quinta-feira, 6 de março de 2014

Capítulo 9 - Kishan


Sem nenhuma notícia de Lokesh e, felizmente, sem nada de 
anormal acontecendo, relaxei o bastante para aproveitar o baile do 
dia dos namorados. A noite seria divertida e todo o lucro seria 
revertido para o Museu Artico Jensen. 

Ren pegou uma capa para roupa no meu armário e a pendurou 
na porta do banheiro. 

— O que é isto, Tigre? Acha que agora pode escolher o que 
vou vestir, é? 

— Gosto de você com qualquer roupa. — Ele me puxou para 
um abraço apertado. — Mas queria vê-la neste vestido. Vai usá-lo esta 
noite? 

Bufei. 

— Você provavelmente quer que eu o vista porque não o usei 
num encontro com ninguém. Agora não suporta o vestido pêssego 
porque diz que ele cheira a Li mesmo depois de ter sido lavado. 


— O vestido pêssego fica lindo em você e eu o escolhi 
especialmente para você. Mas tem razão. Ele me faz lembrar Li e eu 
quero que esta noite seja apenas nossa. Ele beijou meu rosto. — 
Venho buscá-la para jantar em duas horas. Não me faça esperar 
demais. 

— Não farei. 

Ele encostou a testa na minha e acrescentou com ternura: 

— Odeio ficar longe de você. 

Depois que saiu, tomei um banho quente, enrolei uma toalha 
na cabeça e vesti um roupão. Abrindo o zíper da capa para roupa, 
encontrei um vestido de chiffon cereja com saia tipo sereia e mangas 
tulipa. Numa caixa no chão encontrei sandálias altas de tiras no 
mesmo tom de vermelho. 

Suspirei. Que obsessão é essa que os homens têm com sandálias 
de tiras? 

Agora que eu tinha um bilhão de batons, encontrei facilmente 
um que combinasse com o vestido. Passei um tempão com o 
modelador enrolando o cabelo em cachos, que prendi no alto da 
cabeça com pentes engastados com pedras, deixando alguns cachos 
soltos na altura das minhas orelhas. Passei maquiagem e tive até 
tempo de pintar as unhas das mãos e dos pés com esmalte vermelho. 

Ren tocou a campainha, tentando agir com formalidade. Eu a 
abri e arquejei baixinho. Meu anjo guerreiro usava uma camisa branca 
com colete cinza e gravata de cetim vermelho que combinava com 
meu vestido. O paletó de seu smoking preto estava jogado 
casualmente sobre o ombro e o cabelo lhe caía sugestivamente sobre 
o olho. Ele parecia um modelo que tinha acabado de sair das páginas 
de uma revista de moda. 


De repente eu me senti, comparada a ele, uma menininha 
brincando de vestir as roupas da mãe. Podia imaginar todas as garotas 
do baile querendo estender a mão e tirar o cabelo de sua testa. 

Ren sorriu e meu coração despencou até os pés, onde ficou se 
debatendo como um peixe fora da água. A mão que vinha às costas 
revelou um buquê de duas dúzias de rosas vermelhas. Ele entrou e as 
colocou num jarro com água que já havia preparado. 

— Ren! Você não pode esperar que eu vá a um baile com você 
assim! Já é difícil o bastante quando se veste de maneira normal. 

— Não tenho ideia do que você está falando, Kelsey. — Ele 
estendeu a mão e puxou levemente um dos meus cachos espiralados, 
prendendo-o atrás da orelha. — Ninguém vai nem me notar com você 
ao meu lado. Está absolutamente linda. Agora posso dar seu presente 
de dia dos namorados? 

— Você não precisava me dar mais nada, Ren. Acredite, você já 
é um presente e tanto. 

Ele então tirou uma caixinha de joias do bolso e a abriu. Havia 
um par de brincos pendentes com diamantes e rubis, engastados em 
estrelinhas de 

— São lindos! — sussurrei. 

Ele me ajudou a tirá-los da caixa. Gostei da sensação de tê-los 
pendendo de minhas orelhas e batendo no rosto quando eu virava a 
cabeça. 

Fiquei na ponta dos pés e o beijei. 

— Obrigada. Adorei. 

— Por que razão estou vendo um “mas” em sua expressão? 

— Esse “mas” é porque você não precisa comprar coisas caras 
para mim. Fico perfeitamente feliz com coisas normais, comuns, 
como... meias. 


— Meias não seriam um presente romântico — zombou ele. — 
Esta é uma ocasião especial. Não estrague minha noite, Kells. Diga 
apenas que me ama e que adorou os brincos. 

Envolvi-lhe o pescoço com os braços e sorri para ele. 

— Eu te amo. E... adorei os brincos. 

Seu rosto se iluminou num sorriso dolorosamente belo e meu 
coração mais uma vez deu um salto. 

Peguei seu presente na mesa e entreguei a ele. 

— É muito pobre, se comparado com os brincos e as rosas. 
Acontece que é difícil presentear tigres ricos. 

Ele rasgou o papel e lá estava meu presente simplório, um 
livro. 

— É O conde de Monte Cristo — expliquei. — Fala de um 
homem acusado injustamente e mandado para a prisão por muito 
tempo, até que escapa e busca a vingança contra seus delatores. É 
uma história muito boa que me fez pensar em você no cativeiro por 
centenas de anos. Pensei que podíamos dar ima pausa em 
Shakespeare e quem sabe lê-lo juntos. 

— É um presente perfeito. Você não só está me oferecendo 
uma nova obra literária, o que sabe que aprecio, como também está 
me oferecendo horas e horas de leitura a seu lado, que é o melhor 
presente que poderia me dar. 

Com uma tesoura, cortei um botão do buquê e o prendi em 
sua lapela. Então saímos para jantar. Ren havia reservado uma sala 
privada num restaurante. 

Depois de acomodados à mesa e servidos por não menos que 
três garçons exclusivos, sussurrei. 

— Um restaurante normal teria sido perfeitamente bom para 
mim. 


— Um restaurante normal é para onde centenas de homens 
estão levando suas namoradas esta noite. Não é especial nem tem 
privacidade. Eu queria você só para mim. 

Ren pegou minha mão e a beijou. 

— É meu primeiro dia dos namorados com a garota que eu 
amo. Queria vê-Ia brilhar à luz de velas. Por falar nisso... 

Ele tirou uma folha do bolso de seu paletó e a entregou a mim. 

— O que é isso? — Desdobrei o papel e reconheci sua letra. — 
Você escreveu um poema para mim? 

Ele sorriu. 

— Escrevi. 

— Pode ler para mim? 

Ele assentiu e pegou a folha. Quando começou a ler, o timbre 
de sua voz me aqueceu. 

Acendi uma vela e observei a chama. 

Ela dançava e se retorcia. 

Livre e rebelde. 

Cativou-me e cintilou em meus olhos. 

Quando passei a mão sobre ela, 

Agitou-se. 

A chama elevou-se e ardeu, mais quente. 

Quando afastei a mão, o calor diminuiu, 

Tornou-se mais fraco e se extinguiu. 

Estendi novamente a mão para desfrutar o calor. 

Será que queimaria? Formaria bolhas e inflamaria? 


Não! Formigava e aquecia, 

Queimando lentamente, rubro, 

Ateando-me fogo no corpo e na alma; 

Era luzidio, luminoso, radiante, 

O rubor do rosto dela. 



Ren 





Ele baixou a cabeça, como se estivesse constrangido com as 
belas palavras. Eu me levantei e fui até o seu lado da mesa. Sentei-me 
em seu colo e passei os braços por seu pescoço 

— É lindo. 

— Você é linda. 

— Eu lhe daria um beijo agora, mas você ficaria todo sujo de 
batom e... que a garçonete iria pensar? 

— Ela pode pensar o que quiser 

— Estou travando uma batalha perdida, não estou? 

— Está. Pretendo beijá-la... muito, antes que esta noite acabe. 

— Sei. Então é melhor eu começar. Você não acha? 

— Eu diria que sim. 

Nós nos beijamos e eu fiquei tão alheia a tudo que não fosse 
Ren que não ouvi quando a garçonete voltou. Meu rosto enrubesceu. 

Ren riu baixinho. 


— Não se preocupe. Vou deixar uma boa gorjeta para ela. 

A garçonete se aproximou de nossa mesa quando eu, 
constrangida, do colo de Ren. Para meu desespero, a parte inferior do 
rosto dele estava toda borrada de batom vermelho. Eu só podia 
imaginar como estava o meu rosto. Ren não estava nem ai. 

Corri até o banheiro para me ajeitar e antes pedi a ele que 
fizesse o pedido do jantar. Quando voltei a comida já tinha chegado. 
Ren se levantou para puxar minha cadeira quando me sentei e se 
inclinou para encostar seu rosto no meu 

Brinquei, distraída, com meus brincos novos. Ren percebeu. 

— Não gostou deles? 

— São lindos, mas me sinto muito culpada por você gastar 
todo esse dinheiro comigo. Acho que devia devolvê-los amanhã. 
Talvez eles o deixem pagar apenas uma taxa de aluguel. 

— Vamos falar sobre isso depois. 

Depois do jantar fomos para o baile. Ren me conduziu pela 
pista, me girando de um lado para outro. Segurando-me bem perto 
dele, não tirava os olhos de mim enquanto me rodopiava ao ritmo da 
música. Sua beleza era tão cativante que eu tampouco conseguia tirar 
os olhos dele. 

Ele assoviou, acompanhando uma canção chamada “My 
Confession” 

Sorrindo, admiti: 

— Essa música descreve como me sinto em relação a você. 
Levei muito tempo para reconhecer esse sentimento, mesmo para 
mim mesma. 

Ele ouviu com mais atenção a letra da canção e então abriu um 
sorriso. 


— Eu sabia quais eram seus sentimentos por mim desde 
aquele beijo antes de sairmos de Kishkindha. O que a deixou louca de 
raiva. 

— Ah, o que você achou que fosse esclarecedor? 

— Foi esclarecedor porque foi ali que eu soube. Soube que 
seus sentimentos por mim eram tão fortes quanto os meus por você. 
Não se pode beijar um homem daquela forma sem estar apaixonada 
por ele, Kells. 

Ergui a mão para brincar com o cabelo em sua nuca. 

— Então foi por isso que você ficou tão metido e seguro de si 
depois daquele dia. 

— Sim. Mas toda aquela petulância desapareceu depois que 
você foi embora. 

Sua expressão se tornou séria. Ele beijou meus dedos, 
pressionou minha mão contra seu peito e pediu com intensidade: 

— Prometa que nunca mais vai me deixar, Kelsey. 

Olhei em seus olhos azul-cobalto e disse: 

— Prometo. Eu nunca mais vou deixar você. 

Seus lábios roçaram levemente os meus. De repente ele me 
dirigiu um sorriso malicioso, afastou-me com um rodopio e me puxou 
de volta, apertando de encontro ao seu peito. Então deslizou o braço 
pelas minhas costas e me baixou devagar. Levantando-me 
rapidamente, começamos a nos mover seguindo o tango e Ren me 
conduziu com suavidade no ritmo latino da canção. 

Eu sabia que as pessoas deviam estar nos observando, mas, 
àquela altura, não ligava. Ele conseguia executar os passos com 
habilidade, embora eu não soubesse o que estava fazendo. A dança 
era ardente e apaixonada e eu fui rapidamente dominada por ele e 


pela cadência da melodia. Ele me envolveu numa onda de sensações 
físicas e mentais, orquestrando a perfeita sedução. 

Quando a música chegou ao fim, Ren teve que me segurar, 
pois minhas pernas estavam bambas como gelatina. Ele riu e fez 
carinho em meu pescoço com o nariz, feliz com minha reação. 

Depois de eu me recuperar o suficiente de seu torturante 
ataque aos meus sentidos, eu disse: 

— Eu achava que esse tipo de dança só existisse nos filmes. 
Onde você aprendeu a dançar assim? 

— Minha mãe me ensinou várias danças tradicionais e, desde 
então, aprendi muitos movimentos por meio da observação. O Sr. 
Kadam falou com Nilima e ela se tornou minha parceira de treino. 

Franzi a testa. 

— Não me agrada nem um pouco a ideia de você e Nilima 
dançando. Se quiser praticar, é só me ensinar. 

— Nilima é como uma irmã para mim. 

— Mesmo assim. 

— Está bem. Prometo nunca mais dançar com outra mulher. 
— Ele sorriu. 

— Mas ainda gosto quando você fica ciumenta. 

Voltamos a dançar uma música lenta e eu pus a cabeça em seu 
ombro, fechei os olhos e me permiti desfrutar a sensação de estar em 
seus braços. A música estava apenas na metade quando senti seu 
corpo enrijecer e o vi olhar para trás de mim. 

— Ora... ora.., ora — uma voz sedosa e familiar nos 
interrompeu. — Um dia da caça, outro do caçador. Creio que esta 
dança seja minha. 

Dei meia-volta. 


— Kishan! Como estou feliz de ver você! 

E o abracei com entusiasmo. 

O príncipe de olhos dourados me tomou nos braços, encostou 
o rosto no meu e disse: 

— Também estou feliz em vê-la, bilauta. 

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