quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capítulo 9 - Decifrando a mensagem


  O instinto alerta de Miguel acordou-o com o primeiro ruído vindo do telhado.
O líder dos Karas rolou para a escuridão do forro e esperou.
  Um sujeito estranho, de óculos e gordas bochechas apareceu sob as telhas de
vidro, iluminado pelo luar:

— Miguel, sou eu — anunciou-se Calú, tirando aqueles óculos exagerados e
os dois chumaços de algodão que lhe aumentavam o volume das bochechas. 

— A polícia esteve lá em casa. Tinha o tal detetive gordo que você falou e um outro,
mais simpático. Procuravam por mim e por você. Tive de enganá-los, fingindome
de criado da minha própria casa. Ah, ah! Os dois trouxas caíram direitinho!
Logo que deu, escapei e vim pra cá.

  Certamente a polícia tinha estado na casa de Miguel, falando com a mãe do
rapazinho, depois do falso telefonema. Por isso tinham corrido tão depressa para
a casa de Calú.

Agora eram dois Karas "queimados" junto à polícia. Miguel e Calú não
podiam mais circular livremente.

* * *

  De manhãzinha, quando Magrí chegou aos vestiários, uma faxineira gorda
resmungava, muito zangada.

— O que foi, dona Rosa?

— Essa garotada grã-fina não tem o menor respeito pelo trabalho dos pobres,
isso é o que é!

— Mas o que aconteceu?

— Imagine que porcaria: borraram as paredes do banheiro! Que nojeira!
Tudo cheio de riscos e pingos de porcaria. Depois a pobre aqui é que tem de
limpar!

A mulher pegou o seu balde e foi embora, resmungando sempre.

* * *

Magrí ainda estava rindo quando fechou o alçapão do esconderijo secreto.

— Qual é a graça, Magrí?

— Fizeram uma porca duma sujeira nas paredes do banheiro! Dona Rosa
estava louca de raiva! Disse que uma porção de pinguinhos e riscos feitos com...

Crânio deu um pulo:

— Pinguinhos e riscos? Você disse pinguinhos e riscos?

— Dona Rosa é que disse.

— E aposto que ela já limpou tudo, não é? — lamentou-se Crânio. — Por que
alguém faria pingos e riscos nas paredes do banheiro? Pingos e riscos, ou traços e
pontos. Podia ser um código. Morse, talvez.

  Todos se calaram. A única pessoa que poderia deixar algum código no
banheiro do Elite só poderia ser...

— Chumbinho, é claro! Vai ver ele deixou uma mensagem para os Karas,
antes de ser sequestrado! — concluiu Miguel.

— Só temos um jeito de saber — decidiu Crânio. — Magrí, vê se encontra a
dona Rosa. Traga-a para o vestiário. Quero falar com ela no quartinho das
vassouras.

Calú riu com deboche:

— Ora, que besteira! Você acha que dona Rosa conhece o código Morse?
Você acha que ela vai se lembrar? Ora, deixe de bobagem

Crânio admitia tudo, menos que gozassem da sua genialidade:

— Pode estar certo de que ela se lembra. Pelo menos no inconsciente dela a
mensagem está fotografada.

— E como é que você vai "revelar" essa fotografia?

— Hipnose, meu caro! Ou você já esqueceu esta minha especialidade?

* * *

  Dona Rosa conhecia muito bem o Crânio e simpatizava com o jeito educado
do rapazinho. Por isso achou divertido o modo como ele falava:

— Esse seu trabalho deve dar uma canseira danada, não é, dona Rosa?

— E sim, meu filho. É uma trabalheira!

— E, de vez em quando, a senhora sente vontade de sentar e esquecer de tudo
por uns minutos, não é?

— É...

— Então descanse, dona Rosa. Sente-se nesta cadeira. Suas pálpebras estão
pesadas e a senhora está calma, tranquila...

— Estou calma, tranquila...

— Seus olhos estão se fechando, lentamente... muito lentamente... a senhora
está com sono, muito sono... Agora a senhora já está adormecida. Está dormindo
e está tranquila...

  O corpo gordo da faxineira estava largado na cadeira. Mole como um saco
de batatas.

— A senhora só ouve a minha voz. Somente a minha voz. Vamos voltar no
tempo para esta manhã. A senhora está entrando no vestiário...

— No vestiário... que porcaria! — murmurou dona Rosa em seu transe
hipnótico.

— Isso. Vamos falar da porcaria. A senhora está vendo a porcaria?

— Estou vendo. Esses meninos não têm consideração com os pobres...

— Conte para mim, dona Rosa. Como são esses riscos e esses pingos.

— Em cima tem um risco, um pingo, outro risco.

— É Morse, mesmo. O que ela disse é um K! — conferiu Magrí.

— E depois, dona Rosa?

— Tem um risco, outro pingo, outro pingo, outro pingo...

B! — traduziu Calú.

— Embaixo tem um risco, um pingo, um risco, um pingo...

C de Chumbinho! — concluiu Miguel.

— Tem mais, dona Rosa?

— Mais nada... sujeira... porcaria... meninos porcos...
  Crânio aproximou-se da faxineira:

— Dona Rosa, eu vou contar até três. Quando eu terminar de contar, a
senhora acordará e terá esquecido tudo o que aconteceu agora. Um, dois, três!
Acorde, dona Rosa!

Os olhos da gorda senhora abriram-se de repente e ela se levantou apressada:

— Nossa! Tenho muito trabalho ainda. Com licença, meninos, mas eu tenho
de...

  E foi-se embora, sem se lembrar de nadinha daquela estranha sessão de
hipnose.

* * *

K-B-C: Karas - Bino - Chumbinho — decifrou Miguel. — E isso! Chumbinho
tentou nos avisar que ele e Bino caíram na armadilha dos bandidos!

— Calú! — comandou Crânio. — Verifique se Bino veio à escola hoje!

* * *

  Era isso. Por mais que procurassem, não foi possível encontrar o Bino
também.
  Miguel sentiu-se duplamente culpado. Ao mandar Chumbinho "investigar" o
pobre do Bino, ele tinha envolvido também o próprio Bino na história.
  Pobre Bino! Pobre Chumbinho! E agora?

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