O instinto alerta de Miguel acordou-o com o primeiro ruído vindo do telhado.
O líder dos Karas rolou para a escuridão do forro e esperou.
Um sujeito estranho, de óculos e gordas bochechas apareceu sob as telhas de
vidro, iluminado pelo luar:
— Miguel, sou eu — anunciou-se Calú, tirando aqueles óculos exagerados e
os dois chumaços de algodão que lhe aumentavam o volume das bochechas.
— A polícia esteve lá em casa. Tinha o tal detetive gordo que você falou e um outro,
mais simpático. Procuravam por mim e por você. Tive de enganá-los, fingindome
de criado da minha própria casa. Ah, ah! Os dois trouxas caíram direitinho!
Logo que deu, escapei e vim pra cá.
Certamente a polícia tinha estado na casa de Miguel, falando com a mãe do
rapazinho, depois do falso telefonema. Por isso tinham corrido tão depressa para
a casa de Calú.
Agora eram dois Karas "queimados" junto à polícia. Miguel e Calú não
podiam mais circular livremente.
* * *
De manhãzinha, quando Magrí chegou aos vestiários, uma faxineira gorda
resmungava, muito zangada.
— O que foi, dona Rosa?
— Essa garotada grã-fina não tem o menor respeito pelo trabalho dos pobres,
isso é o que é!
— Mas o que aconteceu?
— Imagine que porcaria: borraram as paredes do banheiro! Que nojeira!
Tudo cheio de riscos e pingos de porcaria. Depois a pobre aqui é que tem de
limpar!
A mulher pegou o seu balde e foi embora, resmungando sempre.
* * *
Magrí ainda estava rindo quando fechou o alçapão do esconderijo secreto.
— Qual é a graça, Magrí?
— Fizeram uma porca duma sujeira nas paredes do banheiro! Dona Rosa
estava louca de raiva! Disse que uma porção de pinguinhos e riscos feitos com...
Crânio deu um pulo:
— Pinguinhos e riscos? Você disse pinguinhos e riscos?
— Dona Rosa é que disse.
— E aposto que ela já limpou tudo, não é? — lamentou-se Crânio. — Por que
alguém faria pingos e riscos nas paredes do banheiro? Pingos e riscos, ou traços e
pontos. Podia ser um código. Morse, talvez.
Todos se calaram. A única pessoa que poderia deixar algum código no
banheiro do Elite só poderia ser...
— Chumbinho, é claro! Vai ver ele deixou uma mensagem para os Karas,
antes de ser sequestrado! — concluiu Miguel.
— Só temos um jeito de saber — decidiu Crânio. — Magrí, vê se encontra a
dona Rosa. Traga-a para o vestiário. Quero falar com ela no quartinho das
vassouras.
Calú riu com deboche:
— Ora, que besteira! Você acha que dona Rosa conhece o código Morse?
Você acha que ela vai se lembrar? Ora, deixe de bobagem
Crânio admitia tudo, menos que gozassem da sua genialidade:
— Pode estar certo de que ela se lembra. Pelo menos no inconsciente dela a
mensagem está fotografada.
— E como é que você vai "revelar" essa fotografia?
— Hipnose, meu caro! Ou você já esqueceu esta minha especialidade?
* * *
Dona Rosa conhecia muito bem o Crânio e simpatizava com o jeito educado
do rapazinho. Por isso achou divertido o modo como ele falava:
— Esse seu trabalho deve dar uma canseira danada, não é, dona Rosa?
— E sim, meu filho. É uma trabalheira!
— E, de vez em quando, a senhora sente vontade de sentar e esquecer de tudo
por uns minutos, não é?
— É...
— Então descanse, dona Rosa. Sente-se nesta cadeira. Suas pálpebras estão
pesadas e a senhora está calma, tranquila...
— Estou calma, tranquila...
— Seus olhos estão se fechando, lentamente... muito lentamente... a senhora
está com sono, muito sono... Agora a senhora já está adormecida. Está dormindo
e está tranquila...
O corpo gordo da faxineira estava largado na cadeira. Mole como um saco
de batatas.
— A senhora só ouve a minha voz. Somente a minha voz. Vamos voltar no
tempo para esta manhã. A senhora está entrando no vestiário...
— No vestiário... que porcaria! — murmurou dona Rosa em seu transe
hipnótico.
— Isso. Vamos falar da porcaria. A senhora está vendo a porcaria?
— Estou vendo. Esses meninos não têm consideração com os pobres...
— Conte para mim, dona Rosa. Como são esses riscos e esses pingos.
— Em cima tem um risco, um pingo, outro risco.
— É Morse, mesmo. O que ela disse é um K! — conferiu Magrí.
— E depois, dona Rosa?
— Tem um risco, outro pingo, outro pingo, outro pingo...
— B! — traduziu Calú.
— Embaixo tem um risco, um pingo, um risco, um pingo...
— C de Chumbinho! — concluiu Miguel.
— Tem mais, dona Rosa?
— Mais nada... sujeira... porcaria... meninos porcos...
Crânio aproximou-se da faxineira:
— Dona Rosa, eu vou contar até três. Quando eu terminar de contar, a
senhora acordará e terá esquecido tudo o que aconteceu agora. Um, dois, três!
Acorde, dona Rosa!
Os olhos da gorda senhora abriram-se de repente e ela se levantou apressada:
— Nossa! Tenho muito trabalho ainda. Com licença, meninos, mas eu tenho
de...
E foi-se embora, sem se lembrar de nadinha daquela estranha sessão de
hipnose.
* * *
— K-B-C: Karas - Bino - Chumbinho — decifrou Miguel. — E isso! Chumbinho
tentou nos avisar que ele e Bino caíram na armadilha dos bandidos!
— Calú! — comandou Crânio. — Verifique se Bino veio à escola hoje!
* * *
Era isso. Por mais que procurassem, não foi possível encontrar o Bino
também.
Miguel sentiu-se duplamente culpado. Ao mandar Chumbinho "investigar" o
pobre do Bino, ele tinha envolvido também o próprio Bino na história.
Pobre Bino! Pobre Chumbinho! E agora?
Manooooo
ResponderExcluirMuito massa
ResponderExcluirO Bino é o oferecedor poha
ResponderExcluirMiguel burro dos inferno
ResponderExcluirDunha
ResponderExcluiralguem 2020
ResponderExcluirNao acredito
ResponderExcluirMiguel burro
bino safado
ResponderExcluirparece queo Crânio é o único competente nessa história. O Chumbinho não podia ter dado um aviso mais convincente?
ResponderExcluirCilada Bino kk
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