocupado. Eu me sentia justamente o
oposto. Estava tão nervosa que precisei me sentar em cima das mãos
para que elas parassem de tremer.
Li esticou as longas pernas no tapete e se apoiou na parede ao
meu lado. Depois de beber um grande gole de água, ele secou a boca e
perguntou:
— E aí, Kelsey? O que foi?
— É... eu não sei bem como dizer isso, então acho que vou
direto ao ponto: Ren voltou.
— Ah. Eu estava me perguntando quando ele apareceria. Achei
que não fosse ficar longe de você para sempre. Então, você está
rompendo comigo... — disse ele com naturalidade.
— Bem, não, não exatamente. Olhe, Ren quer que eu continue
saindo com você, mas quer que eu saia com ele também.
— O quê? Que tipo de cara iria... espere... então você não está
terminando comigo?
Apressei-me em explicar:
— Não, mas vou entender se você não quiser mais me ver. Ele
acha que eu devo sair com vocês dois e então escolher.
— Bem, que atitude... esportiva da parte dele. E o que você
acha disso? Pus a mão em seu braço.
— Concordei em tentar, mas disse a ele que seria estranho e
que você nunca concordaria.
— E o que ele disse?
Suspirei.
— Disse que, se você não conseguisse lidar com um pouco de
competição honesta, era melhor eu saber agora.
Li cerrou os punhos.
— Se ele acha que eu vou desistir e deixar o caminho livre para
ele, está enganado! Então vamos à competição honesta.
— Você está brincando? Está zombando de mim, não está?
— Meu avô me ensinou a estabelecer objetivos e então
batalhar pelo que quero e de jeito nenhum vou perdê-la sem lutar.
Um homem que não corre atrás da garota de que gosta e não luta por
ela não a merece.
Fiquei pasma. Li e Ren eram farinha do mesmo saco, ainda que
estivessem separados por séculos.
— Ele está aqui na cidade? — perguntou ele.
— Não exatamente — suspirei. — Ele é meu vizinho.
— Então ele já tem a vantagem da proximidade.
— Você fala como se estivessem planejando invadir um castelo
— murmurei com ironia.
Ele ignorou meu comentário ou não o ouviu. Ajudou-me a
levantar, distraído, e me acompanhou até o carro.
Quando Li se debruçou em minha porta aberta, acrescentei:
— Ah, e ele também quer vir a uma aula de wushu.
Li esfregou as mãos e riu.
— Excelente! Vamos ver do que esse cara é capaz. Ele pode vir
amanhã! Diga que, como cortesia especial, não vou nem cobrar a taxa
de matrícula.
— Mas, Li, ele não está no mesmo nível que eu.
— Melhor ainda! O iniciante vai aprender uma ou duas
coisinhas!
— Não. Você entendeu mal. Ele...
Li me beijou com força na boca, o que efetivamente me calou.
Ele sorriu e fechou a porta antes que eu pudesse concluir minha
resposta. Acenando, desapareceu na escuridão do estúdio.
No seguinte encontrei um bilhete escrito com capricho colado
na garrafa de suco de laranja na geladeira.
De todas as formas de cautela, a cautela no amor é talvez a
mais fatal para a verdadeira felicidade.
Bertrand Russel
Suspirei, descolei-o da garrafa de suco e colei-o em meu diário.
Liguei para Ren, já que ele só queria me ver em encontros planejados,
e informei que ele estava convidado para a aula de wushu. Então lhe
disse com todas as letras o que achava daquela ideia. Ele fez pouco da
minha reação e afirmou que Li seria um excelente rival e que estava
ansioso para conhecê-lo.
Exasperada, desisti de tentar convencê-lo a esquecer aquela
história e bati o telefone. Ele ligou várias vezes naquele dia, mas
ignorei o telefone e tomei um demorado banho de banheira.
De noite, Ren tirou o Hummer da garagem e veio me pegar. Eu
temia muito, muito, muito ficar no mesmo ambiente com Li e Ren e
não pude deixar de sentir alivio por não estarmos avançados o
bastante no wushu para usar armas.
O corpo dele ocupou o vão da porta.
— Está pronta? Mal posso esperar pela minha primeira aula.
Meu silêncio mal-humorado não pareceu perturbá-lo nem um
pouco e ele falou sobre o começo das aulas na Western Oregon
durante todo o trajeto.
Chegamos alguns minutos atrasados. A aula já havia começado
e Jennifer estava fazendo o aquecimento em nosso canto. Ren
caminhava confiante ao meu lado. Com a cabeça baixa, entrei
rapidamente, larguei a bolsa no chão e tirei o casaco.
Olhei para Jennifer, que estava no chão alongando as pernas.
Ela fez uma pausa no meio de um movimento para olhar Ren. Seus
olhos praticamente saltavam das órbitas. O olhar de Li passou sobre
minha cabeça fixando-se em Ren, que o sustentou com atrevimento,
estudando Li como se o avaliasse em busca de fraquezas.
Ren tirou o casaco, o que provocou um gritinho de Jennifer,
agora totalmente concentrada nos bíceps de bronze dourado de Ren.
A camiseta justa exibia seus braços e peitoral bem desenvolvidos.
Sibilei para ele baixinho:
— Pelo amor de Deus, Ren! Você vai deixar as mulheres com
taquicardia!
Ele levantou as sobrancelhas, confuso.
— Kells, do que você está falando?
— Você! Você é... — desisti, aborrecida. — Deixe para lá.
Pigarreei.
— Desculpe interromper a aula, Li. Ei, pessoal, este é o meu
convidado, Ren. Ele é da Índia e está passando uns tempos aqui.
A boca de Jennifer se escancarou num grande e silencioso
“Oh!”
Li me lançou um olhar interrogativo antes de voltar à aula. Ele
nos fez praticar chutes e posturas e pareceu bastante irritado quando
viu que Ren conhecia todos os movimentos. Li ordenou que
formássemos duplas e decidiu que Ren faria par com Jennifer
enquanto ele trabalharia comigo.
Ren voltou-se para Jennifer todo simpático e ela enrubesceu
dos pés à raiz dos cabelos. Estávamos praticando movimentos para
derrubar o oponente. Li demonstrou um em mim e então pediu que
todos tentássemos repetir. Ren já estava à vontade conversando com
Jennifer, gentilmente guiando-a pelo movimento, dando-lhe dicas e
sugestões. De alguma forma ele já a deixara completamente à
vontade. Ren era gentil e encantador. Quando ela tentou derrubá-lo,
ele caiu de maneira dramática e esfregou o pescoço, fazendo-a
explodir em risadinhas.
Sorri e pensei: É, ele exerce esse efeito em mim também. Fiquei
feliz que ele estivesse sendo simpático com minha amiga. De repente
me vi caída de nas, fitando as luzes fluorescentes. Enquanto eu olhava
Ren e Jennifer, Li havia me derrubado com força. Eu não tinha me
machucado, só fui pega de surpresa. A expressão determinada de Li
imediatamente se transformou em arrependimento.
— Desculpe, Kelsey. Machuquei você? Eu não queria...
Antes que ele pudesse concluir seu pedido de desculpas, foi
atirado no tatame a alguns metros dali. Ren se ajoelhou, debruçando-
se sobre mim.
— Ele machucou você, Kells? Você está bem?
Zangada e constrangida, sibilei:
— Ren! Eu estou bem! Li não me machucou. Eu só não estava
prestando atenção. Acontece.
— Ele devia ter tomado mais cuidado — rosnou Ren.
— Estou bem — sussurrei baixinho. — E caramba! Você
precisava atirá-lo no tatame do outro lado da sala?
Ele resmungou e me ajudou a ficar de pé.
Li voltou correndo e ignorou Ren de propósito.
— Você está bem, Kelsey?
Pousei a mão em seu braço.
— Estou bem. Não se preocupe. Foi minha culpa. Eu me
distraí.
— É. Você estava distraída. — Seus olhos correram para Ren
brevemente. — Belo golpe, mas gostaria de vê-lo tentar isso outra vez.
Ren abriu um sorriso.
— Quando quiser.
Li sorriu de volta e estreitou os olhos.
— Mais tarde, então.
Fiquei ao lado de Jennifer, que tremia de emoção. Ela abriu a
boca para a primeira do que eu imaginava ser uma série de perguntas,
mas ergui um dedo no ar.
— Agora não. Eu só quero terminar esta aula. Prometo que
depois lhe conto o que está acontecendo.
— Promete? — ela articulou sem emitir som.
Assenti com a cabeça.
Jennifer passou o restante da aula observando-nos com
atenção. Eu podia ver sua mente trabalhando, enquanto ela ouvia
com cuidado cada comentário e avaliava cada olhar e toque casual. Li
nos orientou a fazer formas simples com as mãos pelo restante da
aula e então nos dispensou abruptamente.
Ele e Ren pareciam travar uma competição de olhares. Ambos
tinham os braços cruzados, avaliando o outro com frieza.
Acompanhei Jen até a porta.
Ela apertou meu braço.
— Seu Ren é maravilhoso. Um espetáculo. Agora entendo por
que você teve tanta dificuldade em deixá-lo. Se eu fosse alguns anos
mais jovem e não vivesse um casamento feliz, eu o trancaria comigo e
engoliria a chave. O que você vai fazer?
— Ren quer que eu saia com os dois.
Jennifer ficou de queixo caído e eu me apressei a acrescentar:
— Mas ainda não vou tomar nenhuma decisão.
— Isso é tão emocionante! É melhor que minha novela
favorita. Boa sorte, Kelsey. Até segunda.
No carro, a caminho de casa, perguntei a Ren:
— Você e Li conversaram?
— Não muito. Vou frequentar as aulas de wushu, mas tenho
que pagar um preço especial, que Li estipulou achando que eu não
poderia pagar.
— Não gosto nada disso. Eu me sinto como uma criança num
processo litigioso de guarda compartilhada.
— Você pode sair com os dois ou romper com Li agora —
replicou ele. — 4 Mas, para ser justa, deveria dar a Li pelo menos uma
semana.
— Rá! Está tão certo assim que eu escolheria você? Li também
é um cara legal!
Ren esfregou o queixo e disse baixinho:
— É. Acho que sim.
Esse comentário me surpreendeu e fiquei em silêncio,
pensando nisso a caminho de casa. Ren me ajudou a saltar do carro,
me deixou na porta e desapareceu, como sempre.
Sair com Li, Ren e Jason ao mesmo tempo era ridículo. Era
quase como se eu estivesse cercada por cavaleiros lutando pela
preferência da donzela. Enquanto eles marchavam em suas
armaduras de batalha, afiavam as lanças e se preparavam para montar
seus cavalos, eu refletia sobre minhas opções. Tinha uma escolha,
afinal de contas. Eu podia escolher o vencedor, o perdedor ou
nenhum deles, O lado bom é que isso me faria ganhar algum tempo.
Eu podia compreender a ideia de uma rivalidade romântica do
ponto de vista de Ren, pelo menos um pouco. No século em que ele
nasceu os homens provavelmente lutavam pelas mulheres.
Certamente seu instinto de tigre lhe dizia que afugentasse outros
machos. O que me surpreendeu foi a reação de Li. Quem iria imaginar
que ele fosse chegar a esse ponto?, pensei. Se Li houvesse terminado
comigo, teria facilitado muito meu papel nessa novela. Talvez os dois se
matassem na disputa e todos morressem no fim, como em Hamlet.
Quando chegamos para a aula de wushu na segunda, Li e Ren
pareciam ter estabelecido um acordo tácito de não se olharem. A
turma os observava com cautela, mas, vendo que nada acontecia,
todos acabaram sossegando. Nem Li nem Ren fizeram par comigo.
Li se esforçava para me levar a restaurantes elegantes e
planejar piqueniques elaborados. Ren se contentava em ir à minha
casa para ler ou, assistir a uns filmes. Pipoca passou a ser seu lanche
favorito. Víamos filmes antigos depois ele fazia milhões de perguntas.
Ele se divertiu com vários deles, especialmente Star Wars. Gostava de
Luke e achava que Han Solo era bad boy demais.
—Ele não é digno da princesa Leia — disse Ren, o que me deu
uma compreensão mais profunda sobre sua persona de “cavaleiro na
armadura brilhante”
Na noite de sexta, Ren e eu estávamos prestes a começar a ver
outro filme quando me lembrei de que havia marcado um encontro
com Jason. Eu disse a Ren que ele podia assistir ao filme sem mim. Ele
resmungou, pegou um saco de pipoca e foi ligar o micro-ondas.
Quando desci com um vestido azul-escuro, sandálias de tiras e
o cabelo liso, Ren levantou-se bruscamente e deixou cair a tigela de
pipoca no chão.
— Por que está vestida assim? Aonde você vai?
— Jason vai me levar para ver uma peça em Portland. Mas
pensei que você tivesse algum tipo de política de não interferência
cavalheiresca em relação aos meus encontros.
— Quando você se veste assim, posso interferir quanto quiser.
A campainha soou e, quando abri a porta, Ren se aproximou
pelas minhas costas e me ajudou a vestir o casaco. Jason se moveu
para a frente e para trás pouco à vontade. Seus olhos fuzilaram Ren.
— Ah, Jason, este é meu amigo Ren. Ele é da Índia e vai passar
uns tempos
Ren estendeu a mão e sorriu, destilando veneno.
— Tome conta direitinho da minha garota, Jason.
Havia decididamente um “senão” implícito no fim da frase.
Jason engoliu em seco.
— Arrã. Pode deixar.
Empurrei Ren de volta para dentro de casa e fechei a porta em
sua cara. Na verdade, era um alívio estar com Jason. Eu não sentia a
pressão intensa que agora sentia com Li e Ren. Não que eles
estivessem me pressionando. Ren, em particular, parecia ter uma
paciência infinita. Acho que isso vinha de sua metade tigre.
Jason me levou para ver O Rei Leão. Os figurinos e adereços
eram incríveis e eu me peguei desejando que Ren estivesse ali comigo
em vez de Jason. Ren teria adorado ver como os animais eram
representados.
Depois do espetáculo a multidão se espalhou pela calçada do
teatro. A pessoas caminhavam devagar em todas as direções na rua,
obrigando os carros a avançar em perigosos solavancos. Uma senhora
idosa deixou cair seu programa da peça e estava se abaixando para
pegá-lo quando um carro dobrou a esquina.
Sem pensar, corri na frente da mulher e fiz sinal para que o
carro parasse. O motorista pisou no freio, mas não rápido o bastante.
Minha sandália de tiras ficou presa numa fenda do calçamento
quando tentei sair do caminho. O carro bateu em mim de raspão e eu
caí.
Jason correu para me ajudar e o motorista saltou do carro. Eu
não estava ferida com gravidade. Meu vestido e meu orgulho é que
haviam sofrido danos, mas, fora isso, eu só tinha alguns arranhões e
machucados. Um fotografo do teatro correu para bater algumas fotos.
Jason posou comigo, com meu vestido rasgado e o rosto sujo, e
forneceu meu nome, dizendo que eu era uma heroína e que salvara a
mulher idosa.
Tirando com desgosto minha sandália com o salto quebrado,
segui para o carro. Jason, animado, falava do acidente e dizia que era
bem provável que minha foto saísse na revista do teatro.
Ele tagarelou sem parar durante todo o trajeto sobre o
trimestre seguinte na faculdade e a última festa a que fora. Quando
parou diante da minha casa, não abriu a porta para mim. Suspirei,
pensando: O cavalheirismo está quase extinto nesta geração. Jason
ficava olhando para meu vestido rasgado e para as janelas.
Provavelmente estava apavorado pensando que Ren pudesse ir atrás
dele por não ter tomado conta de ruim. Virei-me no assento pata
encará-lo.
— Jason, precisamos conversar.
— Claro, O que foi?
Suspirei de leve e disse:
— Acho que devíamos parar de sair. Não temos muito em
comum. Mas eu gostaria que a gente conservasse a amizade.
— Tem outra pessoa na jogada?
Os olhos dele dispararam para a porta da casa outra vez.
— Talvez sim.
— Arrã. Bem, se mudar de ideia, estarei por perto.
— Obrigada, Jason. Você é um cara muito legal.
Um pouco medroso, mas ainda assim legal.
Dei-lhe um beijo de boa-noite no rosto e ele se foi de bom
humor Não foi tão ruim. Da próxima vez não será fácil assim.
Entrei em casa e encontrei outro bilhete na bancada da
cozinha, ao lado uma tigela cheia de pipoca.
Nunca se perde por amar
Perde-se por se refrear
Barbara DeAngelis
Estou identificando um tema aqui. Peguei uma Coca diet, a
pipoca e subi lentamente os degraus, carregando minha sandália
quebrada.
Um a menos. Que venha o próximo.
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